quinta-feira, 5 de setembro de 2019

De ócio e sardinhas

Imagem ilustrativa




De ócio e sardinhas


Prezo, secretamente, ao ócio com arroubos adolescentes. Sim, adoro passar umas boas horas, principalmente pela manhã, a não fazer absolutamente nada. Tempo perdido que jamais voltará eu sei; quase uma heresia para este mundo modernamente agitado. E isso apesar de estar sempre a fazer muita coisa desde menina, como a mim me dizia minha mãe: “Se a casa cair não te mata.”. Pois, eu realmente nunca estava lá dentro.

Ainda gosto de fazer muita coisa, de estar por aí. Contudo, para mim, abraçar o bicho preguiça e seguir com ele vez ou outra, a cada dia que passa, me parece mais saudável. Diria eu, medicinal. Porém, apesar desse meu amor pelo dolce far niente, tenho pudores a expô-lo na rua. Preguiça, para moi, é algo que se nutre dentro de casa na cama ou no sofá macio a ver programas idiotas e repetitivos que não me dizem nada. Na rua sou a falsa empreendedora voraz.  Menina duas caras.

Por isso, coisa que me causa inveja boa é ver a preguiça a mostrar a cara na rua. Adoro ver gente gastando seu tempo como se ele não andasse veloz. Invejo, muito, por exemplo, às gentes que se deixam na estação de Metrô a bater papo sem pressa alguma de chegar. Uma loucura para mim porque sinto que tenho a obrigação moral de tomar meu lugar no vagão o quanto antes e de chegar logo seja lá onde for.

Pois que hoje, apertada feito sardinha no tal Metrô em dia de greve de ônibus na cidade. Vale aqui um parênteses para mostrar àqueles que não sabem o que é a minha querida São Paulo e não imaginam quão alto foi o fator de ensardinhamento da minha pessoa; somos 12,18 milhões de habitantes numa área de 1.521 km2.  Ou seja, sem os ônibus, o mundo resolveu tomar o metrô e eu senti o que vem a ser o calor humano nos ossos. Um aperto ímpar hoje, o ar quase a faltar-me e pela janela vejo duas meninas a bater papo na plataforma da estação e, sem pressa alguma de chegar, elas riam. Como sou estupida, pensei. Porque não me deixei ficar num dos bancos à espera de que o mar de gente fosse embora. E uma inveja da liberdade das meninas me roeu fundo. Trilha sonora na minha cabeça: O Rodo Cotidiano do Rappa..

Ô ô ô ô ô my brother
Ô ô ô ô ô my brother
Ô ô ô ô ô my brother
Ô ô ô ô ô my brother
É
A idéia lá
Corria solta
Subia a manga
Amarrotada social
No calor alumínio
Não tinha caneta, nem papel
E uma ideia fugia
Era o rodo cotidiano
Era o rodo cotidiano
Espaço é curto
Quase um curral
Na mochila amassada
Uma quentinha abafada
Meu (troco é pouco) 
(É quase nada)
Meu troco é pouco
É quase nada
Ô ô ô ô ô my brother
Ô ô ô ô ô my brother
Ô ô ô ô ô my brother
Ô ô ô ô ô my brother
Não se anda
Por onde se gosta
Mas por aqui não tem jeito
Todo mundo se encosta
Ela some é lá no ralo
(De gente)
Ela é linda, mas não tem nome
É comum e é normal
Sou mais um no Brasil da Central
Da minhoca de metal
Que corta as ruas
Da minhoca de metal que toca as ruas
Como um Concord apressado
Cheio de força
Que voa, voa pesado
Que o ar
E o avião, o avião, o avião, o avião do trabalhador
Ô ô ô ô ô my brother
Ô ô ô ô ô my brother
Ô ô ô ô ô my brother
Ô ô ô ô ô my brother
Não se anda
Por onde encosta
Mas por aqui não tem jeito
Todo mundo se encosta
Ela some é lá no ralo
(De gente)
Ela é linda, mas não tem nome
É comum e é normal
Sou mais um no Brasil da Central
Da minhoca de metal
Que corta as ruas
Da minhoca de metal que toca as ruas
Como um Concord apressado
Cheio de força
Que voa, voa pesado
Que o ar
E o avião, o avião, o avião, o avião do trabalhador



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