TransBrasil
Por algum motivo
que nos foge à compreensão, um defeito de fabricação do protótipo humano quiçá,
nos interessa a vida alheia como não deveria ser. Sem atinar nos porquês desta
mania tão estéril, para além da razão primeira pela qual gostamos de comentar a
vida dos outros, me parece que a falta de vida na nossa própria vida faz mesmo com
que espichemos olhos e metamos narizes onde não somos chamados.
Este hábito feio
e sem fundamentos alimenta a nossa curiosidade em saber uma porção de coisas
que não nos dizem respeito e que, jamais à tarde, farão diferença d’alguma
relevância em nossa existência. O porquê de sermos tão ávidos por nos
intrometer na vida dos outros, apenas Deus, creio eu, um dia poderá nos
segredar. Entretanto, tenho cá para mim que este é um teste no qual,
desavergonhadamente, não passamos. Uma armadilha para checar se a humanidade já
aprendeu o que vem a ser um ser-humano. Pois, falhamos tristemente.
Claro que há
intromissões muito distintas e que têm reflexos muito diferentes na sociedade e
na condição do indivíduo inserido nela. Há, por exemplo, a curiosidade parva de
alguns pela vida de ricos e famosos que nada de útil produzem, produziram e/ou
irão produzir em toda sua vida, mas isso nada mais é do que aquilo que em si
mesmo encerra: uma tremenda parvoíce de quem tem tempo de sobra.
O problema
torna-se muito sério, entretanto, quando imaginamos que temos o direito de
exigir que as pessoas se comportem de uma determinada maneira e que podemos
ditar, tal Deuses supremos da sabedoria, o que é certo fazer ou ser nesta vida.
Pois, não temos, já que nunca nos foi dado, o direito de dizer como as outras
pessoas devem ou não ser. Temos sim o livre arbítrio, que nos confere o poder
de fazermos as nossas próprias escolhas e o dever de respeitar as escolhas
feitas pelos outros.
No último dia 29
tivemos o dia da Visibilidade Trans para lembrar-nos de que os direitos civis de
cidadãos brasileiros transgêneros não são respeitados cotidianamente apenas
porque eles decidiram exercer um direito que é inerente à condição humana: usar
seu livre arbítrio para decidir quem eles são.
Apesar de soar
estranha a afirmação de que alguém corre risco de vida apenas por decidir de
quem ela gosta, quem ela é ou como ela vai se vestir hoje, esta é uma realidade
sombria de um país que se crê muito mais gentil e carinhoso do que ele
realmente é. Pois, o Brasil, que é um país violento para todos nós, mostra suas
garras de maneira mais feroz contra alguns de nós apenas porque somos como
somos: por nossas crenças, nossa pele, a quantidade de dinheiro que guardamos
no banco e carregamos na carteira, por nossa opção sexual, e etc. e tal.
Não sei se há
muito a comemorar e se podemos dizer que a situação tem melhorado, já que os
índices de violência têm crescido contra homossexuais e transgêneros; como
contra quase todo cidadão brasileiro. Porém, é fato que todos os dias muitos
meninos e meninas corajosos colocam a cara na rua e não deixam mais suas opções
trancadas em armários. O jovem
brasileiro não se esconde mais, como se escondia quando eu era uma menina, e isso
é muito bom, mesmo; de verdade.
Basta agora que
todos nós compreendamos o nosso papel, que é bem simples e fácil, nesta estória:
Nós temos que respeitar e lutar, todo santo dia, pelo direito de cada um.
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