Sugestão de leitura para as moças em moda no Brasil |
Sobre a invenção da máquina do tempo em terras tupiniquins e
d’outras tribos
Entramos no ano
de 2019 não faz muito, verdade. Contudo, esperava eu novidades com a vinda do
tal ano novo em folha. Novidade que fossem compatíveis com os tempos que
vivemos, afinal já passamos quase duas décadas da entrada no novo século e o
tal século XX já nos soa como algo deveras remoto. Entretanto, ao revés disso,
a impressão que tenho é a de que devemos ter entrado numa espécie de túnel do
tempo, um buraco de minhoca qualquer, que nos trouxe de volta a tempos já há
muito passados. Acho que estamos, sem muito perceber, presos num “revival” de
mal gosto dos anos 50 ou 60.
Pois, devemos realmente ter inventado uma máquina do
tempo e nela nos metido sem muita precaução e aviso. Se não, como explicar o
tipo de discurso e discussão que temos tido a partir do dia 1º de janeiro? Como explicar as discussões sobre a ameaça
comunista e socialista no Mundo e em Terras Brasilis? Como entender que da boca
da Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos brasileira tenha saído algo
tão anacrônico e sem qualquer sentido como: “as meninas vestem rosa e os
meninos vestem azul.”?
Devemos esperar
o quê de agora em diante: uma cartilha para que nós mulheres saibamos como
devemos nos comportar e agradar aos nossos adorados esposos? Ou que a homossexualidade
volte a ser considerada uma doença mental e quiçá um crime em nosso país? Voltaremos
aos tempos nos quais nós, meninas, não tínhamos direito a usar calças e ao
voto?
Bem, vivendo no país
que sustenta o 5º lugar no planeta em mortes violentas de mulheres apenas pelo
simples motivo de sermos mulheres, não consigo perceber este mundo rosa no qual
habita a tal senhora que, infelizmente, é uma Ministra de Estado. Muito para
além da questão feminina, quando falamos de Brasil, falamos de um país onde as
noções de cidadania e de respeito para com os outros indivíduos é parco. Vivemos
num país onde os direitos dos cidadãos são pouco respeitados cotidianamente e,
sendo assim, não acho razoável que um Ministro dos direitos humanos ajude a
reforçar estereótipos equivocados e anacrônicos sobre como deveríamos ser. Não?
A verdade é que
todo esse barulho sobre cores, bem como a tal ameaça comunista vinda de uma
realidade que já está morta a mais de trinta anos, só fazem sentido se
pensarmos nos motivos pelos quais tais discursos e conversas nascem. Bem, eles
nascem apenas para criar dicotomias inexistentes entre supostos oponentes. Para
gerar um mundo fantasioso de mocinhos e bandidos onde a luta do bem contra o
mal é a única coisa que nos interessa; para que nos esqueçamos de todo o resto.
Afinal, qual a finalidade de termos heróis e salvadores da pátria se não
tivermos os nossos terríveis inimigos a combater?
Panis et Circus,
brasileiros. Habemus Cesar!
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