sábado, 23 de junho de 2012

Coisa de Menina





Na última quarta-feira passei pelo estresse do ano e, felizmente, não foi o último. Agora, plácida como um monge budista assistindo ao jogo entre Espanha (para a qual estou torcendo) e França, não sou nem sombra da torcedora à beira de um ataque de nervos, à la Mr. Allen, que fui durante o último jogo do meu Corinthians. Sim, sou corintiana. Se é que alguém ainda não sabia disso? Bem, quase enfartei. Roí as unhas, coisa que nunca faço, passei mal dos nervos e chorei, pela primeira vez na minha vida, ao ver um jogo de futebol. Algo que o mundo duvidava e que nós, corintianos, ansiávamos mais que tudo aconteceu: classificamo-nos para a final da Copa Libertadores da América pela primeira vez.

E este será um sofrimento e/ou um prazer solitário, sentido apenas por aqueles que são, como eu, encantados pelo Timão; ou seja, mais ou menos 30 milhões de loucos alvinegros. Não penso que isso mudará qualquer coisa na vida de torcedor algum ou mesmo do nosso time. Nós não nos tornaremos melhores do que os outros, não seremos perante o mundo o melhor time que já se viu ou coisa que o valha. Claro que não. Contudo, teremos o prazer de ver uma conquista inédita para nós, e este sentimento será incomparável e inesquecível. Algo melhor do que ver o Brasil campeão do mundo, com toda certeza. E pouco importa se há outros times que ganharam mais ou menos vezes o mesmo torneio, ou se há aqueles que jamais o ganharão; importará, simplesmente, ver o feito do time do coração.

Entre o nervosismo dos 90 e poucos minutos e o choro aliviado e mais que satisfeito do final, pensava apenas na minha avó Luiza e no quanto eu gostaria que ela estivesse viva para ver estes jogos. Sei que podemos perder na final, mas mesmo assim, seria muito bom tê-la aqui. Seria divertido e inspirador vê-la com o rádio à pilha grudado ao ouvido enquanto, e ao mesmo tempo, assiste à televisão tal como fazia quando eu era uma menina. Aquele era um momento de glória para mim: minha avó, apesar de seu marido palmeirense verdíssimo, vivia plenamente sua paixão pelo Corinthians. Futebol, na minha família, é coisa de menina há algumas gerações.

Hoje, às vésperas de, talvez, ser campeã da Copa Libertadores da América pela primeira vez na história do meu time, uma porção de questões distintas e importantes (ou nem tanto assim) passam pela minha cachola que respira futebol. Devo pedir desculpas ao mundo por me ocupar tão prioritariamente de um simples campeonato de futebol e deixar para lá os absurdos da atual campanha política brasileira, a Rio+20, as guerras no oriente médio, a situação periclitante do Paraguai e a situação crítica da Europa? Talvez. Mas paixão é coisa séria tanto quanto cega, e a minha em nada difere das outras tantas que temos por aí.

Então, seja lá como for e o que vier daqui para frente, fica para minha abuela Luiza, que chamava a seus filhos e netos de meus pretinhos (e que saudades disso) e que fazia pães como ninguém, esta Libertadores. Ela nos fez, a mim, meu pai, meu irmão, tios e muitos primos assim: corintianos. E, por isso, a vitória ou apenas esta luta suada e apaixonada do time é para ela. Sinto saudade das risadas da dona Luiza e de ouvi-la dizer: “É o Corinthians!”, com um sorriso malicioso no rosto.

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