A saga ínfima da borboleta
Ana achara
bonito ser borboleta a encantar aos olhos de quem ao longe a observava. Havia algo
de poético em todo o mistério daquilo que não se poderia ter em tempo algum. Algo
que desde a distância se admira mas que, apesar de todos os poréns e os entretantos que as mentes criativas possam imaginar, jamais se poderia
ter. Algo raro; algo delicadamente caro.
E assim, munida
de muitas cores, a menina deixou-se levar pelas luzes da lamparina que ao longe
ela acreditava encantar. Voos acrobáticos e poemas desleixados; com toda a
coragem do mundo contida em poucos centímetros de um pequeno ser alado, Ana aceitou,
sem qualquer pudor, todos os sentimentos que sentia.
Sem necessidade
alguma de uma qualquer comprovação que à lógica muita falta faria, quiçá porque
a lógica não pertença, por essência, ao “métier” do existir das borboletas. Ana,
transformada pela sua experiência kafkiana tropical, caminhou,
mulher-borboleta, em direção à luz sem piscar; atenta e enlevada.
Por anos, em sua
busca que em muito às cruzadas se assemelhava, a borboleta atravessou
florestas, sobrevoou montanhas, cruzou o mar e perdeu-se por ruas de cidades
por ela desconhecidas para enfim, depois de muito querer, próxima à luz estar. Encantadora
luz que de perto ainda mais a encantava, tão rara.
Porém,
transformada em borboleta, durante a longa jornada a menina não percebera
claramente o que ali se passava. Ana ignorou a todas as regras e leis que a natureza
da realidade nos mostra a todo instante e todo santo dia. A borboleta, para a luz, não seria, jamais,
nada para além do que ela veramente era: apenas um inseto bonito que, por
instantes se admira antes de seguirmos, sem apegos, adiante.
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