Ao assistir o vídeo de os Dias de Raiva em Paredes de Coura nada me chamou mais atenção que o comportamento de seu vocal, Carlão. Vindo de mim, isso não chegará a ser um espanto e, muito menos, a desabonar os outros integrantes da banda em questão, pois, é mais do que patente (para nós) a minha imparcialidade (para usar de eufemismos) para com este músico português que, involuntariamente vale frisar, me encanta e seduz desde sempre com suas letras, poemas, crônicas e voz. Gostei muito de ver em ação um Carlão tão distante do irônico e ácido homem que habita os domingos do jornal ou as páginas de revista quanto do quase-romântico bom-moço das canções mais suaves dos Da Weasel. Sobre o palco, Carlão parecia um animal prestes a ser liberto de sua prisão invisível, andando de um lado para o outro como se buscasse um espaço mais amplo que aquele que tinha; um bicho inquieto e raivoso por natureza. Não posso falar sobre toda a apresentação, já que tive apenas uma amostra grátis via MySpace de 13 minutos e 03 músicas, contudo, me agradou em demasia a atitude pouco polida frente a uma platéia até muito comportada para os padrões aos quais eu estou acostumada aqui nos trópicos. Voz gutural por vezes, pés descalços e até cuspidelas no chão, Carlão libertava-se desta casca que usamos diariamente e que, em muitos momentos de nossa vida, mostra-se desnecessária. Somos animais, racionais claro, mas animais ainda assim e, nada me agrada mais do que ver este lado domando a racionalidade que quase sempre monta guarda em nossas almas. Vi a Carlos como uma onde que se forma em alto mar e que logo arrebentar-se-á contra o paredão; uma energia naturalmente positiva e primitiva que, por algum motivo, ainda se segura um pouco. Espero, sinceramente, que tal força esteja completamente liberta quando eu tiver a oportunidade de vê-lo ao vivo.
Os Dias de Raiva valem muito por sua sonoridade e são, evidentemente, uma banda com pessoas talentosas naquilo que fazem. Por agora, posso dizer que tenho grande carinho e admiração pela atitude e postura do grupo que leva a diante um projeto pensado para expressar as opiniões e insatisfações daqueles que o idealizaram. Em uma época como esta, na qual a pasmaceira, a apatia e a falta de opinião habitam os jovens que deveriam estar pelas ruas a gritar por seus ideais, ouvir alguém com mais de 30 anos mostrar sua raiva e seu incômodo chega a ser um alívio.
Beijos raivosos e obrigadinha puto!
Outubro, 2010.
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