domingo, 16 de dezembro de 2018

Afogada



Afogada


Submersa num oceano de gentes
te encontro
hipoteticamente. Num canto à esquerda do carro do metrô
estás recostado na parede de metal a pensar.
Sim, tu poderias muito bem estar aqui.
Não estás.
Estão milhares de pessoas que passam apressadas,
olhos nas telas de seus mundos infinitamente
individuais.
Vejo a todos os tipos de gentes que neste planeta nos representam
em poucos metros quadrados
porque minha cidade é muito maior do que o mundo que muitos conhecem.
Maior do que muitas terras,
somos mais  de doze milhões de mestiços,
homens e mulheres sem casta e
de raça indefinida somos todos tão parecidos... Únicos.
Todos mudos seguimos,
a ver a vida caminhar unidos pelos democráticos tuneis de concreto.
Imagino como será a vida de cada um deles, o que fazem,
se me veem.
Eu, provavelmente, nunca mais verei a qualquer um destes rostos
alguma vez mais e,
mesmo assim,
me interessa tanto observá-los e guardá-los delicadamente na minha memória.
Eles são parte de quem sou eu; a minha realidade
e me invadem a alma curiosa,
observadora,
calada.
Invadem minha alma e ela se afoga com a enchente de gentes.
Enchente que contrasta
cinicamente com a secura da tua ausência perene.
Sim, poderias estar aqui.

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