sexta-feira, 26 de novembro de 2021
quinta-feira, 25 de novembro de 2021
Quase
Quase
Quase dois anos de pandemia, de dias
blindados pela distância e de voz abafada por de trás de uma máscara. Nesses quase
dois anos, vivemos uma vida quase normal. Entretanto, o quase, no final de
todas as contas, significa que muito deixou de ser feito. Significa que pouco,
de fato, foi vivido para além dos feudos que criamos para nós mesmos. Acastelados
em nossas casas e apartamentos, nos escondemos e nos demos o direito a pouco. A
Pequenos grupos de amigos, a alguns membros da família, a parcos beijos e
abraços. Ao amor contido.
Deixamos de ver muitos, e muito. Não nos
demos a liberdade de simplesmente estar em qualquer lugar. Evitamos, com grande
incômodo para a alma, o contato com muitas gentes, com tantas gentes. E assim,
à força, forçados pelo medo e pela prudência, o quase chegou muito próximo ao
nada. Quase nada foi vivido verdadeiramente; sem limites ou medos.
Depois de tanto tempo, e tanto dizer
que nos mostra que muito não sabemos, a certeza que nos resta é não ter muita
certeza de como será a vida de agora para a frente. O futuro nunca foi tão
incerto para a grande maioria de nós. Para mim. Para mim, que tenho a
necessidade intrínseca de controlar minha vida à rédea curta, essa tal pandemia
chegou muito perto do caos; do fim dos tempos. De um repente, e sem a minha
permissão, o controle de minha vida, simplesmente, fugiu de mim.
Assim, depois de tudo, concluo que
quase, por estes tempos, é muito, é tudo, é nada.
quarta-feira, 24 de novembro de 2021
Eu canto samba / Quando bate uma saudade
Vem quando bate uma saudade
Triste, carregado de emoção
Ou aflito quando um beijo já não arde
No reverso inevitável da paixão
Quase sempre um coração amargurado
Pelo desprezo de alguém
É tocado pelas cordas de uma viola
É assim que um samba vem
Quando um poeta se encontra
Sozinho num canto qualquer do seu mundo
Vibram acordes, surgem imagens
Soam palavras, formam-se frases
Mágoas, tudo passa com o tempo
Lágrimas são as pedras preciosas da ilusão
Quando, surge a luz da criação no pensamento
Ele trata com ternura o sofrimento
E afasta a solidão
sexta-feira, 19 de novembro de 2021
A Censura Governamental no Brasil (Uma Ode à ignorância)
Questões
educacionais
MAFALDA É REPROVADA NO ENEM
De Laerte a Ferreira Gullar, de
Chico Buarque a Madonna – o que diziam as questões que o governo Bolsonaro
censurou em 2019 no Exame Nacional do Ensino Médio
Luigi Mazza in Revista Piauí
18 nov 2021_11h49
Mafalda, personagem de quadrinhos
criada pelo cartunista argentino Quino, é um sucesso conhecido no mundo inteiro
e traduzido em mais de 20 países. Em conversas com a mãe, com o pai e com os
amigos de escola, a menina expressa seu inconformismo diante do mundo. Numa
dessas tirinhas, publicada originalmente cinquenta anos atrás, Mafalda, prestes
a entrar para o jardim de infância, nota que sua mãe está apreensiva com a nova
fase na vida da filha. Por isso, Mafalda tenta tranquilizá-la: “Sabe, mamãe, eu
quero ir para o jardim de infância e estudar bastante. Assim, mais tarde não
vou ser uma mulher frustrada e medíocre como você!” A mãe fica desolada e
Mafalda sai andando, feliz. “É tão bom confortar a mãe da gente!”
Famoso, esse diálogo entre
Mafalda e sua mãe não agradou a uma comissão montada pelo governo Bolsonaro
para avaliar as questões que seriam aplicadas na versão 2019 do Enem, o Exame
Nacional do Ensino Médio. “Gera polêmica desnecessária”, concluiu a comissão,
ao justificar por que decidiu censurar a questão que trazia a personagem
argentina.
Naquele ano, atendendo aos
desejos do presidente Jair Bolsonaro, o então presidente do Inep, Marcus
Vinícius Rodrigues, montou uma equipe para analisar ideologicamente as questões
do exame. O grupo, composto por um procurador de Justiça, um diretor do Inep e
um ex-aluno de Ricardo Vélez Rodríguez, então ministro da Educação, se reuniu
ao longo de dez dias em março de 2019 e usou carimbos de “sim” e “não” para
aprovar ou rejeitar questões. Ao final dos trabalhos, eles excluíram 66
questões da prova, sem consultar a equipe técnica do Inep, que já havia
aprovado todos aqueles itens. Numa planilha de Excel, os censores apresentaram
justificativas sucintas – e mal explicadas – para suas escolhas.
