A poesia paulistana
Pela segunda vez vejo o pintor holandês a caminhar no
meio-fio
Ele segue de pé, perdido,
objetos indistintos nas mãos e o olhar infinito
Assim olhou-me Van Gogh com seus olhos claros vidrados
rosto vincado e barba cor de girassóis
O vejo
Como vejo, com o passar dos dias, a multiplicação
de casas pelos gramados nos canteiros na minha cidade
casas de lona
casas de papel
casas que não têm teto e que não tem nada
casas que em nada são engraçadas
Uma senhora magra varre, todos os dias, um pedaço de terra
e eu a observo enquanto aguardo o semáforo abrir
Indiscreta
pela janela do carro, sem pedir licença, invado a sala de estar dela
O que ela chama de seu nessa vida me assombra
me assombra pela minha covarde apatia cotidiana e coletiva
Numa destas casas um balanço pequeno feito de delicadezas
faz o meu coração apertar e sorrir ao mesmo tempo
Vida agridoce essa do brasileiro
vida pequenina
Van Gogh, na São Paulo poética e suja que eu chamo de minha,
caminha sem destino
sozinho
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