Oscar Pistorius, corredor. |
Sempre, ou quase sempre, quando
ouvimos aquela conversa motivacional, algo meio lamechas, uma luz de alerta
acende em nossas mentes. E daí para ouvir, cá dentro do cérebro, o nosso Grilo
Falante particular a dizer um redondo: “Ah tá bom, lá vem o papinho furado do
querer é poder, do crer no tal do pensamento positivo”, demora muito pouco. E nos
dias em que a síndrome de São Tomé nos ataca, não há palavra de alento que não
receba uma torção de um nariz duvidoso. Eu sei.
Todavia, há momentos que nos
assombram e que mostram que o tal do crer, cega e teimosamente, pode
concretamente dar espaço a realizações humanas fantásticas que beiram o
milagre. Nestas Olimpíadas londrinas tivemos várias demonstrações de que a vontade,
a disciplina e a perseverança podem levar homens e mulheres a realizarem feitos
pouco prováveis para a maioria de nós. E, mas do que tudo, certo é que a crença
destes atletas em suas capacidades é, tal como o amor, cega feito toupeira.
Por isso, vemos um Hermes
moderno, negro e sem asas nos pés, que parece ter nascido para correr mais
rapidamente do que a velocidade do nosso pensamento. O rapaz monstruoso em suas
qualidades, Usain Bolt desafia a ciência e faz graça da nossa falta de
compreensão daquilo que para ele parece natural: ser mais rápido do que
qualquer mortal. Há também os chineses, um povo sábio e guerreiro de muitos
séculos passados, que hoje parecem querer provar que são perfeitos em tudo que
fazem e nos causam muita suspeita. Uma nação programada para ganhar medalhas às
dezenas, como pode ser?
Há mesmo países que investem
muito em seus atletas e, mesmo que a crença deles não seja menos valorosa por
isso, me parece que o fato desses países gerarem homens e mulheres geniais nos
soa um pouco rotineiro e mais fácil de compreender. Por isso, ver um Michael
Phelps tornar-se o homem que mais ganhou medalhas desde sempre, 21 no total,
quase que se torna banal porque, de certa forma, esperávamos isso dele. Todos
nós esperávamos que Phelps ganhasse mais algumas medalhas. E ele ganhou.
Mas, e há sempre um mas (como diz
convicto um bom amigo meu), aquele que provou que pode muito além do que
qualquer um poderia crer não ganhou nenhuma medalha. Não. Na verdade, ele
terminou a prova em último lugar e, apesar disso, mostrou-se grandioso como
apenas um milagre pode ser. O sul-africano Oscar Pistorius, que não tem pés e
parte das pernas, correu as finais dos 400 metros rasos para homens nestes jogos.
E a pergunta que não sai da minha
cabeça é: como um homem que é bi amputado desde os 11 meses de idade decide que será corredor olímpico? Que
loucura é esta? Não sei. Não sei mesmo como isso acontece. Sei, contudo, que este
foi o maior feito que eu vi nestes jogos e uma prova concreta de que a fé que
temos em nós mesmos pode realizar milagres sim. Acho que Pistorius nasceu com
uma alma cega que não percebeu que seu corpo havia perdido suas pernas e naturalmente, por tanto, decidiu que ele seria corredor olímpico.
Toda minha admiração a este homem
que mostrou que nada, nem mesmo nós mesmos, somos um obstáculo intransponível.
Um beijo e toda a fé do mundo
para vocês, meus queridos e crentes amigos.
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