Como a comissão só usou três
palavras, não fica claro o motivo de terem achado “polêmica” a tirinha de
Mafalda. É possível deduzir que ficaram incomodados com uma interpretação
feminista da história em quadrinhos. Também não se sabe mais detalhes da
questão. Nenhuma das perguntas foi divulgada. Isso porque elas não foram
deletadas do Banco Nacional de Itens; elas apenas não foram utilizadas na prova
daquele ano. No futuro, essas questões poderão aparecer no Enem, e, por isso,
precisam permanecer em sigilo.
A Piauí, no entanto, teve acesso
a um documento até hoje não divulgado em que servidores do Inep pediram a
reabilitação de parte das questões censuradas em 2019. Esse contraparecer,
ainda que não revele todo o conteúdo das perguntas, permite saber os assuntos
que incomodaram o governo, assim como as alegações usadas para retirá-los da
prova. Os servidores responsáveis pelo Enem pediram que 38 das 66 questões
fossem reabilitadas ou reconsideradas, e concordaram com a exclusão de 28
itens. O contraparecer até hoje não foi avaliado pela presidência do Inep. Com
isso, as questões censuradas, embora ainda pertençam ao banco de itens, estão
num limbo: não estão totalmente descartadas, mas também não podem ser
utilizadas até que haja uma nova decisão.
Os registros de 2019 talvez ajudem
a elucidar o que o presidente Jair Bolsonaro quis dizer, na última
segunda-feira (15), quando afirmou que o Enem deste ano terá “a cara do
governo”. A prova será aplicada nos próximos dois domingos, dias 21 e 28 de
novembro, em meio a uma crise sem precedentes no Inep, que levou 37 servidores
a entregarem seus cargos. Eles acusam o atual presidente do instituto, Danilo
Dupas, de assédio moral, de desrespeito às decisões técnicas dos servidores e
de interferência indevida no exame.
Assim como Mafalda, a cantora
Madonna foi censurada no Enem de 2019. Uma questão da área de linguagens usava
a letra da música Papa Don’t Preach para falar de gravidez na adolescência. Na
música, Madonna interpreta uma adolescente que confessa para seu pai que está
grávida. “Gera polêmica desnecessária”, disseram novamente os censores. Essa
foi a justificativa mais usada de todas: serviu para excluir 28 questões da
prova.
No contraparecer, os servidores
responsáveis pelo Enem pediram que a questão fosse reabilitada. Explicaram que
a música ajuda a explorar “as tensões associadas ao contexto” da gravidez
adolescente, e que a questão utiliza os conhecimentos de língua estrangeira
“como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e
culturas”. Argumentaram em vão, já que até hoje a questão continua barrada no
banco de itens.
Outras seis questões foram
censuradas por fazerem referência à ditadura militar. Uma delas citava o poema
“Maio 1964”, escrito por Ferreira Gullar, que fala sobre a violência e as prisões
políticas ocorridas nas semanas seguintes ao golpe. “Mas quantos amigos presos!
/ quantos em cárceres escuros / onde a tarde fede a urina e terror”, diz uma
das estrofes. No gabarito desse item constava apenas que a poesia tratava do
“contexto em que o Brasil se encontrava após o golpe militar”. A comissão de
censura do Inep, ainda assim, decidiu excluir a questão do exame. A
justificativa? “Descontextualização histórica do texto.”
A suposta “descontextualização
histórica” também foi usada pelos censores para excluir uma pergunta que se
baseava num poema de Paulo Leminski e tratava da ditadura. Uma outra questão,
que citava uma letra de música escrita por Chico Buarque (não se sabe qual),
foi censurada com a seguinte explicação: “Leitura direcionada da história /
Sugere-se substituir ditadura por regime militar.” Os servidores pediram que a
exclusão fosse revista.
Em alguns casos, os servidores –
talvez sabendo que não poderiam comprar todas as brigas – aceitaram os
argumentos dos censores. Na questão que falava de Ferreira Gullar, eles
concordaram que o gabarito era inadequado porque, segundo eles, o poema revela
o “sentimento” de Gullar, “mas não necessariamente esse texto revela o contexto
brasileiro”. Também foi censurada uma questão sobre a prática de tortura pelos
militares. Ao consentir com a exclusão da pergunta, os servidores comentaram:
“Um instrumento que apresente itens que se refiram apenas a um lado da história
se mostraria inadequado e polêmico.”
