A Maior Traição
Será sempre
difícil definir qual seria a maior traição, já que as possibilidades são muitas.
Porém, a tendência é elencarmos a traição amorosa e carnal como a mais grave de
todas; o que quase chego a entender. Os ciúmes e o sentido de posse são mesmo
falhas complexas e complicadas demais para superarmos. Entretanto, sempre me
pareceu muito simplório e simplista ter em tão alta monta a fidelidade. Afinal,
imaginar que devemos confinar nossas vidas e toda e qualquer experiência sentimental
e física apenas a um outro alguém me parece castrador.
A nova canção de
Carlão traz mais uma vez a temática à mesa de forma delicada ao confinar o
desejo ao âmbito do sonho e do imaginário. A realização do desejo não se dará,
apesar de ele existir desde sempre e para sempre, já que moralmente é
condenável. Os amantes imaginários já estão comprometidos na vida real e isso
significa que devem ignorar o que seus corações e mentes pedem, certo?
O que mais me
agrada em A Maior Traição, além de desde sempre e para sempre gostar muito de
tudo que Carlos Nobre escreve, é o fato dela surgir como um pacote complexo e
completo de experiências. Há a letra apaixonada e sentida com um quê de
dramaticidade que ganha sensualidade e leveza com uma música que nos convida a
dançar apesar do drama da situação. Haverá também ilustrações a dar existência física
às canções de um novo EP, o que me faz pensar: “Quero ter o novo trabalho em
minhas mãos para sentir a coisa toda como deve ser.”
A ilustração de
A Maior Traição traz um casal que se encontra fisicamente apenas e unicamente por
obra de uma dobra da realidade. Através de linhas simples e leves vislumbra-se
a força necessária para a união do casal pois que para a tal dobra exige-se um
saber fazer único. Por trás do desenho de poucas linhas, vislumbra-se a poesia fluida
de Carlão que, assim, invade o desenho.
Por fim, e
talvez para unir a experiência toda, há o vídeo que devolve à canção toda a dor
que se esconde por de trás das palavras. O casal que não existe, na imaginação
de ambos não deixa de existir por um dia que seja. E aqui, a tal dobra leve no
desenho, mostra-se dolorida, dramática, fatal. Um oceano de sonhos e desejos os
une e os divide e, quiçá, apenas em outra vida a união poderá existir para além
do pensamento. Quiçá?
A Maior Traição
e toda a dualidade na qual ela está inserida deixa-me confusa como aos
protagonistas. Não sei bem o que é certo sentir ao ouvi-la e vê-la. A única
coisa da qual tenho certeza é de que, para mim, a tal bandida de outrora ainda
anda à solta no imaginário do talentoso Carlos. Afinal, o sonho não tem
condição. Certo ou errado, não é pecado.
Música
Letra: Carlos Nobre Neves
Música: Pedro Maurício
Voz: Carlão
Vídeo
André Tentugal
Ilustração
Maria Abrantes
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