Já fazia algum tempo que não
escrevia nada, e a saudade andava a cutucar-me todos os dias. A verdade é que o
silêncio se dá porque ando a trabalhar muito, e a sentir quase nada. Sem sentimentos
não há palavras para mim, c’est la vie. Não que a falta de sentimentos tenha
qualquer relação com a quantidade de trabalho, claro que não. Contudo, esse ano
começou assim: comigo a tentar deixar o que passou passar e com muito trabalho.
Uma combinação perfeita para quem quer esconder-se, e ando, deliberadamente, a
evitar o quanto posso quaisquer espécies de sentimentos. E o trabalho me parece
uma desculpa extremamente convincente para tal, quase confortável. Não?
É bem verdade que nunca fui boa
com isso de sentir, de compreender e lidar com os meus sentimentos. Ou eles me
dominam ou eu os sufoco, não há meio termo. Uma verdadeira porcaria, fazer o
quê? “Terapia!”, diria um amigo meu. Pois, ando a concordar com ele. Mas o que
eu queria mesmo era uma boa viagem pelo mundo, pôr meus pés em Europa mais uma
vez, estar com meus amigos num bar. Ver gentes e lugares que nunca vi na vida.
Conversar longamente.
Contudo, ontem, de forma singela,
como deve mesmo ser, abraçaram-me os tais sentimentos mais uma vez. E, por
isso, cá estou eu, hoje, com meus dedos tagarelas a falar. Esse foi um sábado
de meninas comigo e minha sobrinha, Gigi, a passear pelas vitrines e comprar
coisas um tanto inúteis, a tomar um café no meio da tarde na livraria enquanto
conversávamos sobre uma porção de coisas, e a assistir a um bom filme.
Tudo foi bom, ótimo para ser mais
exata, já que poucas coisas nesta vida me fazem mais contente do que estar com
meus sobrinhos e afilhado. Se há algo bom de verdade na vida, isso é vê-los
crescer, sem sombra alguma de dúvida. Pois, no meio do filme escolhido pela
Gigi, “A Menina que Roubava Livros”, estou eu, como de costume, a chorar no
cinema. Sou patética e choro até em desenho animado, vale lembrar. Parece-me
que basta apagarem as luzes e fazer-se qualquer “draminha” que eu choro; uma
pamonha mesmo.
Bem, lá estava eu a chorar quando
percebo que a pequena chorava também. Sei que ela não compreende ainda a beleza
e a importância de algo que parece tão banal. Entretanto, mais do que tudo que
eu vi na tela do cinema, emocionou-me ver a menina, que eu vejo crescer desde
bebê, a chorar a meu lado no cinema pela primeira vez. Logo ela não será mais
uma menina, ou melhor, logo para ela, como é para mim, a menina viverá
escondida num corpo de mulher feita. Apesar de querer parar o tempo, em alguns
momentos, o fato é que não vejo a hora de vê-la mulher. Será linda e espero que
choremos muitas vezes juntas numa sala escura de cinema.
Um beijo a todos, estava com
saudades.
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