Logo no começo
do ano disse por cá que este 2019 seria o mais triste ano de todos os tempos
para mim. Bom, talvez eu tenha sido um tanto quanto prematura no julgamento pois
que ainda nos faltavam mais de 9 meses pela frente; e em 9 meses muita coisa boa
se faz. Fato. Fato é que muita coisa boa se fez, com
certeza. Contudo, o volume da desgraceira não nos deu trégua e isso deprime
qualquer ser vivente. Afinal, viver num
país violento e em pé de guerra, onde se busca relativizar a gravidade da morte
de pessoas no meio da rua, não poderá jamais ser chamado de algo bom.
O fato é que eu ainda
tento digerir o fato de que o Senhor Jair é meu presidente. Oh Céus... Oh
vida... Oh azar! E, sendo assim, além das merdas costumeiras com as quais nós havíamos
nos habituado, por algum tempo ainda teremos que aguentar um blá blá blá ideológico
belicoso e sem sentindo de um governo de capacidade intelectual medíocre. E para
mim tudo isso foi demais. Resolvi que estou de férias intelectuais do mundo,
ignorando as disputas político-ideológicas do planeta e a gastar meu tempo com
filmes, séries bobas e o futebol. “Panis et Circus” esse tem sido meu lema.
Ontem foi dia de
bola. Oh vida... Oh céus... Oh azar! (risos, porque rir de mim mesma ainda é
algo que mui me agrada) Última chance de ver meu time, o todo poderoso Timão, a
colocar a mão em mais uma Taça nesse ano. Poucas chances de nos classificarmos depois da
derrota doída em casa, vero. Mas crer sempre na possibilidade da vitória faz
parte de ser corintiana, e ontem torci em silêncio e focada. O oposto do meu
vizinho de ovinho (ovinho é nome carinhoso do meu apartamento por sua grandeza
liliputiana) que deve ter quase infartado pelo que pude ouvir do lá de cá da
parede que divide as nossas salas.
O tal menino
blasfema a plenos pulmões e solta sua energia toda contra paredes e móveis,
creio eu, que já não me assusto com ele que parece estar a matar alguém em dias
de jogo. Ele é apenas um tanto mais espalhafatoso nos momentos da bola, o que
contrasta com sua gentileza cotidiana. Pois, o poder da catarse do tal Circo é
mesmo algo que não se pode subestimar.
Não vencemos. Empatamos
o jogo e estamos fora do campeonato. E agora, além de ser apenas uma
espectadora da vida política do meu país, me resta assistir ao futebol durante
o resto do ano apenas como mera observadora da graça ou da desgraça da vida dos
times alheios. Ao Corinthians e a mim, nos resta a participação como meros coadjuvantes
que estão mais a observar tudo que se passa. Que venha 2020; logo!
Prezo, secretamente, ao ócio com
arroubos adolescentes. Sim, adoro passar umas boas horas, principalmente pela
manhã, a não fazer absolutamente nada. Tempo perdido que jamais voltará eu sei;
quase uma heresia para este mundo modernamente agitado. E isso apesar de estar
sempre a fazer muita coisa desde menina, como a mim me dizia minha mãe: “Se a
casa cair não te mata.”. Pois, eu realmente nunca estava lá dentro.
Ainda gosto de fazer muita coisa,
de estar por aí. Contudo, para mim, abraçar o bicho preguiça e seguir com ele
vez ou outra, a cada dia que passa, me parece mais saudável. Diria eu,
medicinal. Porém, apesar desse meu amor pelo dolce far niente, tenho pudores a expô-lo na rua. Preguiça, para moi, é
algo que se nutre dentro de casa na cama ou no sofá macio a ver programas
idiotas e repetitivos que não me dizem nada. Na rua sou a falsa empreendedora
voraz. Menina duas caras.
Por isso, coisa que me causa
inveja boa é ver a preguiça a mostrar a cara na rua. Adoro ver gente gastando
seu tempo como se ele não andasse veloz. Invejo, muito, por exemplo, às gentes
que se deixam na estação de Metrô a bater papo sem pressa alguma de chegar. Uma
loucura para mim porque sinto que tenho a obrigação moral de tomar meu lugar no
vagão o quanto antes e de chegar logo seja lá onde for.
Pois que hoje, apertada feito
sardinha no tal Metrô em dia de greve de ônibus na cidade. Vale aqui um parênteses
para mostrar àqueles que não sabem o que é a minha querida São Paulo e não
imaginam quão alto foi o fator de ensardinhamento da minha pessoa; somos 12,18 milhões
de habitantes numa área de 1.521 km2. Ou seja, sem os ônibus, o mundo resolveu tomar
o metrô e eu senti o que vem a ser o calor humano nos ossos. Um aperto ímpar
hoje, o ar quase a faltar-me e pela janela vejo duas meninas a bater papo na
plataforma da estação e, sem pressa alguma de chegar, elas riam. Como sou
estupida, pensei. Porque não me deixei ficar num dos bancos à espera de que o
mar de gente fosse embora. E uma inveja da liberdade das meninas me roeu fundo.
Trilha sonora na minha cabeça: O Rodo Cotidiano do Rappa..
Ô ô ô ô ô my
brother
Ô ô ô ô ô my
brother
Ô ô ô ô ô my
brother
Ô ô ô ô ô my
brother
É
A idéia lá
Corria solta
Subia a manga
Amarrotada social
No calor alumínio
Não tinha caneta, nem papel
E uma ideia fugia
Era o rodo cotidiano
Era o rodo cotidiano
Espaço é curto
Quase um curral
Na mochila amassada
Uma quentinha abafada
Meu (troco é pouco)
(É quase nada)
Meu troco é pouco
É quase nada
Ô ô ô ô ô my brother
Ô ô ô ô ô my
brother
Ô ô ô ô ô my
brother
Ô ô ô ô ô my
brother
Não se anda
Por onde se gosta
Mas por aqui não tem jeito
Todo mundo se encosta
Ela some é lá no ralo
(De gente)
Ela é linda, mas não tem nome
É comum e é normal
Sou mais um no Brasil da Central
Da minhoca de metal
Que corta as ruas
Da minhoca de metal que toca as ruas
Como um Concord apressado
Cheio de força
Que voa, voa pesado
Que o ar
E o avião, o avião, o avião, o avião do trabalhador
Ô ô ô ô ô my
brother
Ô ô ô ô ô my
brother
Ô ô ô ô ô my
brother
Ô ô ô ô ô my
brother
Não se anda
Por onde encosta
Mas por aqui não tem jeito
Todo mundo se encosta
Ela some é lá no ralo
(De gente)
Ela é linda, mas não tem nome
É comum e é normal
Sou mais um no Brasil da Central
Da minhoca de metal
Que corta as ruas
Da minhoca de metal que toca as ruas
Como um Concord apressado
Cheio de força
Que voa, voa pesado
Que o ar
E o avião, o avião, o avião, o avião do trabalhador