quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

o mergulho


de alma escancarada
a esperar
a tempestade:
os ventos
os raios
o tormento.
pés na dura rocha
e mente nas nuvens negras.
respiro fundo e abro os olhos imensos
momentos antes de mergulhar, uma vez mais,
no mais profundo azul
do mar.

Eu não existo sem você




Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham pra você

Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
Eu não existo sem você

Vinícius de Moraes



segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Una Vez Más...



... porque los niños todavía están en las calles.


Cancion Para Un Niño En la Calle"   --    Calle 13 feat Mercedes Sosa

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Divino



Da esquerda: Meus tios Rosa e Divino, meus pais Jesus e Odila,
 meu irmão Sérgio, Ana  (irmã  que ganhei) e eu.

Desde menina, a partir do momento no qual compreendi o caráter efêmero da vida de cada um, assombrava-me um pavor avassalador da morte. Sozinha, à noite, por motivos quaisquer, vinha-me esta certeza angustiante e assustadora: um dia eu morrerei, deixarei de existir. Tal ideia, numa fase ainda egocêntrica da minha existência, mostrava-se como o mais cruel dos fatos; e eu entrava em pânico e congelava sob as cobertas ao perceber que não haveria como fugir de tal destino. Invariavelmente, então, punha-me a chorar porque queria chamar a atenção de alguém. Queria companhia. Quase tão invariavelmente, meu pai vinha ao meu quarto a perguntar o porquê do choro e eu, muito sem saber como explicar que apenas queria a companhia de alguém no meio da noite, dizia que estava com medo de algo sem saber explicar de quê era o tal medo.

Quando eu era menina, a minha morte era o fato mais trágico que podia me atingir, sem dúvida alguma. Contudo, a verdade é que quando somos meninos não sabemos nada da vida; e este é um fato mais concreto que a tal morte, sem dúvida alguma. E a verdade é que hoje não há quase nada menos importante para mim do que o feito de que um dia chegará a minha hora. Pois esta, sem sombra de dúvida, será a morte menos sentida por mim. Antes, e muito mais cruel, é toda a despedida que o tempo me traz nesta vida. Dizer adeus a alguém e ver ir-se, à revelia da minha vontade, uma parte grande de quem sou, como se o meu mundo estivesse a desmanchar-se frente aos meus olhos, tem se mostrado a mais difícil provação divina.

Mesmo sabendo que de nada adianta qualquer revolta e questionamento, e aceitando tal gado este fado, a morte sempre me assusta e eu volto, por alguns minutos, a sentir-me a menina sozinha em seu quarto à noite. E foi assim que me senti nesta semana ao saber que, feito os passarinhos que ele tanto admirava, meu tio Divino voou e deixou-nos para sempre. Para o bem dele e para o seu devido descanso depois de um ano inteiro de luta e dor, mas para o nosso pesar egoísta, meu tio cá já não está. E eu queria apenas dizer, mesmo assim de longe e com certo atraso, adeus. Tio, sentirei muito a tua falta.

Sentirei falta da tua eterna cordialidade e gentileza, da maneira simples de ser e do sorriso constante. Sentirei uma falta absurda de ouvir alguém a me chamar de Estelinha ou Telinha como apenas os que me conhecem desde sempre o sabem fazer. Sentirei saudades de vê-lo ao lado da minha tia Rosa e de saber que está por aí em viagens ou passeios ao lado dos meus pais. Sentirei falta de provocar-te sempre que vinha com a camisa do Tricolor paulista a minha casa como em tom de desafio; provocação máxima de um dos mais pacíficos torcedores que eu conheço. Sentirei saudade de tudo, enfim: de suas qualidades e defeitos, pois sendo Divino de nome, e principalmente por isso mesmo, teve lá suas falhas na vida como toda criatura de Deus as sabe ter. Mas, tenha certeza tio, você foi um grande homem naquilo que importa ser e, por isso, a família ficou um tanto órfã desta vez. Um beijo e te cuida, sim?

Um beijo a todos, sem exceção.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Nha Cretcheu





Nha Cretcheu
Sara Tavares

Sair à rua com uma sede imensa
de te esqueçer
sentar-me num lugar com indiferença
por não te ver
e de repente sei que é isto que eu não quero
olhar à volta e saber que ainda te espero
sentir a sensação de quem não está no seu lugar
não quero lá estar
assim...

nha cretcheu
nha cretcheu...

voltar a casa com um sentimento
de solidão,
fingir que estás no pensamento
sem razão
e de repente sei que é isto que não quero
voltar a casa e saber que ainda te espero
fazer de conta que já estou no meu lugar
mas não quero lá estar
assim...

nha cretcheu
nha cretcheu...

