Montanhas de Algodão
Ana dirigi seu
carro numa noite chuvosa e gelada sem prestar muita atenção ao que faz. O frio
espantara a lua e as estrelas de um céu escuro e mais solitário; ruas vazias.
Uma luz vermelha para o mundo, e os olhos se põem no céu enquanto no rádio do
carro Eddie Vedder canta Nothing is as it seems.
No céu as
nuvens ganham a forma de uma cordilheira etérea, o céu e o chão confundem-se na
escuridão e para olhos distraídos agigantam-se montanhas acinzentadas de algodão.
Nada é, realmente, o que parece. E tantas vezes a ilusão é tão mais bela do que
a realidade. Pensou a mulher encantada por nuvens e montanhas.
Pois, sem
querermos fugir da realidade, já que ela é tudo o que temos, não há como negar
que existe uma parte de nós que quiçá nunca tenha deixado de ser infantil e
sonhadora. Uma parte crente no mundo invisível que habita toda a gente que
cultiva a beleza da inocência de olhos pueris.
Por que nos
escondemos tanto do mundo, questiona-se Ana, ao mesmo tempo que ela se lembra o
quão belo foi o jovem Vedder. Sorri a menina que nela habita. Sempre lhe foi
engraçado como todas as vezes que ouvia o nome de Eddie Vedder, ela se lembrava
de Darth Vader. Não, realmente não há nenhuma relação para além de umas poucas
letras de um sobrenome. Como
não amar Lord Vader? Questiona-se ela. Yeah, nothing is as it seems. And that’s
what we call a train of thoughts.
Chaos in my mind while the world
seems to sleep. Refletiu Ana. Refleti eu. Qual o tamanho da minha casa
habitada por Ana? O quanto ela é real? Ana sou eu? Sim, em parte. Não na
realidade.
A cordilheira
de nuvens se move diante dos olhos pensadores. O sinal de trânsito torna-se
verde e o mundo põe-se em movimento. Nada mais de cadeia de pensamentos. Nada mais
de sentimentos a inundar a mente.
Ana, acelera
o carro e freia os pensamentos.
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