O Bufão sobe ao Trono
Por hábito, e por haver um bom
fundo de verdade nisso, há anos chamo o presidente dos Estados Unidos de “o
presidente do mundo”. E se esta sempre
foi uma piada de mau gosto em certa medida, afinal mostrava com tom zombeteiro,
porém subserviente, o meu reconhecimento de quem eram os donos do mundo como o
conheço; do meu mundo americano principalmente. Nesta semana a tal brincadeira
jocosa terá seus graus de gravidade e seriedade elevados a uma potência
gigantesca. Nesta semana Donald Trump será coroado rei do mundo e isso não tem
graça alguma, pois que a comédia num exagero histriônico tornou-se, após uma
curva mal feita à direita, uma súbita tragédia.
Claro que não faltam problemas
muito sérios em meu país que mergulha de cabeça numa instabilidade social e
econômica ímpares, e estas deveriam obter todo o meu foco e atenção. Sim,
sobram-nos mazelas domésticas há muito conhecidas e agravadas paulatinamente
pela ineficiência com a qual nos gerimos há muito tempo, ou desde sempre, como
nação. Verdade. Entretanto, ver o Sr. Trump, um fanfarrão contumaz, a assumir a
presidência dos Estados Unidades após os dois mandatos do sempre gentil,
correto e elegante, além de muito carismático, Obama, dói-me n’alma.
Não é nada gratificante perceber que
um homem com nenhuma inclinação ao altruísmo, que antes de tudo e mais nada se
preocupa apenas com o que versa sobre o seu umbigo e que demonstra um verdadeiro
desprezo pela humanidade no geral será o presidente de um país com tanto poder
e influência sobre tudo o que se passa neste planeta. Muito para além disso,
fica por cá a dúvida de como uma grande parcela da população americana pôde
crer num homem que faz da falácia um hábito, e do deboche um lema. Falta de
discernimento e informação ou uma crítica radical ao atual establishment? Seja
lá qual o real motivo que levou a esta escolha tão esdrúxula, creio que houve
um erro de julgamento fatal.
Arrogante o bastante para não
perceber suas limitações, ademais de muito preconceituoso, o Sr. Trump prega
uma política econômica protecionista e nacionalista que já não tem mais lugar
no mundo moderno. Engodo este, aliás, muito utilizado por aqueles que querem
convencer aos milhões de cidadãos com palas nas vistas. Afinal, não há nada mais
fácil e cômodo do que buscar nas minorias, nos estrangeiros e em outros países
todos os motivos para a falência da economia doméstica de cada um.
Muito ao revés do que prega o recém-eleito
presidente americano, o fato é que os Estados Unidos perderam seu papel hegemônico
na política mundial e veem, pouco a pouco, chegar ao fim seu status de superpotência
econômica única. Quiçá muito mais brevemente do que imaginávamos com a ajuda do
grande magnata da esperteza que poderá fazer muita coisa em seu país, contudo,
não irá fazer a “América” grande outra vez.
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