Não foram poucas as charges
barradas na prova do Enem. Uma delas mostrava uma pessoa na igreja, se
confessando para um padre. “Padre, eu pequei”, diz o personagem. O padre,
sentado em frente ao computador, acessando o Facebook, responde: “Eu já sabia…”
A religião não era o assunto central da questão. Na avaliação pedagógica feita
pelos servidores, o item “provoca o estudante a analisar criticamente e lançar mão
de outros recursos linguísticos”. Ainda assim, a comissão de censura excluiu a
questão, dizendo que ela “fere o sentimento religioso”.
Charge censurada no Enem em 2019
— Crédito: Reprodução/Autor desconhecido
A mesma justificativa foi usada
para censurar uma poesia de Manoel de Barros, usada em uma das questões. A
partir da descrição feita pelos servidores, pode-se deduzir que se tratava do
poema VII, de O Livro das Ignorãças, em que Barros faz alusão à Bíblia: “No
descomeço era o verbo”, diz o primeiro verso do poema, numa referência ao
Gênesis. Diante dessa heresia, os censores excluíram a questão e justificaram:
“Fere sentimento religioso e a liberdade de crença.”
A comissão de censura do Inep
usou a palavra liberdade para proteger sentimentos religiosos. Mas ignorou-a ao
excluir da prova de ciências humanas uma charge da cartunista Laerte que,
segundo o registro dos servidores, propunha uma “reflexão crítica sobre o
reconhecimento à diversidade na sociedade contemporânea”. Ao censurar a charge,
a comissão fez o seguinte comentário: “Leitura direcionada da história /
Direcionamento do pensamento.” Ao excluir uma outra questão, dessa vez na prova
de matemática, os censores do Inep foram além: disseram que o item “gera
polêmica desnecessária em relação à ideia de casal”.
Não faltam exemplos exóticos. Uma
outra questão, dessa vez na prova de ciências da natureza, falava sobre os
cuidados com relação ao vírus HIV e afirmava que o uso de camisinha é “o meio
de prevenção mais barato e eficaz” contra a Aids. “Gera polêmica desnecessária
/ Direcionamento do controle de saúde”, assinalou a comissão de censura do
Inep. Na mesma toada, foi excluída uma questão que falava sobre a proliferação
de doenças. O item explicava que a hanseníase tende a se espalhar com
facilidade em presídios no Brasil, devido à superlotação e às condições
precárias em que vivem os presos. “Gera polêmica desnecessária em relação ao
sistema penal”, disse a comissão.
Nem mesmo uma questão sobre
agricultura escapou à caneta dos censores. Ao se deparar com uma charge sobre a
produção de milhos transgênicos, os bolsonaristas não titubearam: “Gera
polêmica desnecessária em relação à produção no campo.” A questão foi excluída.
A comissão de censores foi fiel
ao pensamento de Bolsonaro. Questões sobre escravidão, violência policial ou
movimentos sociais foram parar na gaveta em 2019. Três questões que falavam de
“conflitos sociais” foram excluídas do Enem com a alegação de que faziam
“leitura direcionada da história” (essa justificativa foi usada para censurar
19 itens). Um item que falava sobre a abolição da escravatura e a “persistência
das condições precárias dos pobres negros no Brasil” foi excluída da prova
porque, segundo a comissão, houve uma “descontextualização histórica do texto”.
Uma outra questão que falava sobre segurança pública mencionava, em uma das
alternativas de resposta, a violência da polícia na Bahia. Por isso, também foi
censurada. “Ofensivo à força policial baiana”, explicou o trio de censores.
Discutir feminismo foi proibido
na prova. Uma questão de ciências humanas que falava sobre a Marcha das Vadias,
mostrando uma foto de mulheres de sutiã durante uma manifestação do grupo, foi
barrada por gerar “polêmica desnecessária”. Outra questão que debatia a
maioridade penal foi excluída do exame. “Gera polêmica desnecessária a favor da
não redução da maioridade penal”, escreveu a comissão de censura, alinhada com
o pensamento do presidente. Naquele ano, Bolsonaro pressionava o Senado para
aprovar um projeto que reduzisse a maioridade penal para crimes hediondos, uma
velha bandeira de campanha.
