O Mundo dos Homens
Na Grécia e Roma antigas, como
muitas civilizações, a mulher era tida como um ser de categoria inferior. Seu
âmbito de atuação era definido de acordo com suas funções definidas pela
criação divina: trabalhos domésticos e a procriação. Uma mulher não era vista
como uma cidadã e pertencia aos homens de sua família; pai, irmãos e marido num
mundo onde o assassinato de meninas recém-nascidas era algo comum. Mais de uma
filha numa família era um problema; quase um castigo dos céus.
Lembro-me de estudar as
civilizações antigas durante meus anos de escola e de me assombrar com a
situação das mulheres naquela época. Lembro-me de sentir um grande alívio por
não ter sido uma mulher da antiguidade e de não conseguir imaginar e
compreender como poderia ser um mundo assim. Bom, somos realmente muito
inocentes, parvos mesmo, durante a adolescência, não?
Sim. Pois apesar de eu nunca ter
sofrido qualquer tipo de violência ou preconceito para além das tolas
brincadeiras de alguns, apesar de ser uma mulher completamente independente e
livre para ir e vir quando e para onde eu quiser, apesar de eu poder fazer o
que quiser sempre e de ter sido sempre tratada com respeito por todos, homens e
mulheres, até hoje. Apesar de tudo isso, a verdade é que o mundo não mudou
quase nada desde o tempo das togas e que eu, como muitas outras mulheres,
sempre tive muita sorte nesta vida. Meu anjo da guarda deve ser completamente
maníaco por trabalho; tenho certeza.
Ainda hoje vivemos num planeta
onde meninas recém-nascidas são mortas, como na Índia e na China, porque elas
são vistas como um peso para a família. Neste mesmo mundo, tão moderno, de acordo
com a Organização Mundial de Saúde, há mais de 200 milhões de mulheres e
meninas que sofreram mutilação genital em mais de 29 países.
Se nada for feito até 2030
teremos, em nosso planeta azul, mais de 1 bilhão de meninas casadas durante sua
infância segundo previsão do Fundo de População das Nações Unidas. Prática que
condena estas futuras mulheres à violência doméstica, à pobreza já que são
retiradas da escola para se casar, a problemas sérios de saúdo ligados às DSTs
e à gravidez precoce. Apesar de ser um crime, o casamento infantil é ainda
comum em muitos países asiáticos, africanos e americanos.
E se, por acaso, nós imaginarmos
que tudo isso é uma realidade muito distante de nós, coisa de países exóticos e
distantes, basta abrir um pouco mais os olhos para saber que:
1. De acordo com
estatísticas da ONU 7 em cada 10 mulheres sofrerá violência sexual pelo menos
uma vez durante sua vida.
2. 35% dos
assassinatos de mulheres no mundo são cometidos por seus parceiros enquanto 5%
das mortes de homens são cometidas por suas parceiras.
3. Entre os 10
países com maiores porcentagens de violência sexual contra mulheres no mundo
figuram os Estados Unidos, México, Canadá, Alemanha, França e Reino Unido.
4. Cerca de 50
mil mulheres são estupradas no Brasil por ano e na grande maioria das vezes por
um homem conhecido; algum parente ou amigo. Em muitos e muitos casos ninguém é
preso ou sofre qualquer punição.
Nesta semana uma menina
brasileira de 16 anos foi estuprada por vários homens e o que mais foi
questionado pela grande maioria dos brasileiros foi a conduta desta menina. E o que mais me entristece nisso tudo é que se não houvesse um vídeo do crime, (que
deveria ser por si só prova segura de que ele ocorreu), a menina nada teria
dito sobre o ocorrido. Pois, no mundo que pertence aos homens, mulheres e meninas
ainda se calam porque elas sentem que este mundo não pertence a elas.