quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Com vergonha de tudo e mais um pouco




Com vergonha de tudo e mais um pouco


Ando cidadã cabisbaixa, com vergonha minha, e nada alheia, de tudo que se passa na minha mui amada Terra Brasilis; meu noutros-tempos-porto-seguro. Pois, minha Pindorama, berço de gente sem muitos modos e detentora de todo o respeito por tudo que tem sentido profundo nesta vida e vale a pena, apesar de não valer muitos dinheiros, tem sofrido por demais em nossas mãos.

Feito cachorro louco, andamos alienados a tentar morder o próprio rabo e damos milhares de passos sem sair do lugar. Mergulhados numa crise gestada por nós mesmos, pela nossa maldita e crônica falta de compreensão do que vem a ser cidadania e sociedade e do quão fundamental elas são, temos visto a qualidade da existência em nosso país dar marcha à ré. Retrocedemos, à la Martin Macfly sem saber que isso era possível, para um passado mais injusto.

Pois, de futuro incerto e ameaçado, nos sentíamos um tanto desgovernados. Contudo, depois do último domingo, estamos a nos sentir total, completa e irrestritamente abandonados e à deriva num mundo desconhecido. Já sem futuro, aprendemos depois do incêndio absurdo e irresponsável no Museu Nacional no Rio de Janeiro que estamos a perder o nosso passado. E eu, como grande parte dos brasileiros, sinto-me enlutada a observar o desaparecimento do que chamo de minha nação.

Todas as obras de arte, artefatos, o conhecimento e a História perdidos no último domingo formavam parte do que somos nós desde sempre; desde antes de nos sabermos como brasileiros. No dia 03 de setembro de 2018 grande parte de nós foi apagada deste mundo sem possibilidades de volta não por falta de dinheiro como parece-nos num primeiro momento, e sim pelo descaso e pela falta de caráter de um povo e seus líderes que não dão qualquer importância à sua cultura e história.

Eu, de minha parte, sinto-me órfã como se meu país tivesse sumido do mapa e, definitivamente envergonhada de ser brasileira; a Candelária, Eldorado dos Carajás, Mariana, o Museu Nacional, a violência que nos mata todo santo dia...



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