Sem Ar
Ita significa
pedra, e eu sempre soube o que significa a palavra curumim. Mandioca faz parte
da minha dieta desde menina, como de todo brasileiro. Amo pipoca e sei preparar
tapioca. Entre as lendas e o folclore que construíram quem sou eu, mais do que
princesas, há a Caipora, a Iara e o Saci Pererê. Pois, é assim, apesar de não
haver em mim qualquer traço de sangue indígena e dos meus ancestrais terem
vindo todos de além mar, a herança cultural indígena faz parte de mim.
Não compreendo a
existência sem uma herança indígena, sem a mata como casa e sem as árvores como
amigas com quem se conversa regularmente. Falo com minhas plantas, coisa que
minha mãe me ensinou, e sinto falta delas como se sente falta de alguém que se
quer bem. Não sei o que as pessoas no geral sentem quando estão perto das
plantas pequenas ou das árvores gigantescas, mas eu sinto uma força enorme
vinda delas; um poder silencioso e tranquilo que me faz respirar mais
tranquilamente. Às vezes tenho ganas de ser árvore e ver, calmamente, a vida
acontecendo ao meu redor.
Por tudo isso,
além da tristeza que sinto pelo pouco respeito que meu país tem demonstrado por
nossas florestas, ando a sentir uma revolta crescente e um cansaço agudo de
ouvir tanta besteira sendo dita por quem, em teoria, me representa. O tal
Senhor Jair é mesmo um ser que beira a repugnância com seu discurso hipócrita,
ignorante e preconceituoso. Reflexo translúcido de seu falso interesse e
respeito pelo nosso país e de seus arroubos de ditador imperial. Seu Jair, mais
do que qualquer coisa na vida, quer mandar com mão forte e poucos argumentos. Já
que para ele a única coisa que interessa são os interesses próprios, e de sua
prole ignóbil, e a única verdade que conta é aquela que sai de sua perversa
cabeça.
Seu Jair vive num
mundo absurdo que é só dele e, infelizmente, anda a tornar o meu mundo mais
cinza e triste. Um mundo onde há dias nos quais me esforço para respirar porque
me falta o ar.
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