domingo, 16 de junho de 2013

20 Centésimos para a gota d’água



Apesar de dar a impressão de mesquinharia, de estarmos a fazer muito barulho por nada à la Shakespeare, o fato é que a verdade está tão longe disso quanto o Brasil da Inglaterra  e é diametralmente oposta à irrisória quantia que parece ter movido a nossa ação: 20 centavos. Num país onde somos roubados, agredidos e cerceados diariamente, e às claras, parece-me que vergonha sempre foi o nosso estado de inércia total. Pois estar calado, diariamente, num país economicamente rico, somos a 6ª maior economia deste planeta, e que simplesmente não funciona como nação parece piada. Temos uma das piores situações socias deste mundo: a educação é vergonhosa, a saúde pública irrisória, o transporte público ignorado, a qualidade de vida em nossas cidades piora irremediavelmente diante de nossos olhos dia a dia e ainda achamos que não há motivo para gritar?

Tudo isso é difícil de compreender para qualquer cidadão que exercite suas funções como tal, e que entenda que aqueles que estão no poder o representam, mas que ele, como lhe confere a tal cidadania, é parte integrante deste poder e deve exercê-lo sempre. Pois, talvez estejamos a começar este caminho de compreender o que significa a palavra cidadania de uma vez por todas aqui. Espero sinceramente que sim. Falta-nos ainda compreender que não precisamos ser miseráveis para reclamar, e que lutar por uma Nação melhor é função daqueles que têm condições para isso muito mais do que daqueles que não as têm. Então, não importa ter carro ou não, ter dinheiro ou não, poder assistir a um jogo de futebol e pagar caro por isso ou não. Nada disso importa, pois nada disso nos exclui de nossas obrigações como cidadãos. Nada.

Por isso, não me dá vergonha a baderna e as depredações que ocorreram, apesar de não concordar com elas, e não vejo que todo o movimento e a ação perdem seu direito de existir por isso. Dá-me vergonha perceber o egoísmo de nossa classe média, da maioria de nossa população que simplesmente parece não perceber o que acontece neste país. Incomoda-me ver que nos eximimos de quaisquer responsabilidades por qualquer coisa e deixamos o Brasil ser dominado pelos outros como se a nós nada disso pertencesse, como se aqui não tivéssemos nossas casas e não fossem crescer os nossos filhos. Pois, devemos mesmo parecer uma nação de seres constituídos de sangue de barata, não? Bom, para muitos deve ser mesmo esta a impressão, e talvez eles estejam cobertos de razão. Talvez.

Eu, por estes dias, começo a sentir-me orgulhosa de minha nação que começa a mostrar sua cara nas ruas, já que acredito que um país é a sua população e não um mapa a ser decorado ou um governo qualquer. Hoje, já não somos vistos por este mundo como um país de bundas desnudas, de carnaval e futebol apenas. Há o futebol, claro, contudo há também muito mais a ser feito e dito por aqui e, como dever ser em toda democracia, há espaço e hora para tudo. Falta apenas que todos nós entendamos que fazemos parte deste processo e que devemos tomar parte nele. O Brasil não é feito de corruptos ou baderneiros, não senhor. Então, falta-nos levantar a voz para mostrar quem somos nós, já que com sussurros nunca seremos ouvidos.




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