sábado, 22 de junho de 2013

Brasil de Olhos Arregalados



Um par de anos atrás eu me sentia muito mais do que incomodada ao ler um artigo escrito pelo então presidente espanhol, José Luis Zapatero, para o El País sobre o nosso país e presidente. A vergonha advinha do fato de eu não perceber, de forma ou maneira alguma, como aquele paraíso a ser descrito, e enaltecido, podia ser o meu país. Muito menos, atinava por causa de quais magias o Sr. Lula era pintado como um homem quase santo, o messias de sua nação que havia comovido e movido toda sua gente tal Moisés pelo deserto e feito, com suas próprias mãos, um milagre deste país. E eu pensava indignada pelo engodo mundial que éramos nós: Deus meu, estamos a vender gato por lebre. E olha que o naipe do felino era o da pior espécie.

Sim, porque além de não reconhecer em nada o que e quem ali era descrito, eu sabia que a situação aqui deteriorava a passos largos num país cada vez mais injusto e violento. O Lula que conhecíamos intimamente, e tristemente, já em seu segundo mandato e com o escândalo do Mensalão pesando nas costas, não era nem sombra do que sobre ele se pregava aos quatro ventos e pelos cinco continentes. Ele era aquele que se tornara o oposto de tudo aquilo que havia pregado durante uma vida de militância e que vendera, junto com todos os seus, a alma ao diabo em troca da manutenção do PT para todo o sempre com o Brasil em suas mãos. Éramos governados por homens sedentos por dinheiro, regalias e a boa vida, seres inebriados pela sanha do poder e capazes de fazer tudo e qualquer coisa para preservarem-se no mando em nosso país. Ainda o somos.

Para trás, e no lixo, haviam ficado todas as crenças, as ideologias, e toda uma multidão que celebrou a vitória de alguém que os representaria finalmente.  E Brasília viu muita gente na rua no dia que Lula tomou posse, como não se via há muito tempo. E eu me emocionei com um fato que para mim mudaria a nossa história. Mas nada mudou. Nada. Ficou apenas a completa descrença e certo egoísmo que já me cai bem à altura da vida. Sobrou-me a revolta porque sei que vivemos num país rico cheio de pessoas pobres que sofrem, diariamente, com o descaso daqueles que nos governam e que por nós são pagos, e muito bem pagos através dos impostos por sinal, para cuidar do bem estar comum. Irritava-me a nossa calma, a nossa paciência, a nossa leniência.

Pois, hoje vejo, para a minha felicidade, que até aquilo que parece não ter fim, um dia acaba. Acaba sim. Acabou a nossa paciência e estamos cobertos de razão. Temos todas as razões, razões de sobra, para andarmos a tomar as cidades e a mostrar que elas são nossas. Alegra-me ver o medo e a surpresa daqueles que pensavam nos controlar feito gado, de pala posta e cabresto bem apertado.  E como o diria muito bem Renato Russo, e com licença pela minha falta de educação, eles estão mesmo com o cu na mão sentados detrás de suas mesas. Dilma, PT e companhia já não sabem o quê e como fazer para saírem desta situação que parece não ter uma saída confortável e agradável para nenhum deles. Espero mesmo que não haja a tal saída. E espero orgulhosa, e do fundo do meu coração, que toda esta meninada que sai pelas ruas faça aquilo que a minha geração e aquelas que vieram antes da minha não souberam fazer. Espero ver uma sociedade mais forte e politizada, cheia de gente que sabe muito bem quais são seus direitos e que há os seus deveres também. Espero ver um povo unido que lute pelo bem comum de todos e que torne seu país algo melhor para cada um sem distinção.

Por enquanto agrada-me em demasia que pelo menos todos, em todos os cantos do mundo, saibam que o paraíso não é aqui. E sinto-me orgulhosa de meu país como nunca me senti.


Boa semana a todos.

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