Não há como evitar, é pensar em voar e o medo assola-me. Que raios faço eu dando uma de passarinho afinal? Detesto isso de avião. Queria poder enganar-me e disfarçar o tal medo, mas qual? Podemos mentir para todos, mas nunca, jamais, para nós mesmos. Que infortúnio da consciência, não? Somos um livro aberto para nós mesmos. E vai daí que sempre antes de momentos como este me vêm pensamentos tão alegres e reconfortantes: e se a porcaria do avião cair? Bom, se é pra cair que seja na volta penso eu, pelo menos assim justificam-se os gastos, o stress e aproveita-se o tempo tão desejado em aventuras distantes demais para os pés. Tudo culpa de Santos Dumont, ou não, de acordo com os americanos. Estes americanos se metem até em nossas neuroses. Arre!
No meio de meus pensamentos mórbidos, fico sempre contente quando há crianças no avião, pois Deus e todos os anjinhos da guarda devem estar naquela hora a protegê-las, com certeza. Afinal, seria uma grande sacanagem Dele, levá-las de forma brutal numa queda horrível de supetão. E penso: “Ufa, não é hoje que cai o avião”. E considero mau agouro quando há cancelamentos, mudanças ou atrasos em demasia. Pois junto a eles vem o pensamento: será que é sinal de que a Dona Morte está a reorganizar minha agenda para que possamos finalmente nos encontrar? Que banana eu, eu sei. (risos (de nervoso))
Para meu azar supremo, vira e mexe, sobrevôo Brasília, a Capital. Talvez haja outra explicação; uma mais lógica e natural do que a minha. Contudo, para mim, aqui o ar é tão carregado pela má, aliás, péssima, influência dos políticos tão ou mais sujos que pau de galinheiro, que não há outro jeito: sempre, mas sempre mesmo, “sempríssimo” ( eu sei que a palavra não existe mas merece ser escrita), temos turbulência quando passamos por sobre a brasileiríssima e babilônica Capital da Nação. E dá-le orações: Pai Nosso, Ave Maria, conversa ao pé de ouvido com o meu São Jorge e coisas do gênero místico. Mas tudo isso discretamente, que ter medo é uma coisa compreensível, mas dar pinta já são outros quinhentos e cinquenta. Isso não!
E os lanchinhos, chamados de refeições, são bem mais ou menos. Não? Oops, acho que fui ingrata demais desta vez, pois, para minha surpresa, nem tudo está perdido. O comissário de bordo, (o dantes “aeromoço”) é bem bonitinho pro meu gosto, ou seja: bem moreno, quase a se classificar claramente como afrodescendente, e com cara de homem mau. Olha que isso chega a ser um milagre por estes dias; um “aeromoço” másculo, aleluia! Eu sei que uns e outros já devem estar a gritar: “É mona bee, nem se empolga!” Esse avião definitivamente não vai cair! Fico simpática de repente com a chegada do carrinho de comida, tão desejada agora, até mim.
Caramba, eu nem me maquiei! Isso é pra eu aprender a não sair de casa assim: desprotegida e de cara lavada. E, ainda por cima, eu e a minha pinta de intelectual-maluca-já-passada-dos-trinta não devemos ser tão atraentes assim: laptop no colo, a escrever freneticamente e com fones a tocar Buraka Som Sistema no volume total. Sei não. Sou um caso perdido mesmo. “O que a senhora quer beber?” interrompe-me ele. E ainda tem voz de homem o tal comissário: grave e displicente. Deus foi realmente generoso hoje. Valeu! Um beijo e boas viagens para todos, que eu já ando de olho na próxima – Barcelona e Lisboa no Outono europeu.
P.S. E cá está a turbulência! As coisas que faço para ver vocês!?! Beijos, sem abraços hoje que já estou trocando as letras e vou lá bater um papo com o Jorge, o santo do dragão.
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