Um Absurdo
Há uma semana escrevia sobre a
vitória do Palmeiras sobre a Chapecoense depois de assistir ao jogo que definiu
o campeão do Brasileirão deste ano. De um lado meus adversários de toda a vida,
do outro um time pequeno e que ganhara a simpatia de todo brasileiro, que gosta
de futebol, por sua história e pela garra que apresentava desde sua ascensão à
primeira divisão do futebol brasileiro.
A Chape era, e ainda é, como um irmão
menor, o caçula brioso do nosso campeonato e me agrada demais da conta, como a
toda a gente, vê-la vencer e superar aos
grandes do futebol. (Menos ao meu Corinthians, claro!) Foi inenarrável ver o
guarda-meta Danilo a defender quatro pênaltis no jogo contra o Independiente da
Argentina meses atrás na Copa Sul-Americana. Amei ver a fumacinha verde de “Habemus
Finalista” a marcar a passagem da Chapecoense para a final do campeonato,
deixando o São Lourenço, time do Papa para trás.
E no domingo, dia sagrado e
sacramentado ao futebol, eu me programava para ver a peleja da quarta-feira
seguinte enquanto assistia a uma divertida participação do treinador da
Chapecoense, Caio Júnior, na TV. Torceria pela Chape, (claro2), pois queria
muito ver algo inédito no mundo da bola: a Chape campeã de um torneio
importante e classificada para a Libertadores em 2017. Afinal, como não se
apaixonar por nosso Leicester tropical? Últimos jogos do ano no Brasil, a semana
prometia ser cheia e decisiva para muitos times e a abstinência posterior de um
mês sem jogos já começava a me chatear.
Então, chegou a inacreditável
manhã da última terça e o coração parou assustado por alguns segundos. Como assim?
Como podiam todos aqueles meninos que eu vi correndo atrás da bola menos de 48
horas antes, e muitos outros, estarem mortos? Isso não estava certo, não era
justo. Não podia ser verdade. Era surreal demais e, portanto, não podia ser
real. Era absurdo demais para ser verdade, mas era. E deu-me aquela vontade que
me dá diante das tragédias: queria que o tempo pudesse voltar para trás.
Muitas coisas aconteceram nesta
semana. Algumas delas muito mais importantes para o país e seus cidadãos do que
o futebol. Eu sei. Sei que os nossos queridos canalhas de plantão em Brasília
não respeitam vivos e mortos e andaram a fazer das suas na calada da noite.
Gente de pouco caráter e nenhum coração. Contudo e mesmo assim, falar de
futebol ainda me pareceu muito mais importante. Falar de meninos comuns e que
gostavam de correr atrás de uma bola e que tiveram um destino cruel apenas pela
irresponsabilidade e a ganância de homens me parece muito mais importante.
Agora, cá dentro, fica um vazio
estranho e um punhado de dúvidas que espero sejam respondidas. Por que uma
empresa de viação aérea tão mal estruturada era indicada pela Conmebol aos
times sul-americanos? Que grande influência era essa junto a Confederação Sul-Americana
de futebol?
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