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

talvez



Talvez.
Talvez o tempo cure tudo. Talvez.
Com o tempo esquece-se o movimento das ondas,
o som das risadas
e a luz das manhãs de verão.
Com o tempo esquece-se a sensação da brisa no rosto,
da enchente que é banho de mangueira fresco
em tarde no sertão
e do que é segurar as mãos de quem se ama nas suas.
Talvez.
Talvez tudo o tempo cure. Talvez.
E com o tempo, que apenas o tempo há de trazer,
eu consiga a cura
e de quem sou, afinal, me esquecer.
Talvez.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Bird

all things you are

Se

... e seria tão bom se eu pudesse
ou se eu soubesse fazê-lo assim:
1. dar poucos passos.
2. amassar a melancolia.
3. jogá-la na primeira lixeira que me cruzasse o caminho.
Fim!
... mas quando eu olho pro lado, tu não estás aqui,
aqui continuam:
1. as dores nas costas que me prostram
2. os olhos úmidos
3. a goela e o peito apertados
Certo...
Talvez seja fácil jogar a tristeza fora, mas o amor
que se pensa verdadeiro, 
que diabos,
ele continua aqui.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O conselho


Escapou-me a poesia
que estava aqui, a nadar pela memória
à espera da escrita.
Perdeu-se, como perdemos momentos profundos
e belos sentimentos apenas por termos dobrado
uma esquina muito rapidamente,
por termos dito muito,
por não teres dito nada.
Sei que nela havia um conselho, aquilo que se dá
já sabendo que não vale muito. Que não adiantará de nada,
pois nem ao menos àquele que o profere ele pôde fazer efeito.
O conselho:
Nunca, jamais e em tempo algum nesta vida
apaixone-se pelo sorriso de alguém
porque este é um sentimento de morte,
lamechas, teimoso e danado de forte
que desconhece o fim pois renova-se toda vez
que a tal boca revela-se e sorri.
E assim, feito Minotauro, está-se preso para sempre
neste labirinto erguido por sentimentos impróprios
donde não se sabe como sair. 


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

e.e. cummings





Let’s Live Suddenly Without Thinking

let’s live suddenly without thinking

under honest trees,
                        a stream
does.the brain of cleverly-crinkling
-water pursues the angry dream
of the shore. By midnight,
                                a moon
scratches the skin of the organised hills

an edged nothing begins to prune

let’s live like the light that kills
and let’s as silence,
                            because Whirl’s after all:
(after me)love,and after you.
I occasionally feel vague how
vague idon’t know tenuous Now-
spears and The Then-arrows making do
our mouths something red,something tall

E. E Cummings

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Ex-papa, o homem que deixou de ser santo.




Devido ao tamanho da minha ignorância, que normalmente subestimo para o meu próprio bem estar, eu nem sequer sabia que isso de Papa poder renunciar existia. Não senhor. Existe? Para a minha inculta e não muito católica pessoa, o Papa era eleito para todo o sempre, tal amor de conto de fadas e casamento celebrado sob teto católico, para sair de cena apenas com a morte. Não é para ser assim? Sacrifício desumano para um homem idoso? E alguém em algum dia nesta vida achou que a Santa Igreja Católica tivesse um toque de humanidade que fosse? E não há tantos, com tão pouco e de todas as idades a sacrificar-se todos os dias? Afinal, não é assim que as coisas da igreja são quando nos casamos com ela: até que a morte nos separe, na saúde ou na doença, na riqueza ou na pobreza, e blá...blá...blá; mesmo que a convivência da família já esteja para lá de deteriorada?

A verdade é que me assustou a tal renúncia como se ela fosse algo inconcebível, quase um pecado fatal. Como ele pôde simplesmente renunciar? Onde está a santidade deste homem que neste momento se mostra mais humano do que grande parte de nós? Bem, por um lado agrada-me em demasia vê-lo assim tão humano, pois, assim quiçá os crentes poderão ter a medida certa de que são apenas homens aqueles que os têm ditado regras e que os dizem como devem pensar por quase dois mil anos. E agora, para meu espanto, o senhor Joseph Ratzinger ainda cumprirá uma espécie de aviso prévio até o final do mês no comando desta instituição que tem tentado, tal como qualquer superpotência imperialista, governar o Universo que nos rodeia e nos permeia.  E entre o trágico e o cômico, já posso vê-lo a colocar em caixas de papelão seus pertences pessoais, a retirar as fotos da família de sobre a mesa e a receber os abraços solidários antes de fechar a porta do escritório.

