Não há cidades melhores ou piores:
elas são simplesmente diferentes,
únicas.
São Paulo me viu nascer e cresci
a descobrir suas ruas,
a compreender seus tons cinzas e seu falso mal humor úmido,
viu-me deixar de ser menina.
Sampa, e só aqueles que cresceram nestas ruas podem chamá-la assim,
não é melhor do que qualquer cidade,
sei bem.
Mas será para sempre a minha casa,
a cidade a qual pertenço,
e onde vive
a minha identidade que respira
Entre todos os meus defeitos, e
olha que há um bom bocado deles a constituir este ser tão sem jeito, a falta de
capacidade para ser completamente feliz sozinha deve ser o mais marcante de
todos eles. Pois, que este ano ele foi lembrado e relembrado não apenas por um,
mas por vários amigos que querem o meu bem; eu sei. E mais intensamente
criticado, como um aleijo fatal, por aquele que tem o meu eterno bem querer.
Pois (número 2), fazer o quê, não? C’est la vie! Não teremos jamais tudo o que
queremos ter.
E, pensei muito nisso
ultimamente; nessa necessidade tão avessa à minha natureza independente que,
mesmo assim, constitui a parte mais importante de quem sou eu: preciso do outro
para ser, mesmo que momentaneamente, feliz. Sou assim. E, ou por já estar
ficando velha ou porque sou mesmo teimosa desde menina, está decidido que serei
sempre assim pela melhor razão de o ser: esta é a verdade mais verdadeira que
existe dentro de mim: eu preciso de vocês.
E por isso, por esta carência,
sempre há cá dentro um senão a incomodar porque nunca, em nenhum momento, tenho
a todos os meus amores, família e amigos, perto de mim. Então, feito um
Tiradentes de alma, sinto-me sempre dividida com partes minhas espalhadas pelo
Brasil e além mar que não poderão, jamais, ser unidas. Sei que esta condição pode parecer fatal, mas
não é bem assim. Não há como explicar a felicidade que sinto quando sei que vou
reencontrar alguém. Ah, que alegria é rever uma parte de mim que anda a viver
independente por aí, pois, neste momento, sinto-me completa e muito maior do
que eu, por mim mesma, algum dia poderia ser. Sou, definitivamente, uma pessoa melhor
e maior por e com vocês.
Está sendo, então, uma felicidade
extrema, entre o Natal e o Ano Novo ganhar os melhores presentes desde sempre: a
presença de quase todos que amo perto de mim; e estes serão os mais caros e
raros presentes que eu poderia receber nesta vida sem nenhuma sombra de dúvida.
Por isso, agradeço a Deus e peço que Ele me desculpe por ter brigado e
reclamado tanto neste ano, pois reconheço que, como sempre tem sido nesta vida,
ganhei muito mais do que eu merecia, já que não sou uma boa menina todo o
tempo. Eu sei.
Quero também agradecer a todos
vocês por estarem presentes na minha vida e me darem muito mais do que eu posso
retribuir todos os dias. Aos meus queridos, que fazem desta vida algo bonito de
ser vivido por todos os momentos juntos que tivemos e que ainda teremos, muito
obrigada e um beijo com todo o carinho que eu conheço. Amo-os para sempre e
além.
Um beijo especial aos meus
meninos que são uma alegria inacreditável e a luz da minha vida: Dedé, Lukitas,
Gigi, Pedrão, Dieguito, Bianca e Nico (o mais novo presente desta vida).
Feliz Natal a todos e que o anjo os proteja sempre.
Como dantes já ocorrera, cá está mais
um fim do Mundo previsto a bater em nossas portas, numa nova falácia tão velha
quanto a humanidade que escancara a nossa mania, um tanto quanto masoquista, de
apreciar um sofrimentozinho que não chega a matar, aquele drama que dói sem machucar
e que ninguém leva a sério. Se bem que
haverá sempre os mais maluquitas, os pré-dispostos a acreditar em qualquer
bobagem que lhes digam, prontos a cometer suicídios em nome de não enfrentar o
derradeiro final. Uma incongruência tão absurda que não se pode compreender, ou
há algo mais sem sentido do que se matar para evitar a morte certa?