Também houve cuidado com os
assuntos de política externa. Uma questão da área de ciências humanas que
falava sobre as relações entre o governo Donald Trump e Israel foi cortada do
exame. A justificativa da comissão de censura foi a seguinte: “Leitura
direcionada da história / Interferência desnecessária na soberania de outro
país.” Já uma pergunta que falava sobre a Liga das Nações e a “implantação da
sociedade judaica na Palestina do início do século XX” – tema relevante para
uma prova de ciências humanas – foi excluída porque, segundo a comissão, fazia
“leitura direcionada de geografia / história”.
Os censores fizeram questão de
mostrar sua preocupação com a juventude. Excluíram da prova uma questão de
ciências da natureza que versava sobre o canibalismo entre animais. “Induz o
jovem a comportamento antissocial”, justificou a comissão de censura do Inep.
O governo também garantiu que não
se falasse sobre armas de fogo no Enem. Na área de linguagens, um texto falava
sobre uma tragédia ocorrida em 2013, na cidade de Burkesville, nos Estados
Unidos: um menino de 5 anos disparou acidentalmente um fuzil que havia ganhado
de presente e matou sua irmã mais nova dentro de casa. O objetivo do item,
segundo os servidores, era discutir o risco existente “em ambientes domésticos
em que há a possibilidade de acesso à arma por crianças”. Mas a comissão de
censura do Inep não achou que o tema deveria ser apresentado aos 5,1 milhões de
alunos que se inscreveram no Enem em 2019. A questão foi banida da prova sob a
alegação quase onipresente nas justificativas dos censores: “polêmica
desnecessária.”
segunda-feira, 15 de novembro de 2021
Perder-se
Perder-se
Ai de mim, agora sim
Agora não
Então, de ti me perdi por fim
Que fim! Me perdi de ti e não sei voltar
Não sei o caminho da tua casa e por onde seus passos estão
Não sei o que digo
E nem se faz qualquer sentido dizer algo aqui
Penso que não
Sinto que sim
Porque o sentir continua crente como antes, apenas que agora
Sem luz nem água; minguou
E ele anda calado, sem desejo para o falar;
Cabisbaixo
Contudo, de voz baixinha, um tanto rouca, às vezes o sentir
Te diz:
Amor...
Te Perdi em mim assim
perder-se
No fim.
Las cartas de amor
Las cartas
de amor
Ellos
se conocieron por casualidad, que es como se suelen encontrar los grandes
amores, casi siempre por casualidad, por una llamada equivocada, por un
encuentro fortuito. A ellos lo que les pasó fue que él había quedado en aquel
café con una persona que no vino, y claro, la vio a ella sentada en la mesa del
café, radiante, así que, harto de esperar no se cortó un pelo y dijo:
—“ya
que he venido hasta aquí, no puedo desaprovechar esta ocasión”.
Se
acercó a la mesa y dijo:
—“¿Me
permite?”
—“Por
supuesto”
Esto
solo suele pasar en las historias que te cuentan otros, nunca en la vida real,
por lo general cuando dices:
—“Me
permites”, dicen
—“De
qué”
A lo
mejor ella estaba esperando a alguien que tampoco vino, quién sabe, yo qué sé,
habrá que inventar otra historia en la que ella le dice “De qué”, en este caso
ella lo invitó a él para que se sentase, y él se sentó. Y claro, no había de
qué hablar,
—“¿y
qué lees?”
Lo malo
fue que él no había leído nada del escritor que ella estaba leyendo, mal
empezamos, mal, muy mal, por ahí no.
—“Pues
bonito día”
Pero
enseguida empezaron a profundizar, porque ella dijo
—“Sí,
la verdad es que hace un bonito día”
Y
aunque no lo hiciera. Pero poco a poco él fue venciendo esa timidez que le
caracteriza y fueron profundizando. Al principio él para llamar su atención
contó una que otra mentira, que era escritor, luego reconoció que nunca le
habían publicado nada, pero eso vino más tarde, cuando ya se conocían más,
cuando pasaron del café a la habana con coca cola.
Por
entonces ya estaban descubriendo que tenían más afinidades de las que pensaban
al principio, y compartían gustos cinematográficos, y por eso él le dijo
—“Oye,
y si vamos a ver esta, ¿has visto La vida es bella?” y ella
—“No”,
—“Oye
quedamos el fin de semana”,
—“Vale”.
Y aquel
fin de semana pues, yo no sé muy bien si para sorprenderla o no, pero el caso
es que él rompía a llorar en cada escena en la que aparecía el chaval pequeño,
esto a ella le enterneció, yo quiero pensar que era de verdad.
Resulta
que coincidían en más gustos, y también en lo musical, y le dijo:
—“Oye,
este fin de semana toca Ismael Serrano”,
—“Ismael
qué?”,
—“Pero
a ti te gustan los cantautores?”,
—“Los
de verdad me gustan”.