Claro é que por conta do livre arbítrio, como deveria ser a qualquer filho de Deus, o senhor Ratzinger tem o direito e o dever de fazer o que quiser de sua vida, pois a ele e a mais ninguém ela pertence. Entretanto, mesmo para mim, que sou filha de mãe católica nada fervorosa e muito democrática e de pai que se diz ateu, apesar de chamar-se Jesus, causa certo incômodo tal notícia. Um incômodo meio burro, é certo, que nos faz sentirmo-nos seguros quando o Mundo caminha como sempre caminhou e quando o que está pré-estabelecido como uma verdade única continua a valer pelo simples fato de assim dever ser. Desta maneira nos sentimos a salvo, e hoje o ex-Papa quebrou a tal segurança e nos fez pensar. Imagino que deva haver católicos cegos em profunda depressão agora, e que esta seja uma excelente hora para eles abrirem os olhos e verem o mundo como ele realmente é pelo menos por uma vez.

Talvez, a renúncia deste senhor sirva para repensarmos a igreja. Não me refiro à instituição, mas sim a fé sobre a qual ela foi erguida e que deveria pregar o amor e a compreensão acima de qualquer coisa. E isso sim, isso eu gostaria muito de ver: uma igreja muito mais humana e, por isso mesmo, muito mais divina que, democrática e carinhosa, acolhesse a todos como iguais sem a intenção de governar nossas mentes e corações. Quem sabe um dia? Por hoje, no final das contas, agrada-me o fato de pela primeira vez na vida eu ter visto um homem santo proclamar-se, unicamente, um homem. Seja lá por doença, por jogos políticos ou pelo que quer que seja, hoje, ao deixar de ser Bento XVI, o senhor Joseph fez o que de melhor ele podia fazer para a fé de todos nós: ele mostrou-se homem como qualquer um. Pois crer no homem, mais do que em santos, é o que precisamos nós por estes dias.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Tão parecida comigo que chega a doer...



Dull Routine
Bluebell


Muitas nuvens, ela veste cinza
unhas descascadas e os cabelos presos
leva um livro pra não ter que falar com ninguém
escreve versos enquanto espera o trem

Trem vazio, no vagão só ela
assovia baixo e senta na janela
bate os pés num ritmo não muito rápido
acho que é samba, pode ser jazz também...

Sometimes I wish I was stupid
Sometimes I wish I was deaf, dumb and blind

Then I wouldn't know that there's more than this
Maybe then I'd be free

Trem vazio, no vagão só ela
assovia baixo e senta na janela
bate os pes num ritmo não muito rápido
acho que é samba, pode ser jazz também...

Escreve versos enquanto espera o trem...

Another hit and
Another pill and
Another sip and
I can finally be me

Another evening
Of a wasted weekend
No more feeling
And that's my dull routine

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Boca




Somos todos bocas
Falantes e insuportáveis bocas que têm muito a dizer o tempo todo
Muitos para falar. Ninguém para ouvir.
Bocas
Bocas
Bocas
Falando o tempo todo.
Dizendo o que não importa
Nem interessa.
O que não tem porquê.
Por vezes não sei se tenho mais vontade de gritar
Ou de calar. Ah!
O silêncio, queria o silêncio.
Mas o silêncio não existe, existem apenas bocas
Providas de línguas
Providas de úvulas. Malditas úvulas.
Malditas línguas que falam e produzem sons
Como se disso depende-se a vida,
Como se falar fosse tão importante quanto respirar.
Malditas.
Queria o silêncio, queria tê-lo,
Merecê-lo.
Mas o meu silêncio não existe.
(queria poder me calar)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Vaga


A vagar, sem ocupação certa de tempo e espaço,
sem direção e razão,
caminho.
Ando.
Arrasto-me.
Como vaga oceânica, movo-me.
Melhor,
movem-me as forças das águas sentidas,
dos suspirados ventos e
das marés de pensamentos que sabem-se inúteis e que em canto algum desaguarão.
Tudo em mim é espaço, uma amplidão nua e pacífica
que cega os olhos com sua brancura insípida
e enoja a razão com sua falta de motivos, desejos e intenções.
A vagar passo por estes vagos caminhos
de uma vida vil,
pouca,
pequena,
como uma sombra de alguém que nunca chegou a lugar algum,
que não chegou, sequer e simplesmente,
a ser.


