domingo, 7 de julho de 2013

Pedaço de Mim


De repente somos adultos, donos de tudo, completos e independentes de quaisquer outros seres para viver. Não precisamos mais de ninguém. Certo? Bem, apesar de ser isso que vislumbramos durante anos até a tal da idade adulta chegar, nada está mais distante da realidade que esta imaginação de que, um dia, seremos um ser, em e por nos mesmos, completo. E, por esses dias, com o Chico Buarque a cantar no meu computador, a canção “Pedaço de Mim” tomou uma proporção diferente, mais real e ampla do que eu gostaria de reconhecer. Mesmo sem pensar no amor romântico tal Romeu e Julieta, não há como não perceber que na tal vida adulta somos o oposto de um ser completo. Somos um quebra-cabeça de partes que não nos pertencem, e que nunca estão todas juntas. Somos quem somos porque em nós há muito, uma parte imensurável, dos outros.

Imagino que deva haver o indivíduo completamente independente. Sim, deve haver pelo menos uma mão cheia deles por aí a ser feito o vento e não precisar de ninguém para correr sem limites nem fronteiras pela vida. Um ser que vá em frente sem se importar se e quem ele carrega consigo; posto que sua natureza é o fluir independente de tudo e de todos que surgem à sua frente. Deve haver. Mas para mim, e creio que para a maioria de nós, quando finalmente somos os donos de nossos próprios narizes, percebemos que não somos mais os donos de parte alguma do corpo. Notamos que sempre nos faz falta um outro par de braços para os nossos abraços. Não podemos abraçar sozinhos, não podemos beijar sozinhos e, pior e mais cruelmente ainda, a bem da verdade não nos serve qualquer par de braços e lábios. Não senhor. Apenas nos servem aqueles que para nós foram feitos, apesar de eles serem parte de outros corpos. Queremos os braços dos amigos, da família e dos amantes; amores de toda uma vida.

E este é um querer, um bem querer, sem fim que incomoda feito espinho no dedo ou comichão no meio das costas. Não dá para ignorar. Claro que há momentos nos quais queremos estar sós, vários deles. Contudo, a verdade é que a razão da nossa vida jamais será encontrada dentro de nós mesmos. Não vivemos apenas para nós mesmos, vivemos para com os outros criarmos o que chamamos de vida. Mario Quintana escreveu: “Amar é mudar a alma de casa.”, e creio que ele está certo. Nossa alma não nos pertence completamente, e acrescento que ela, por causa do amor, move-se. Busca ampliar-se e melhorar no afã de completar-se; apesar de saber que sempre será assim: uma alma onde falta uma parte; várias partes.

Então chegam os filhos, vindos do ventre ou não, e aí percebemos que não nos faltam uma ou várias partes, não. Com os filhos percebemos que nos falta o todo, o tudo; que por eles somos capazes de matar e de morrer; capazes de tudo. Por causa dos filhos muda o mundo, nós mudamos, mudam até os significados das palavras que antes críamos dominar. O medo e a coragem se agigantam, a saudade vira sinônimo de infinito, e o amor explica-se, pleno, em si mesmo. Porque os filhos não são uma parte de quem somos nós, de modo algum. Nós é que somos uma parte deles e a eles pertenceremos para todo o sempre.

Um beijo e um abraço para todos, que ando a sentir umas saudades de matar da família, dos amigos e dos amores antigos.


Amar é mudar a alma de casa

Amar é mudar a alma de casa,
é ter no outro, nosso pensamento.
Amar é ter coração que abrasa,
amar, é ter na vida um acalento.

Amar é ter alegria que extravasa,
amar é sentir-se no firmamento.
"Amar é mudar a alma de casa",
é ter no outro, nosso pensamento.

Amar, é aquilo que embasa,
é ter comprometimento.
Amar é, voar sem asa,
e porque amar é acolhimento,
"amar é mudar a alma de casa"

- Mario Quintana, in "Apontamentos de História Sobrenatural".


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