domingo, 24 de fevereiro de 2013

Divino



Da esquerda: Meus tios Rosa e Divino, meus pais Jesus e Odila,
 meu irmão Sérgio, Ana  (irmã  que ganhei) e eu.

Desde menina, a partir do momento no qual compreendi o caráter efêmero da vida de cada um, assombrava-me um pavor avassalador da morte. Sozinha, à noite, por motivos quaisquer, vinha-me esta certeza angustiante e assustadora: um dia eu morrerei, deixarei de existir. Tal ideia, numa fase ainda egocêntrica da minha existência, mostrava-se como o mais cruel dos fatos; e eu entrava em pânico e congelava sob as cobertas ao perceber que não haveria como fugir de tal destino. Invariavelmente, então, punha-me a chorar porque queria chamar a atenção de alguém. Queria companhia. Quase tão invariavelmente, meu pai vinha ao meu quarto a perguntar o porquê do choro e eu, muito sem saber como explicar que apenas queria a companhia de alguém no meio da noite, dizia que estava com medo de algo sem saber explicar de quê era o tal medo.

Quando eu era menina, a minha morte era o fato mais trágico que podia me atingir, sem dúvida alguma. Contudo, a verdade é que quando somos meninos não sabemos nada da vida; e este é um fato mais concreto que a tal morte, sem dúvida alguma. E a verdade é que hoje não há quase nada menos importante para mim do que o feito de que um dia chegará a minha hora. Pois esta, sem sombra de dúvida, será a morte menos sentida por mim. Antes, e muito mais cruel, é toda a despedida que o tempo me traz nesta vida. Dizer adeus a alguém e ver ir-se, à revelia da minha vontade, uma parte grande de quem sou, como se o meu mundo estivesse a desmanchar-se frente aos meus olhos, tem se mostrado a mais difícil provação divina.

Mesmo sabendo que de nada adianta qualquer revolta e questionamento, e aceitando tal gado este fado, a morte sempre me assusta e eu volto, por alguns minutos, a sentir-me a menina sozinha em seu quarto à noite. E foi assim que me senti nesta semana ao saber que, feito os passarinhos que ele tanto admirava, meu tio Divino voou e deixou-nos para sempre. Para o bem dele e para o seu devido descanso depois de um ano inteiro de luta e dor, mas para o nosso pesar egoísta, meu tio cá já não está. E eu queria apenas dizer, mesmo assim de longe e com certo atraso, adeus. Tio, sentirei muito a tua falta.

Sentirei falta da tua eterna cordialidade e gentileza, da maneira simples de ser e do sorriso constante. Sentirei uma falta absurda de ouvir alguém a me chamar de Estelinha ou Telinha como apenas os que me conhecem desde sempre o sabem fazer. Sentirei saudades de vê-lo ao lado da minha tia Rosa e de saber que está por aí em viagens ou passeios ao lado dos meus pais. Sentirei falta de provocar-te sempre que vinha com a camisa do Tricolor paulista a minha casa como em tom de desafio; provocação máxima de um dos mais pacíficos torcedores que eu conheço. Sentirei saudade de tudo, enfim: de suas qualidades e defeitos, pois sendo Divino de nome, e principalmente por isso mesmo, teve lá suas falhas na vida como toda criatura de Deus as sabe ter. Mas, tenha certeza tio, você foi um grande homem naquilo que importa ser e, por isso, a família ficou um tanto órfã desta vez. Um beijo e te cuida, sim?

Um beijo a todos, sem exceção.

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