Como dantes já ocorrera, cá está mais
um fim do Mundo previsto a bater em nossas portas, numa nova falácia tão velha
quanto a humanidade que escancara a nossa mania, um tanto quanto masoquista, de
apreciar um sofrimentozinho que não chega a matar, aquele drama que dói sem machucar
e que ninguém leva a sério. Se bem que
haverá sempre os mais maluquitas, os pré-dispostos a acreditar em qualquer
bobagem que lhes digam, prontos a cometer suicídios em nome de não enfrentar o
derradeiro final. Uma incongruência tão absurda que não se pode compreender, ou
há algo mais sem sentido do que se matar para evitar a morte certa?
E entre a graça e as dúvidas que
a ideia do fim-do-mundo pode criar, é certo que ela nos faz pensar em
aproveitar melhor a vida. Não há quem não pense, pelo menos por farra, no que
faria em seus momentos finais. Pois, não é que nos diverte o pensar em como aproveitaríamos
as últimas horas que nos restam. E, a partir daí, a tal ideia do final fatal
não nos parece algo tão mal assim. Afinal, se ele serve para que pensemos no
que andamos a fazer com o nosso tempo com mais interesse e atenção, não é que o
fim do mundo é algo que faz um bem sem igual.
O tal fim-de-faz-de-conta também
nos ajuda a pensar nos porquês de termos, com poucas exceções, tanto medo de
todo e qualquer final. O fim de namoros e casamentos nos apavora, a mudança de
cidade ou de país pode ser fatal, a quebra da rotina assusta a muitos e, dizer
o quê da morte individual e rotineira que nos aguarda, certa, em nosso verídico
final? Para muitos o maior medo de todos.
Contudo, e se pensarmos que sem
os finais não poderíamos ter, sem medo de uma previsão equivocada, qualquer
novidade ou recomeço, ter medo de qualquer final nos soa tão tolo quanto crer
que no próximo dia 21 de dezembro algo sobrenatural realmente acontecerá. E, muito para além da certeza de que não
teremos o tal final global, é certo que o Mundo que hoje conhecemos não será
exatamente o mesmo daqui a algum tempo e, sendo assim, temos que aceitar que
tudo, um dia, terá o seu final. E a nós,
resta-nos saber usar e abusar do tempo que temos por aqui da melhor maneira que
se possa fazer.
Por um acaso da vida, e sem quaisquer
previsões, estes meus últimos dias na azul Terra me sairão muito bem. Será um
tempo com os mais antigos e queridos amigos e a família, a hora de abraçar pela
primeira vez o meu sobrinho Nicolas; e um momento para aproveitar o tempo, para
passear, ver a minha cidade e namorar. E alguém pode pensar em coisas melhores para se fazer nesta
vida?
Um beijo para todos, e que o fim
do tal fim seja trazer um bom e fresco recomeço.
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