O Mundo de marcha à ré
Hoje li que Donald Trump é a nova
face dos republicanos americanos. Pobres republicanos, pode-se pensar. Afinal ter
Donald Trump como seu representante oficial, ou mesmo extraoficialmente, é no
mínimo uma grande vergonha. Contudo, não apenas muitos e muitos republicanos
têm pesadelos nos quais o Sr.Trump figura como o próximo presidente dos EUA,
mas também todo ser humano com um mínimo de compreensão da importância deste
cargo; do que vem a ser o presidente dos Estados Unidos. Sim, Mr. Trump no
comando de um país com o poderio bélico que têm os EUA nos dá calafrios n’alma.
Pobre de nós!
O fato é que o que antes parecia ser
uma piada tola: ter um completo falastrão ignorante, preconceituoso e com
rasgos ditatoriais no comando de uma das maiores potências em nosso mundo, torna-se
uma piada de muito mau-gosto ao passo que ela ganha, a passos galopantes, reais
chances de tornar-se o nosso futuro. E de um repente absurdo George Bush filho,
tão pouco bem quisto no mundo enquanto governava a nação dona das Américas, ganha
contornos de presidente dos sonhos, quase um Abraham Lincoln moderno quando o
colocamos ao lado do Sr. Trump. Como chegamos aqui? Como chegamos a uma
situação onde a Grã Bretanha sai da comunidade Europeia, onde muros são construídos
para separar países, onde Putin reina na Rússia e a laicidade do governo da Turquia
se desfaz, onde Donald Trump tem chances de tornar-se o próximo presidente dos
EUA?
Em 1989 eu vivia a minha adolescência
e vi extasiada a queda do Muro de Berlim. O Mundo se expandia, fronteiras eram
abertas, o mundo começava a se conectar mais velozmente e o futuro parecia
muito promissor. A ciência e a tecnologia avançavam velozmente e uma nova era
das luzes parecia aproximar-se. A democracia havia voltado ao meu país e à
América Latina em geral, Mikhail Gorbachev trazia a Glasnost e a Perestroika à
Rússia, os Protestos na Praça da Paz Celestial foram vistos ao redor do mundo e
a China começava a abrir-se para todos nós. Em 11 de fevereiro de 1990 Nelson
Mandela era libertado e eu estava certa de que a humanidade caminhava a passos
largos na direção correta.
Pois, estamos em marcha à ré
feroz quase 30 anos depois. E mesmo sabendo que a menina que eu era em 1989
tinha ainda muita fé na humanidade e, portanto, era ainda muito inocente, tola
mesmo; ainda hoje não consigo atinar em como chegamos a este ponto tão ruim de
nossa História. Como perdemos a chance de fazer a vida melhor para todos nós? Por
que ao revés disso criamos um mundo onde os privilégios para poucos e as
injustiças para muitos cresceram e crescem? Por que continuamos a vender o que
temos de mais caro, a nós mesmos e aos nossos, por dinheiro?
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