E entre a graça e as dúvidas que
a ideia do fim-do-mundo pode criar, é certo que ela nos faz pensar em
aproveitar melhor a vida. Não há quem não pense, pelo menos por farra, no que
faria em seus momentos finais. Pois, não é que nos diverte o pensar em como aproveitaríamos
as últimas horas que nos restam. E, a partir daí, a tal ideia do final fatal
não nos parece algo tão mal assim. Afinal, se ele serve para que pensemos no
que andamos a fazer com o nosso tempo com mais interesse e atenção, não é que o
fim do mundo é algo que faz um bem sem igual.
O tal fim-de-faz-de-conta também
nos ajuda a pensar nos porquês de termos, com poucas exceções, tanto medo de
todo e qualquer final. O fim de namoros e casamentos nos apavora, a mudança de
cidade ou de país pode ser fatal, a quebra da rotina assusta a muitos e, dizer
o quê da morte individual e rotineira que nos aguarda, certa, em nosso verídico
final? Para muitos o maior medo de todos.
Contudo, e se pensarmos que sem
os finais não poderíamos ter, sem medo de uma previsão equivocada, qualquer
novidade ou recomeço, ter medo de qualquer final nos soa tão tolo quanto crer
que no próximo dia 21 de dezembro algo sobrenatural realmente acontecerá. E, muito para além da certeza de que não
teremos o tal final global, é certo que o Mundo que hoje conhecemos não será
exatamente o mesmo daqui a algum tempo e, sendo assim, temos que aceitar que
tudo, um dia, terá o seu final. E a nós,
resta-nos saber usar e abusar do tempo que temos por aqui da melhor maneira que
se possa fazer.
Por um acaso da vida, e sem quaisquer
previsões, estes meus últimos dias na azul Terra me sairão muito bem. Será um
tempo com os mais antigos e queridos amigos e a família, a hora de abraçar pela
primeira vez o meu sobrinho Nicolas; e um momento para aproveitar o tempo, para
passear, ver a minha cidade e namorar. E alguém pode pensar em coisas melhores para se fazer nesta
vida?
Um beijo para todos, e que o fim
do tal fim seja trazer um bom e fresco recomeço.
Muito antes de saber que arquitetura era uma profissão, ou
mesmo de ter a plena noção do que era estar viva, eu me espantava todas as
vezes que passava em frente ao Copan. Aquela onda gigantesca no meio da minha
cidade feita de retas que visam o céu encantava-me, e encanta-me até hoje. Sei
que não é a mais bela obra de Niemeyer e está longe de ser a mais conhecida, eu
sei. Contudo, todo paulistano o sabe bem, e sabe bem como ele parece fluir no
meio da cidade; nosso contraditório imóvel em movimento.
E hoje, pensando no Copan e no Seu Oscar, lembrei-me de um
amigo que briga comigo a dizer que o meu problema é achar que a vida é poesia,
e ela não o é. Pois, pior que achar que a vida é poesia, creio mesmo que a vida
verdadeira, aquela que vale à pena, é feita, concretamente, dela. Afinal, que
graça tem a vida, que importância nós daríamos a ela, sem toda a poesia que a
constrói dia-a-dia?
Engana-se quem pensa que poesia faz-se apenas com palavras e
em momentos mastigados e remastigados até que se tenha algo perfeito, que ela é
coisa de muitas horas de estudo e de um conhecimento profundo de uma gramática
qualquer. Claro que não! Poesia faz-se com a alma, com a intenção de por vida
nesta vida que, se deixarmos, torna-se tudo menos viva e verdadeira.
A poesia está em imagens como Guernica e também nas fotos de
nossas crianças em momentos de cara suja de chocolate e sorriso sem igual. Ela vive
nas palavras tão genialmente utilizadas por Pessoa e nas músicas de Chico, mas
também está presente no grito de uma nação num campo de futebol e num bilhete de
amor tímido, e às vezes mal escrito, que se deixa de surpresa e que emociona a
quem lê.
