domingo, 30 de junho de 2019
Amor de poeta
Amor de poeta
Poeta escreve linhas longas e cheias de palavras
para dar ao sentimento alguma vida.
Escreve outras bem curtas;
contidas.
Sério, ele escreve em ritmo sinuoso para dizer
do amor
torto
e secreto que ninguém imagina.
Amor de poeta, feito de verdades feias e doídas,
esconde-se por de trás de um par de LETRAS EM CAIXA ALTA
a disfarçar-se cheio de fantasia
em uma elaborada mentira.
Amor de poeta...
Amor de papel é belo porque na página dura por muito tempo,
para além do poeta
e de sua vida,
sem qualquer defeito.
Amor que em momento nehum ganhou vida,
não definha.
quinta-feira, 27 de junho de 2019
MansaMente
MansaMente
Doces palavras à deriva perdem-se
no real
oceano cotidiano onde nos afogamos por vontade própria.
Desterrados,
separados,
apartados estamos de quem verdadeiramente poderíamos ser, e tão
pequenos
somos
que tudo, e tanto, que sentimos não chega a ser coisa alguma.
Anestesiados
pensamos e cremos na ilusão de que as águas mornas deste oceano sem ondas
nos confortam.
Flutuamos à deriva, tranquilamente,
para onde não somos;
não estamos.
segunda-feira, 24 de junho de 2019
quinta-feira, 20 de junho de 2019
Lágrimas sem peso
Lágrimas sem peso
“... E choro
tudo o que não chorei pelos meus mortos. Depois adormeço. E as lágrimas, sem
peso, ficam-me presas aos olhos.” (in As Areias do Imperador 3 – O bebedor de
Horizontes de Mia Couto)
Entre as minhas
manias, que são inúmeras e engordam com o passar dos anos, uma nova apareceu-me
por estes dias: o livro do Metrô. Explico-me. Chamo de livro do Metrô àquele
que apenas leio nos transportes públicos, e/ou que carrego comigo sempre que
sei que algum tempo de espera se fará presente na minha rotina, e que fica a
dormir em casa à espera de um novo passeio. Por estes dias o tal livro é o
terceiro e último episódio de As Areias do Imperador de Mia Couto. E sentada no
banco do tal Metrô, livro em punho, a frase - “E as lágrimas, sem peso,
ficam-me presas aos olhos.” – mergulha em mim contundentemente.
Penso no peso
das dores que não foram choradas por completo pelos mais diversos motivos. Porque
temos que ser fortes, porque percebemos que algumas de nossas dores são tão
absurdamente ridículas para o mundo que nos contemos e suspendemos as nossas lágrimas
que ficam para sempre a morar em cima dos nossos olhos, porque já choramos
tanto durante tantos anos que as nossas lágrimas ficam mais sabidas e não se lançam
dos olhos por qualquer motivo; principalmente por motivos antigos,
pré-históricos. Lágrimas contidas.
Seja lá como
for, ou quem for, a verdade é que com a idade ou a experiência ganham seriedade
as lágrimas que não se desperdiçam em vão. Elas acautelam-se, preparam-se para
momentos em que o nó na garganta aperta em demasia e a enchente da alma ultrapassa
o tênue limite delimitado pelos cílios dos olhos. Lágrimas adultas caem gordas
e profundamente sentidas mesmo que sejam minúsculas e solitárias. Lágrimas doídas.
Sei que para
alguns, homens ou mulheres, é mais difícil chorar. Pessoas mais controladas,
quiçá. Para mim sempre foi fácil isso de deixar as águas rolarem olhos abaixo e,
como a personagem do livro, já passei algumas noites a chorar até cansar; até
dormir. Assim choram as pessoas ditas fortes: escondidas, sozinhas, pelos
cantos ou sob os lençóis. É bem verdade que também choro de tanto rir sem
vergonha e até passar mal, que já chorei de alegria e por orgulho com e pelos meus
miúdos e, o mais estranho dos choros que a mim me pertencem, choro quando quero
muito fazer xixi. Lágrimas freak.
Lágrimas sem
peso, mágoas sequinhas de tão antigas, a tristeza pertinente a todo ser que
pensa muito e, consequentemente, sente muito também. Quem não as têm bem
guardadas no canto dos olhos?
quarta-feira, 19 de junho de 2019
terça-feira, 18 de junho de 2019
Poesia
Poesia
De verso em verso constrói o poeta
um mundo no papel;
Universo frágil de destino incerto que pode,
de um repente,
desaparecer. Basta faltar papel,
ou chegar ao fim de sua vida breve e monocromática a esferográfica
de cor preta
de cor preta
que coabita a escrivaninha branca
com o pequeno caderno de cor parda e flores e pássaros de
mentira.
Assim, sem emoções verdadeiras sobre a mesa,
de papel e tinta é erguida uma terra bela e delicada
que aos olhos parvos do poeta é
perfeita.
segunda-feira, 17 de junho de 2019
quinta-feira, 6 de junho de 2019
segunda-feira, 3 de junho de 2019
"Sem Fantasia"
Vem, meu menino vadio
Vem, sem mentir pra você
Vem, mas vem sem fantasia
Que da noite pro dia
Você não vai crescer
Vem, por favor não evites
Meu amor, meus convites
Minha dor, meus apelos
Vou te envolver nos cabelos
Vem perde-te em meus braços
Pelo amor de Deus
Vem que eu te quero fraco
Vem que eu te quero tolo
Vem que eu te quero todo meu
Ah, eu quero te dizer
Que o instante de te ver
Custou tanto penar
Não vou me arrepender
Só vim te convencer
Que eu vim pra não morrer
De tanto te esperar
Eu quero te contar
Das chuvas que apanhei
Das noites que varei
No escuro a te buscar
Eu quero te mostrar
As marcas que ganhei
Nas lutas contra o rei
Nas discussões com Deus
E agora que cheguei
Eu quero a recompensa
Eu quero a prenda imensa
Dos carinhos teus
Passos
Passos
Duas mulheres caminham de braços dados
durante tantos passos
por um longo espaço de tempo;
caminho sabido pelos dois pares de pés que caminham
lado a lado
por desejo
muito mais do que por destino.
Braços que se separam apenas quando o espaço assim os obriga
na cidade onde pouco amparo para o carinho é projetado.
A mulher de cabelos já brancos a frente
segue, um tanto indecisa, o caminho que tantos outros passos
marcam
enquanto as mãos mais jovem
cheias de pressa,
com gestos bruscos, e um tanto brutos, organizam a blusa emaranhada
daquela que sempre foi a sua guia.
Amor compulsório e bravo de mãe e filha não permite espaço
para o desalinho,
para o desacato.
No final da escada rolante enlace automático
dos braços tão íntimos aos abraços...
As duas mulheres, mãe e filha, seguem em frente e tomam um
caminho
distinto
daquele que seguem, por obrigação, os meus olhos e os meus
passos.
E, assim, eu não sei qual desfecho terá esta estória de pés,
mãos e braços
que, por acaso, cruzou o meu caminho num dia de céu cinza e
poucas palavras.
Seguem sozinhos os meus pés saudosos
lembrando
o quão bom foi o tempo no qual a frente deles
seguia um par de pés pequenos que lhes mostravam
o destino.
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