O Medo Maior
Entre todas as
coisas que não deveriam acontecer neste mundo se, além de muito bonito, ele
fosse também justo, penso que as crianças não deveriam sofrer em tempo algum. Eu, se tivesse um poder do tipo que abre mares
ou decide destinos, escolheria proibir terminantemente que qualquer criança
sofresse. E não importaria o sofrimento: nada de guerra perto dos miúdos, nada
de adultos perturbados e que não as protegem, nada de doenças sérias. Nadica de
nada de mal aconteceria a todas as crianças; simples assim.
Se o mundo assim
fosse, o tamanho da paz que nós sentiríamos seria de uma enormidade obscena. Saber
que nenhum mal alcançaria aos nossos pequenos seria mais do que bom; seria
divino! Para mim seria o final do meu medo maior, do fato que concretamente me
aterroriza mais do que tudo nesta vida e que me traz um nó cego à garganta. O sofrimento
dos meus miúdos me destrói. Aliás, e sendo honesta, apenas a ideia dele já
causa um estrago considerável em mim.
Por estes dias
um dos meus miúdos adoeceu. Algo um tanto sério e que requereu uma pequena cirurgia
para a correção do tal problema. Cirurgia um tanto simples, de fato. Contudo, o
fato é que me apavorei. De um repente que não me é muito comum, senti-me como
uma banana mole, um ser aparvalhado. A testa franziu e assim quedou-se por dias,
a cabeça deixou de pensar, o coração sentiu-se ferido. Tudo isso porque um
buraquinho seria aberto no abdome do meu Dieguito; e eu, egoistamente, não
quero que buraquinho algum seja feito em qualquer dos meus miúdos. Jamais!
O pequeno está
bem, e o meu medo sem fundamento quase desapareceu por completo. Quase... Porém, esta coisa toda, tão simples
no final, me fez perceber o quanto amo aos filhotes do coração. Sobre o amor
desta vida, costumo dizer que ele é um pedaço de mim que “anda”, independente,
por aí. Sobre as minhas crianças compreendo e sinto que sou um pedaço delas, e
que não há qualquer independência possível aqui. Dos meus miúdos sou,
completamente, dependente.
Aos amores desta
vida.
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