Por mais que não queiramos, não
conseguimos evitar e somos repetitiva e humanamente previsíveis em tudo que
fazemos. Vira e mexe perguntam-me se prefiro São Paulo à Fortaleza, tal como
minhas tias quando eu era menina me questionavam sobre quem eu mais amava nesta
vida, minha mãe ou meu pai. E vamos e venhamos; isso é lá pergunta que se faça?
Ô coisa besta, não?
E, apesar de sempre tentar ser o mais
politicamente correta que sei ser, (o que não é muita coisa, sei disso),
parece-me mais do que óbvio que não há como comparar as duas cidades mesmo para
quem não tem nenhuma ligação afetiva com elas, pois são muito distintas e fazer
um julgamento de qualidade será sempre algo subjetivo.
Contudo, não há como negar: sou
paulista e paulistana e amo, mais do que qualquer cidade neste mundo, aquela
que me viu crescer. É claro que gosto muito mais de São Paulo do que de
Fortaleza, e isso não se discute. Contudo, também não se discute que tenho
fortes razões para viver em Fortaleza e que minha morada não tem previsões de
mudança por enquanto. C’est la vie!
Porém, tal gostar escancarado e
descarado não tem relação alguma com o fato de uma cidade ser melhor do que a
outra, não mesmo. A verdade é que em nós há muito do tudo que vivemos e o lugar
onde crescemos estará sempre no cerne daquilo que nos constitui. Eu, por este
princípio, sou muito do que é São Paulo.
Durante estes dias aqui, em
Sampa, perto da família e dos amigos que trago comigo por dezenas de anos,
ouvindo sambas de Adoniram Barbosa, percebo tão claramente esta minha essência e
sinto-me em casa. Sei quem sou e o que sou. Sei que sou o samba à italiana com
sotaque paulistano, que trago comigo a garoa e os dias cinzentos na alma; e que
a introspecção típica de quem é desta terra me constitui. Sou a falta de classe
e alinhamento típica das nossas ruas, o pastel de feira que é sempre feito por
um japonês e as conversas sem fim sobre política e futebol nos bares e padarias;
as padarias que sempre pertencem aos portugueses. Sou as cantinas dos italianos,
os festivais de jazz e blues, o rock pesado, o hip-hop social e as muambas dos
libaneses e coreanos; sou o trânsito sem fim e sem solução desta capital.
Ser paulistano é ser brasileiro e
ter suas origens em outros países numa mescla típica dos aqui nascidos, somos
sempre uma mistura de pedaços de gentes que vieram para cá em busca de algo melhor
e que deram origem a este povo que tem uma identidade universal. Qualquer um é
paulistano, ou pelo menos poderia ser, porque não temos uma cara definida e
somos, literalmente, qualquer um. Nós somos europeus, africanos, japoneses,
judeus, muçulmanos, mineiros e cearenses, como eu sou, hoje em dia, um pouco também.
Nenhum comentário:
Postar um comentário