O Nosso Jogo
O Brasil é um
país de dimensões continentais e aparece gigantesco abaixo da linha do Equador dominando
uma parte tão extensa da América do Sul que nos faz pensar, equivocadamente, que
somos grande coisa neste Mundão que Deus nos deu. Quando eu era criança e nada
entendia do mundo, era esta a impressão que eu tinha. Quando eu era criança o
Brasil era o melhor e o maior país do mundo, porém, mais do que o nosso tamanho
no mapa, talvez isso se desse pela mistura que eu tinha de pouca televisão com
informações sobre o planeta azul e um grande ufanismo presente nos bancos
escolares dos anos de chumbo por cá. Talvez.
Bom, em extensão
somos gigantes e realmente há muita gente por aqui; mais de 200 milhões há
alguns anos já. Porém, em questões e matérias de grandiosidades andamos num déficit
melancólico de realizações desde que o mundo é mundo para nós, ou seja, desde
que os Portugueses nos avistaram, Terra Brasilis selvagem e mítica, de suas
pequenas e frágeis caravelas. Desde então somos a promessa de uma terra de
riquezas, o país de futuro promissor que nos parece nunca se cumprirá. Pois,
somos grandes, porém, desde sempre, somos um país de oportunistas muito mais do
que de oportunidades, e esta tem sido nossa sina.
Um dia destes, li
algo que Mia Couto, escritor moçambicano, disse e que me pareceu encaixar-se
feito luva na descrição de como é o nosso país. Principalmente de como ele tem
se mostrado mais uma vez ao mundo depois de anos de uma farsa burlesca durante
a qual acreditamos, cegos e tolos, que o futuro por cá havia chegado. Disse
ele: “A maior desgraça de um país pobre é que em vez de produzir riquezas,
produz ricos.”
Pois, não fomos,
nem somos, capazes de produzir um país justo onde suas riquezas são distribuídas
de forma leal e honesta para todos os cidadão, entretanto, na qualidade de
produzir ricos somos pródigos. Tão bons e ágeis somos nisso que daqui a alguns
dias seremos dignos de medalha de ouro no esporte mais tradicional desta nação:
o desvio de dinheiro público para bolsos privados. “Habemus” Jogos Olímpicos em
nosso país onde a educação pública, que deveria ser o berço do esporte, é
praticamente inexistente há décadas e onde o sucesso nos esportes depende do
esforço individual de cada atleta. Teremos Olimpíadas no falido estado do Rio
de Janeiro com direito a águas poluídas da Guanabara, a balas perdidas e
àquelas que têm uma direção certa, e a obras arquitetônicas caras e mal
projetadas. E a pergunta que não nos sai da cabeça enquanto o bolso aperta em
nossa falida pátria amada é: meu Deus, quanto mais as tais Olimpíadas ainda vão
nos custar?
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