Bowie
Eu estava séria e definitivamente decidida a escrever sobre o
tal desmanche do Corinthians, meu time de futebol de coração e alma. Tal absurdo ocorrido com o meu time foi uma
verdadeira tragédia de início de ano para mim, apesar de todos os outros pesares.
Apesar de haver coisas muito mais importantes na vida, de haver problemas mais
sérios e reais. Eu sei! Mas, aos diabos, é do meu time que falamos. Sabes? O tal
circo que aplaca os meus problemas, que alimenta as minhas ilusões, que me faz
esquecer as porcarias com as quais temos que viver. Pois, isso é o Corinthians
para mim, minha ilha da fantasia particular e, ver uma bomba atômica chinesa despedaçar
meu paraíso foi agoniante.
Pois, estava. Estava porque tudo mudou com a morte de David
Bowie. Como assim ele morreu? De quê? Por quê? De repente? Não, não foi tão de
repente assim pelo que se sabe hoje e, pelo que eu sei hoje também, se eu fosse
uma heroína dos quadrinhos, dessas que tentam salvar a humanidade todo santo
dia, o meu arqui-inimigo oficial já teria sido eleito, o tal do danado do
câncer. Eita mal que não tem fim este, não?! O Sr. David Bowie foi vencido pelo
câncer e o meu Mundo, aquele que eu conheço desde que me conheço por gente,
diminui mais uma vez.
Mais do que um músico, o Sr. Bowie era um personagem, uma
persona mítica que não se classificava muito bem na categoria simples mortal e
que, portanto, não deveria simplesmente morrer. Ele povoou com sua música, suas
identidades, sua falta de pudores hipócritas e suas caras toda a minha vida. Para
mim não havia mundo sem a música de David Bowie desde os anos 70 e eu me
assustei com a notícia de sua partida como me assustei, há mais de trinta anos
atrás, com a morte de Lennon. Como me assustou a perda de Elis e a partida de
Jobim; como me assombrou o fim precoce de Renato Russo e Chico Science.
É verdade que muita gente boa está a surgir na música sempre,
eu sei. Mas pessoas como David Bowie, John Lennon, Tom Jobim e Michael Jackson,
entre outros, são únicos no que fizeram porque eles influenciaram o mundo da
música e a nossa cultura para sempre. O mundo não é o mesmo depois da passagem
deles, de maneira alguma. E neste quesito, no quesito trazer à tona novidades, no
que tange à quebra de velhos paradigmas e da criação da próxima fase deste jogo,
o Sr. Bowie foi mestre. O tempo tem lá as suas crueldades a devorar lenta e
irremediavelmente a todos os homens; Chronos, o criador de lendas.
Na última sexta-feira, ouvi ao novo disco de David Bowie em
seu dia de lançamento. Blackstar foi a trilha sonora do meu dia sem cerimônias
e com muita curiosidade. Já havia visto o vídeo do primeiro single e queria ver
o que mais o eterno mutante nos tinha dado.
E hoje, alguns dias depois, emociona-me profundamente reconhecer o
esforço deste homem para produzir música e poesia até os seus últimos dias
apesar de todos os pesares. Apesar da dor e da certeza de que o fim estava a esperá-lo
na esquina. Mais que um mito da música, de agora em diante para mim, David
Bowie será um homem a admirar para sempre.
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