People



And the worst part is: 
I am a complication.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

O Fim da Propaganda Enganosa

Nosso ladino  Presidente do Senado, o Sr. Calheiros.



Há alguns anos li, num artigo escrito pelo então presidente Zapatero no El País, que o Brasil passara por uma transformação com Lula, o mandatário-mor brasileiro à época, que unira toda a nação em prol de uma revolução econômica e social que tornava esta uma nação mais justa, igualitária e melhor para todos. Lembro-me que, à medida que avançava na leitura, me questionava que país era aquele descrito pelo “iludido” espanhol. O Brasil era um país justo? O Lula uniu a nação? Quando, se eu nem sombra disso vi?

Pouco tempo depois a ouvir o Sr. Obama chamar nosso querido ex-presidente de “o cara”, a exaltar suas qualidades como chefe de nossa nação, entrei em pânico: Deus meu, estamos mesmo enganando todo mundo a propagar uma falácia  em escala global. O Mundo cria que éramos muito melhores do que, ainda hoje, somos; e eu sentia-me mal sempre que qualquer gringo elogiava a minha “tão melhorada” nação. Sentia-me parte de um embuste e sorria, amarelada como minha bandeira, com um: Bom, não é bem assim não.

Entretanto, e entre tantos, como toda mentira tem pernas curtas e não podemos enganar a todos durante todo o tempo, nossa pose de nação-do-futuro e milagre-econômico deste milênio já não engana a ninguém. Entre escandalosos casos de corrupção dentro e fora do governo e uma absurda santa-inocência que cega Lula: o presidente que de nada sabe e que nada vê, e centenas de projetos governamentais (o PAC entre outros) que consomem muito dinheiro e do qual vemos muito pouco para além de inaugurações de fachada, o Mundo começou a perceber que o milagre brasileiro não tinha sido algo tão milagroso assim.

Em 2013 estamos, como sempre, a fazer das nossas com uma maestria sem igual, de tal forma que deveríamos registrar o substantivo “brasileirada” como: ação mal feita, errada por princípio, geralmente ligada à corrupção e a leniência, que resulta num fato a se lamentar no final. O governo a maquiar números de nossa economia para que a situação pareça melhor do que realmente é, as obras de infraestrutura para a Copa que não sairão do papel, a presidente a fazer graça depois do aumento dos combustíveis na televisão, como se houvesse alguma,  a inflação a mostrar suas unhas, o nosso PIB de miséria, e etc. e tal.

A verdade é que desde a morte de 237 meninos e meninas em Santa Maria no sábado passado por simples e costumeira irresponsabilidade e usura de um par de pessoas que agora tentam, à la Pilatos, lavar as mãos, até a vergonhosa eleição do Sr. Renan Calheiros como presidente do Senado brasileiro, (cargo do qual ele renunciou anos atrás para evitar uma cassação por crimes de peculato, falsidade ideológica e falsificação de documentos) nesta última sexta-feira, tem sido difícil ter um pingo que seja de orgulho de ser brasileiro. Pois, somos ou não somos parte disso tudo também?

A única coisa que me consola é que hoje, pelo menos, já não enganamos a mais ninguém. E eu já não tenho que explicar que o país onde vivo, e o qual amo apesar de tudo, não é aquele que aparece nos jornais ou na televisão por este mundão de meu Deus.

Boa semana, e um beijo a todos.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Dia de Iemanjá - Axé




Lenda das Sereias

Oguntê, Marabô
Caiala e Sobá
Oloxum, Ynaê
Janaina e Yemanjá
São rainhas do mar

Mar, misterioso mar
Que vem do horizonte
É o berço das sereias
Lendário e fascinante

Olha o canto da sereia
Ialaó, oquê, ialoá
Em noite de lua cheia
Ouço a sereia cantar
E o luar sorrindo
Então se encanta
Com as doces melodias
Os madrigais vão despertar

Ela mora no mar
Ela brinca na areia
No balanço das ondas
A paz, ela semeia
Ela mora no mar
Ela brinca na areia
No balanço das ondas
A paz, ela semeia
A paz, ela semeia
A paz, ela semeia

Oguntê, Marabô
Caiala e Sobá
Oloxum, Ynaê
Janaina e Yemanjá
São rainhas do mar