Poesia pode ser vista nos cabelos trançados das meninas e em
tatuagens que mostram na pele o que passa pela alma da gente, mesmo que não se
dê para estas coisas o mesmo valor que se dá para uma joia ou uma gravura expressionista.
E ela também se apresenta nos passos de uma bailarina tal como nos movimentos
dos meninos mostrando um pouco da cultura hip hop.
Há muita poesia em nossa vida, e a fazemos todos os dias
mesmo sem querer e perceber. E eu tenho os meus momentos poéticos preferidos:
como o abraço de muitos minutos que eu ganho do Pedro quando nos revemos depois
de um longo tempo distantes. Não há como expressar em palavras o que sinto no
momento em que ele pula no meu colo e lá fica por um tempo que me parece
infinito a me abraçar com amor.
Há muita poesia em tudo que o Sr. Oscar Niemeyer criou, mesmo
que a matéria usada tenha sido o concreto ou o cimento. E creio que esta é a
lição mais importante que ele nos deixou: temos que fazer poesia, que fazer a
nossa vida mais bonita e viva.
Um beijo e boa semana para todos vocês que fazem da minha vida
um poético épico particular.
as curvas já existiam
mas dá-nos a impressão de que Seu Oscar as criara, que ele era dono delas
o concreto e o aço curvaram-se por ele
nós nos curvamos também
maravilhados pelo movimento, pela cadência e a malemolência
que criou a beleza pelos caminhos de todo
brasileiro
"Não é o ângulo reto que me atrai.
Nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem.
O que me atrai é a linha curva livre e sensual.
A curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso
sinuoso de seus rios,
nas ondas das mornas nuvens do céu, na curva da mulher
preferida.
Bebê Hanen Tafish, de 11 meses, no necrotério do hospital Al Shifa , Gaza. (Mahmud Hams AFP)
Há alguns dias me sinto perdida,
sem saber para onde devo olhar todas as vezes que vejo novas estatísticas sobre
as mortes que ocorreram por estes dias. Estou cansada de ouvir estes números a
cada amanhecer, e já que não posso simplesmente fingir não ouvi-los, abrir os
olhos pela manhã tem sido doloroso. Sei que sempre houve e haverá gente a
morrer por motivos naturais ou não; de morte morrida ou de morte matada como dizemos
por aqui. Entretanto, isso de ver as pessoas se matando por aí como se isso
fosse mesmo parte da vida, algo corriqueiro e natural, não é plausível para
mim.
Entendo quando chega um furacão a
destruir muitos de nós, quando a terra sacode e se abre querendo nos engolir ou
quando um touro tem a sorte de, por instantes, vingar a todos os irmãos falecidos
e atinge de morte o toureiro. Nestas situações, sei para onde olhar e como me
sentir. Chego a compreender, de coração, a capacidade que temos de matar o outro
para salvar-nos ou para proteger a vida de um de nós. Sei que eu mataria por
minha família e por meus meninos, num arroubo irracional e violento, para
salvar-lhes a vida. Sei disso e compreendo porque o faria.
Agora, mesmo assim, como
compreender que alguém faça planos para matar a um outro alguém? Como entender
que se faça guerra por terras, por dinheiro e por poder? Como perceber as
razões que levam pessoas de uma mesma cidade a matarem-se sistematicamente
porque se pensam diferentes? Como podemos pensar que se fará justiça nesta vida
injustamente?
Sinto-me perdida ao ver esta luta
continua num mundo onde não há mocinhos e onde, ainda assim, somos todos nós
vítimas. Não há o certo e o errado, o bem e o mal; há apenas o sangue derramado,
o nosso sangue e o alheio misturados pelas ruas e pelas casas dessa aldeia que
depois de tanta evolução humana parece tornar-se mais e mais irracional com o
passar dos tempos.
Estou cansada e queria muito que alguém
pudesse me explicar a imagem que ilustra este texto. Eu não a percebo; e sinto,
com um pesar insuportável, que chorar por ela não muda nada por aqui. Há explicação para
algo tão cruel assim?