domingo, 17 de abril de 2011

O meu Carlitos

 

Desde bem pequena sou apaixonada, profundamente encantada, por Charlie Chaplin. Paixão que nasceu do hábito de estar com meu pai a assistir alguns programas que nós dois gostamos na televisão. Às vezes, não sei se gosto destas coisas naturalmente ou se meu amor e admiração filial, aquela idolatria que toda menina tem por seu pai, me impingiram tais gostos inconscientemente. Seja como for, adoro futebol, programas sobre animais “à la Discovery Channel” e os filmes de Charlie Chaplin desde que me lembro por gente. E, creio que este não chegue a ser um defeito ou delito grave, apenas mais um gosto anacrônico, perdido na época em que os filmes eram mudos e sem cor.
Bem, ontem comemoramos o nascimento de Chaplin e, aproveitei a data para rever algumas de suas cenas. E, pela milésima vez, este homem que morreu há mais de 30 anos me fez rir e chorar. Comoveu-me. Não há como negar seu talento, sua genialidade, pois em cada cena há poesia feita sem palavras. Entendemos os mais profundos sentimentos através de olhares e gestos simples e, ao mesmo tempo, teatrais que consideraríamos amplos demais para o bom cinema hoje. O Sr. Chaplin não quis ser um intelectual, não quis criar a arte incompreensível. Ele queria que todos o entendessem, ele queria fazer-nos rir, e conseguiu que chorássemos algumas vezes.
Em seus filmes vemos o gênero pastelão (slapstick em inglês) em sua forma mais pura e, contudo, mais refinada. Sim, o riso fácil é buscado através de tropeços, brigas e confusões de todo tipo, entretanto, cada cena é construída de forma delicada, simples e única, mas, sem nunca ser simplista. Chaplin parece mais um bailarino do que um atrapalhado vagabundo, ele é a personificação da graça, que parece brotar dele sem força alguma e espalhar-se por toda a cena. Um gênio em movimento.
Muito para além do riso fácil, em seus filmes mais bem realizados, suas obras de arte, vemos questões humanas e sociais sendo abordadas e questionadas por um artista que nunca se conformou com a injustiça e a despersonalização do ser humano. Sem ser perfeito e ter ele também seus preconceitos, Charlie Chaplin já nos falava da crescente indiferença na sociedade moderna, do preconceito e do horror da violência e da guerra e, a seu modo torto, atrapalhado, pregou o amor entre as pessoas.
Carlitos, o mais doce de todos os vagabundos, nos ensinou através de seus filmes que não temos que deixar de sermos nós mesmos, não temos que simplesmente nos adaptar a um padrão ditado. Temos sim que pensar por nós mesmos, temos que sentir tudo o que pode nosso coração conter e nunca, nunca mesmo, termos medo de mostrar quem somos ou de falhar. Sempre vale à pena tentar. Se você nunca viu um de seus filmes, recomendo que o faça. Comece por Tempos Modernos, O Garoto, Luzes da Cidade e O Grande Ditador que é seu primeiro filme falado. Valerá muito à pena, tenho certeza.
Charlie Chaplin 16 de Abril de 1889 – 25 de Dezembro de 1977.
Um beijo pra todos e boa semana.

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