segunda-feira, 31 de janeiro de 2022
segunda-feira, 24 de janeiro de 2022
sábado, 22 de janeiro de 2022
jardim
jardim
Vivo num jardim onde as rosas falam
e um beija-flor monta guarda
com suas ágeis asas
a defender os domínios que ele sabe dele serem
sussurram-me as rosas vermelhas
que não há mais motivos para qu’eu seja presa
desta teia
construída por mim,
pelas aranhas que tecem diariamente no meu cérebro
este roteiro sem fim
cheio de ervas daninhas e Marias-sem-vergonha
o meu jardim
O Grande Zé
O grande Zé
Por estes dias
no rádio do carro a grave e profunda voz de Zé Ramalho soou como se fosse para
mim uma boa nova. Parei para ouvir. Só então me dei conta de que tenho ignorado
ao Sr. Ramalho por estas terras muito além-mar onde habitam as minhas palavras.
O porquê, não sei. Quiçá por distração minha, talvez porque ele tenha sido
sempre subestimado no mundo da tal MPB e também por mim. Como se ele jamais
tivesse sido alguém que se ouve com frequência. Zé Ramalho nunca foi top trend. Talvez. Talvez porque ele
seja nordestino e com cara de poucos amigos. Talvez.
Contudo a
verdade é que ele é genial. Afinal, que outro adjetivo pode alguém usar para descrever
o autor de “Bicho de Sete Cabeças”, “Avôhai”, “Admirável Gado Novo” e tanto
mais? O grande Zé é genial e, além disso, é dono de uma voz única;
inconfundível. Com ele o rock adentrou as terras do cordel e a poesia ganhou
contornos próprios. Seca, direta e densa. Poesia feita da terra vermelha e seca
do nordeste e da gente forte de raros sorrisos abertos.
A verdade é que
de um repente me arrependi profundamente de ter deixado as canções do Sr.
Ramalho um tanto de lado. De ainda não ter caminhado algumas léguas apenas para
ouvi-lo cantar. De não ter criado uma playlist
intitulada o Super Zé.
Aposto que Zé
Ramalho sorriria sisudo e irônico dos anglicismos deste texto. E eu concordo
com ele, é mesmo uma heresia macular a nossa tão linda língua, que ele faz tão
dele, com palavras do pobre inglês.
Nada de
playlist, Zé Ramalho merece um festival de Cordéis enfileirados sob o quente
sol nordestino que cega a minha visão com tanta luz.
Bora ouvir ao Grande
Zé!
domingo, 16 de janeiro de 2022
terça-feira, 11 de janeiro de 2022
Entre teias e coisas mais importantes
Entre teias e coisas mais importantes
Durante as
férias fiz muitas coisas desimportantes para tudo o que se considera sério
nesta vida, tolices para aqueles que caminham sempre com os dois pés no mundo
das “adultices”. Não sei como ser assim: sempre séria e responsável o tempo
todo. O trabalho é algo amado e que levo muito a sério, contudo, a vida fora dele....
ah, está é feita para tudo o que cabe no âmbito das bobagens, tolices e
imaturidades infantis.
As bobeiras são
muito importantes para mim que sou grande fã das “desimportâncias” fundamentais
para que esta vida seja boa. Pois que nas curtas férias possíveis por esses
tempos fui ao cinema, andei de bicicleta até doer o bumbum para sentar,
brinquei, bebi, ri, falei tolices, joguei basquete, (I know, I can’t dunk but I can have fun, yeah?)
e tomei sorvete como se calorias não existissem. Elas existem; c’est la vie.
Assisti a filmes
sérios e que me fizeram pensar, muito. Porém, não são estes que me fizeram
vibrar. Não senhor. Os que me fizeram vibrar foram os muy
pouco educativos e muy comerciais Homem Aranha e
Matrix. Adorei a este último Spider-Man – no way home. Para mim o melhor Homem
Aranha de todos os tempos com direito a três homens aranha, muita conversa
fiada sobre as dores de ser um super-herói, cheio de referências nostálgicas
sobre os outros filmes e um bando de vilões pesos-pesados. Amei!
Não amei tanto
assim ao novo Matrix, apesar de ter gostado muito de rever aos personagens; e
lá estão novamente as memórias queridas, a nostalgia morninha que causam as
saudades de algo bom.
Bom, Matrix Resurrections é ruim e faz pouco sentido, ou nenhum. Na verdade não acho
que deveriam tê-lo feito, pois beira ao desrespeito à inteligência de quem o
assiste e à Revolução que o filme original causou em seus espectadores há mais
de duas décadas atrás. Matrix foi grandioso para todo nerd que se preza! Mesmo assim,
eu jamais deixaria de assisti-lo. Não há como ignorar a um mundo criado artificialmente
em nossas cabeças; um universo todo de fantasia!
Sendo assim, passei
essas férias imersa a perambular entre teias de aranha e digitais, digitalmente
criadas para que eu pudesse, por alguns minutos, ignorar ao mundo real. Afinal,
o importante nessa vida são os sorvetes que tomamos sentados na grama nas
tardes de verão depois de longos passeio de bicicleta. Isso sim é importante, é
real.
sexta-feira, 7 de janeiro de 2022
Nada A Perder
quarta-feira, 5 de janeiro de 2022
divagações
Os Ombros Suportam o Mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Carlos Drummond de
Andrade
Amor de
tarde
Es una
lástima que no estés conmigo
cuando
miro el reloj y son las cuatro
y acabo
la planilla y pienso diez minutos
y
estiro las piernas como todas las tardes
y hago
así con los hombros para aflojar la espalda
y me
doblo los dedos y les saco mentiras.
Es una
lástima que no estés conmigo
cuando
miro el reloj y son las cinco
y soy
una manija que calcula intereses
o dos
manos que saltan sobre cuarenta teclas
o un
oído que escucha como ladra el teléfono
o un
tipo que hace números y les saca verdades.
Es una
lástima que no estés conmigo
cuando
miro el reloj y son las seis.
Podrías
acercarte de sorpresa
y
decirme “¿Qué tal?” y quedaríamos
yo con
la mancha roja de tus labios
tú con
el tizne azul de mi carbónico.
Mario Benedetti
Quero Escrever o Borrão Vermelho de
Sangue
Quero escrever o borrão vermelho de sangue
com as gotas e coágulos pingando
de dentro para dentro.
Quero escrever amarelo-ouro
com raios de translucidez.
Que não me entendam
pouco-se-me-dá.
Nada tenho a perder.
Jogo tudo na violência
que sempre me povoou,
o grito áspero e agudo e prolongado,
o grito que eu,
por falso respeito humano,
não dei.
Mas aqui vai o meu berro
me rasgando as profundas entranhas
de onde brota o estertor ambicionado.
Quero abarcar o mundo
com o terremoto causado pelo grito.
O clímax de minha vida será a morte.
Quero escrever noções
sem o uso abusivo da palavra.
Só me resta ficar nua:
nada tenho mais a perder.
Clarice Lispector