Um par de anos atrás eu me sentia muito mais do que
incomodada ao ler um artigo escrito pelo então presidente espanhol, José Luis Zapatero,
para o El País sobre o nosso país e presidente. A vergonha advinha do fato de
eu não perceber, de forma ou maneira alguma, como aquele paraíso a ser descrito,
e enaltecido, podia ser o meu país. Muito menos, atinava por causa de quais
magias o Sr. Lula era pintado como um homem quase santo, o messias de sua nação
que havia comovido e movido toda sua gente tal Moisés pelo deserto e feito, com
suas próprias mãos, um milagre deste país. E eu pensava indignada pelo engodo
mundial que éramos nós: Deus meu, estamos a vender gato por lebre. E olha que o
naipe do felino era o da pior espécie.
Sim, porque além de não reconhecer em nada o que e quem ali
era descrito, eu sabia que a situação aqui deteriorava a passos largos num país
cada vez mais injusto e violento. O Lula que conhecíamos intimamente, e
tristemente, já em seu segundo mandato e com o escândalo do Mensalão pesando
nas costas, não era nem sombra do que sobre ele se pregava aos quatro ventos e
pelos cinco continentes. Ele era aquele que se tornara o oposto de tudo aquilo
que havia pregado durante uma vida de militância e que vendera, junto com todos
os seus, a alma ao diabo em troca da manutenção do PT para todo o sempre com o
Brasil em suas mãos. Éramos governados por homens sedentos por dinheiro,
regalias e a boa vida, seres inebriados pela sanha do poder e capazes de fazer
tudo e qualquer coisa para preservarem-se no mando em nosso país. Ainda o
somos.
Para trás, e no lixo, haviam ficado todas as crenças, as
ideologias, e toda uma multidão que celebrou a vitória de alguém que os
representaria finalmente. E Brasília viu
muita gente na rua no dia que Lula tomou posse, como não se via há muito tempo.
E eu me emocionei com um fato que para mim mudaria a nossa história. Mas nada
mudou. Nada. Ficou apenas a completa descrença e certo egoísmo que já me cai
bem à altura da vida. Sobrou-me a revolta porque sei que vivemos num país rico
cheio de pessoas pobres que sofrem, diariamente, com o descaso daqueles que nos
governam e que por nós são pagos, e muito bem pagos através dos impostos por sinal,
para cuidar do bem estar comum. Irritava-me a nossa calma, a nossa paciência, a
nossa leniência.
Pois, hoje vejo, para a minha felicidade, que até aquilo que
parece não ter fim, um dia acaba. Acaba sim. Acabou a nossa paciência e estamos
cobertos de razão. Temos todas as razões, razões de sobra, para andarmos a
tomar as cidades e a mostrar que elas são nossas. Alegra-me ver o medo e a
surpresa daqueles que pensavam nos controlar feito gado, de pala posta e
cabresto bem apertado. E como o diria
muito bem Renato Russo, e com licença pela minha falta de educação, eles estão
mesmo com o cu na mão sentados detrás de suas mesas. Dilma, PT e companhia já
não sabem o quê e como fazer para saírem desta situação que parece não ter uma
saída confortável e agradável para nenhum deles. Espero mesmo que não haja a
tal saída. E espero orgulhosa, e do fundo do meu coração, que toda esta
meninada que sai pelas ruas faça aquilo que a minha geração e aquelas que
vieram antes da minha não souberam fazer. Espero ver uma sociedade mais forte e
politizada, cheia de gente que sabe muito bem quais são seus direitos e que há
os seus deveres também. Espero ver um povo unido que lute pelo bem comum de todos
e que torne seu país algo melhor para cada um sem distinção.
Por enquanto agrada-me em demasia que pelo menos todos, em
todos os cantos do mundo, saibam que o paraíso não é aqui. E sinto-me orgulhosa
de meu país como nunca me senti.
Boa semana a todos.
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