Edifício Copan, Sampa. |
Muito antes de saber que arquitetura era uma profissão, ou
mesmo de ter a plena noção do que era estar viva, eu me espantava todas as
vezes que passava em frente ao Copan. Aquela onda gigantesca no meio da minha
cidade feita de retas que visam o céu encantava-me, e encanta-me até hoje. Sei
que não é a mais bela obra de Niemeyer e está longe de ser a mais conhecida, eu
sei. Contudo, todo paulistano o sabe bem, e sabe bem como ele parece fluir no
meio da cidade; nosso contraditório imóvel em movimento.
E hoje, pensando no Copan e no Seu Oscar, lembrei-me de um
amigo que briga comigo a dizer que o meu problema é achar que a vida é poesia,
e ela não o é. Pois, pior que achar que a vida é poesia, creio mesmo que a vida
verdadeira, aquela que vale à pena, é feita, concretamente, dela. Afinal, que
graça tem a vida, que importância nós daríamos a ela, sem toda a poesia que a
constrói dia-a-dia?
Engana-se quem pensa que poesia faz-se apenas com palavras e
em momentos mastigados e remastigados até que se tenha algo perfeito, que ela é
coisa de muitas horas de estudo e de um conhecimento profundo de uma gramática
qualquer. Claro que não! Poesia faz-se com a alma, com a intenção de por vida
nesta vida que, se deixarmos, torna-se tudo menos viva e verdadeira.
A poesia está em imagens como Guernica e também nas fotos de
nossas crianças em momentos de cara suja de chocolate e sorriso sem igual. Ela vive
nas palavras tão genialmente utilizadas por Pessoa e nas músicas de Chico, mas
também está presente no grito de uma nação num campo de futebol e num bilhete de
amor tímido, e às vezes mal escrito, que se deixa de surpresa e que emociona a
quem lê.
Poesia pode ser vista nos cabelos trançados das meninas e em
tatuagens que mostram na pele o que passa pela alma da gente, mesmo que não se
dê para estas coisas o mesmo valor que se dá para uma joia ou uma gravura expressionista.
E ela também se apresenta nos passos de uma bailarina tal como nos movimentos
dos meninos mostrando um pouco da cultura hip hop.
Há muita poesia em nossa vida, e a fazemos todos os dias
mesmo sem querer e perceber. E eu tenho os meus momentos poéticos preferidos:
como o abraço de muitos minutos que eu ganho do Pedro quando nos revemos depois
de um longo tempo distantes. Não há como expressar em palavras o que sinto no
momento em que ele pula no meu colo e lá fica por um tempo que me parece
infinito a me abraçar com amor.
Há muita poesia em tudo que o Sr. Oscar Niemeyer criou, mesmo
que a matéria usada tenha sido o concreto ou o cimento. E creio que esta é a
lição mais importante que ele nos deixou: temos que fazer poesia, que fazer a
nossa vida mais bonita e viva.
Um beijo e boa semana para todos vocês que fazem da minha vida
um poético épico particular.
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