segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Ex-papa, o homem que deixou de ser santo.




Devido ao tamanho da minha ignorância, que normalmente subestimo para o meu próprio bem estar, eu nem sequer sabia que isso de Papa poder renunciar existia. Não senhor. Existe? Para a minha inculta e não muito católica pessoa, o Papa era eleito para todo o sempre, tal amor de conto de fadas e casamento celebrado sob teto católico, para sair de cena apenas com a morte. Não é para ser assim? Sacrifício desumano para um homem idoso? E alguém em algum dia nesta vida achou que a Santa Igreja Católica tivesse um toque de humanidade que fosse? E não há tantos, com tão pouco e de todas as idades a sacrificar-se todos os dias? Afinal, não é assim que as coisas da igreja são quando nos casamos com ela: até que a morte nos separe, na saúde ou na doença, na riqueza ou na pobreza, e blá...blá...blá; mesmo que a convivência da família já esteja para lá de deteriorada?

A verdade é que me assustou a tal renúncia como se ela fosse algo inconcebível, quase um pecado fatal. Como ele pôde simplesmente renunciar? Onde está a santidade deste homem que neste momento se mostra mais humano do que grande parte de nós? Bem, por um lado agrada-me em demasia vê-lo assim tão humano, pois, assim quiçá os crentes poderão ter a medida certa de que são apenas homens aqueles que os têm ditado regras e que os dizem como devem pensar por quase dois mil anos. E agora, para meu espanto, o senhor Joseph Ratzinger ainda cumprirá uma espécie de aviso prévio até o final do mês no comando desta instituição que tem tentado, tal como qualquer superpotência imperialista, governar o Universo que nos rodeia e nos permeia.  E entre o trágico e o cômico, já posso vê-lo a colocar em caixas de papelão seus pertences pessoais, a retirar as fotos da família de sobre a mesa e a receber os abraços solidários antes de fechar a porta do escritório.

Claro é que por conta do livre arbítrio, como deveria ser a qualquer filho de Deus, o senhor Ratzinger tem o direito e o dever de fazer o que quiser de sua vida, pois a ele e a mais ninguém ela pertence. Entretanto, mesmo para mim, que sou filha de mãe católica nada fervorosa e muito democrática e de pai que se diz ateu, apesar de chamar-se Jesus, causa certo incômodo tal notícia. Um incômodo meio burro, é certo, que nos faz sentirmo-nos seguros quando o Mundo caminha como sempre caminhou e quando o que está pré-estabelecido como uma verdade única continua a valer pelo simples fato de assim dever ser. Desta maneira nos sentimos a salvo, e hoje o ex-Papa quebrou a tal segurança e nos fez pensar. Imagino que deva haver católicos cegos em profunda depressão agora, e que esta seja uma excelente hora para eles abrirem os olhos e verem o mundo como ele realmente é pelo menos por uma vez.

Talvez, a renúncia deste senhor sirva para repensarmos a igreja. Não me refiro à instituição, mas sim a fé sobre a qual ela foi erguida e que deveria pregar o amor e a compreensão acima de qualquer coisa. E isso sim, isso eu gostaria muito de ver: uma igreja muito mais humana e, por isso mesmo, muito mais divina que, democrática e carinhosa, acolhesse a todos como iguais sem a intenção de governar nossas mentes e corações. Quem sabe um dia? Por hoje, no final das contas, agrada-me o fato de pela primeira vez na vida eu ter visto um homem santo proclamar-se, unicamente, um homem. Seja lá por doença, por jogos políticos ou pelo que quer que seja, hoje, ao deixar de ser Bento XVI, o senhor Joseph fez o que de melhor ele podia fazer para a fé de todos nós: ele mostrou-se homem como qualquer um. Pois crer no homem, mais do que em santos, é o que precisamos nós por estes dias.

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