Nesta semana, um ou dois dias antes do assassinado de várias crianças no Rio de Janeiro, aconteceu algo que me fez pensar no que sentimos em relação às outras pessoas. Num dos semáforos em meu caminho para o trabalho, um pedinte passava com sua mão tímida, quase assustada, por entre os carros. Ele trazia a mão rente ao corpo, os olhos inseguros e o passo reticente. Chamei-o em minha direção para dar-lhe comida, doces ou bolachas que sempre tenho em meu carro para estas ocasiões; e para os famintos amigos que vez ou outra roubam um ou dois pacotinhos que sabem estar lá. Pois é, há sempre comida no meu carro, forma patética que eu encontrei para aliviar um pouco minha pesada consciência de quem não faz muito, quase nada, pelos outros.
Contudo, não quero falar do que faço, mas sim do medo que vi nos olhos do mendigo que se aproximou temeroso de meu carro como se eu pudesse representar algum perigo. Pensei muito nisso depois: no medo tão enraizado que todos, e cada um de nós, têm em relação às outras pessoas. De onde vem este medo? Porque tememos pessoas como nós? Sei, sei, vocês me diriam: Não vê toda a violência que nos cerca? Não vê do que o homem é capaz? Vejo sim, mas vejo também que há muito mais gente neste mundo que não merece que tenhamos medo delas só por ter.
Não vemos que tememos uns aos outros como se fossemos nós mesmos nosso maior inimigo? Ricos temem pobres por sua inveja e cobiça na mesma medida que pobres temem ricos por seu poder e falta de limites. Brancos temem negros por sua cor e negros temem brancos pela cor que eles não têm. Árabes temem judeus e vice-versa. Filhos temem seus pais e, muitas vezes, são os pais que temem seus filhos. Alunos tímidos e sensíveis temem os grandalhões e assim sucessivamente numa burra corrente onde todos perdem. E nada, nada disso faz sentido algum para mim.
No dia 20 de Abril de 1999, dois meninos entraram armados numa escola em Columbine, no Colorado (EUA), mataram 12 alunos, um professor e feriram muita gente. Assim como no Rio de Janeiro nesta semana que passou, falou-se de quão quietos e pouco ajustados à sociedade eram os atiradores, falou-se da violência divulgada pela televisão, vídeo-game e computadores via internet como motivos para tal violência sem sentido. Em 2002, o cineasta Michael Moore lançou seu documentário “Tiros em Columbine” falando sobre os fatos ocorridos no Colorado e sobre a violência em seu país e, durante todo o filme, o Sr. Moore nos mostra como o medo gera a violência nos Estados Unidos, ele é seu combustível. E eu concordo com ele.
Pois então, medo gera medo, ódio e violência. Precisamos aprender e ensinar a não temer o outro, a não vê-lo como um potencial inimigo, mas sim como alguém como nós. Somos bons afinal, não? A solução não está em comprar armas, blindar carros ou construir muros cada vez mais altos, mas em trabalhar para uma sociedade onde estas coisas sejam desnecessárias. Antes de qualquer coisa temos que entender que o respeito e o amor por toda e qualquer vida é mais importante que tudo nesta vida. Eu, de minha parte, adoraria viver num mundo onde ninguém tivesse medo de mim nunca e onde eu não temesse ninguém. Não podemos deixar de acreditar na gentileza e na bondade. Jamais.
Boa semana e todo o meu carinho, um longo abraço e um beijinho. Força sempre pra todos nós.
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