Pero él
le convenció a ella y fueron. Cuando él empezó a cantar aquella de Vértigo,
pues se atrevió a cogerle la mano.
Y poco
a poco se fueron inevitablemente enamorando, pero no por esto de Ismael
Serrano, ni por el Vértigo, quizá más por aquello de llorar con La vida es
bella.
Una
mañana él se levanta y al abrir los ojos se da cuenta de que está perdidamente
enamorado de ella, y quedaron entonces en aquel café en el que se conocieron
por casualidad. Los momentos importantes suelen coincidir casi siempre en los
mismos sitios, no estoy muy seguro de lo que acabo de decir, pero es una buena
frase. Pero fue en aquel café en donde ella le dijo:
—“Sabes,
creo que me tengo que ir durante algún tiempo”,
—“Yo te
iba a decir casi lo contrario, que te quedaras conmigo para toda la vida”, y
ella dijo –“No te preocupes porque yo estaré esperando el día que vuelva para
retomar contigo este camino que emprendimos, además, cada quince días
puntualmente te mandaré una carta en la que te contaré todo lo que hecho, todo
lo que siento, todo lo mucho que te echo de menos, y todo lo poco que nos falta
para vernos”,
El dijo
que bueno, que vale
—“Pero
que si no te vas casi mejor”.
Pero se
fue.
Fue
entonces cuando descubrió que aquello no tenía remedio y que estaba
perdidamente enamorado, que no había ningún elixir que hiciera que la olvidase,
que no era cierto aquella de que un clavo saca otro clavo, que a veces es
cierto que los amores a primera vista existen, bueno, ¿es que acaso hay otros?.
A los
quince días puntualmente llegó la carta de ella toda llena de besos y de
caricias, de te echo de menos, él lloró, y esta vez era de verdad. Y guardaba
las cartas con mucho cariño encima de la mesilla. Pasaron quince días, y otros
quince, y otros quince, y otros quince, y las cartas se iban acumulando. Y su
vida consistía en esperar a que llegara el decimoquinto día, abrir el buzón y
encontrar la carta de amor en la que ella prometía volver, esperar esa carta en
la que ella le diría que volvía pronto. Y pasaron años, muchos años, y ya las
cartas casi no cabían en la casa, se compró una gran caja fuerte para guardar
todas las cartas, porque eran su gran tesoro, porque vivía para leer las cartas
que ella le había escrito, porque ella era lo que más quería, y así pasaron
creo que diez años, quince, no me acuerdo.
Y un
día ella, sin saber cómo ni por qué, dejó de escribir, y al quince día él se
encontró el buzón vacío, y el alma partida en dos.
Ahora
solo podía vivir del recuerdo, leyendo las cartas que ella le había escrito con
tanto cariño, aquellas cartas eran su mayor tesoro.
Un día
él salió de casa, porque tenía que salir, y unos ladrones entraron en su casa.
Al ver allí la gran caja fuerte no se lo pensaron dos veces, porque pensaron
que debían esconder algún gran tesoro, grandes riquezas, realmente no era. Y se
llevaron la gran caja fuerte.
Imagínate
la desolación de nuestro protagonista cuando llega a su casa y se da cuenta de
que le han robado lo que él más quería, lo que le hacía sentirse vivo algunas
tardes de domingo cuando no sonaba el jodido teléfono, cuando releía aquellas
cartas y aquellas promesas quién sabe si falsas.
Suele
pasar que los ladrones son buenas personas, y este era el caso. Pero imagínate
la cara de los ladrones cuando abren la caja fuerte y se encuentran montones de
cartas de amor, declaraciones imposibles. El jefe de los ladrones se enfadó un
poquito, pues la caja pesaba, y llevarla a la guarida no era moco de pavo.
Nuestro
hombre vagaba casi moribundo por las calles de su ciudad, con la esperanza de
encontrar alguna carta, a alguien que le hablara de una gran caja fuerte llena
de cartas, perdido sin saber ya qué hacer.
El jefe
ladrón lo que dijo es que aquellas cartas lo que había que hacer era quemarlas
o tirarlas al río, lo que fuera, pero que desaparecieran de inmediato. Pero el
más joven de los ladrones era más bueno, y se le ocurrió una gran idea.
Un día
nuestro hombre llegó a casa después de estar buscando toda una tarde, y al
abrir el buzón ¿Adivina lo que se encontró?... Una carta. Los ladrones habían
decidido mandarle las cartas tal y como ella se las había mandado, puntualmente
cada quince días, por riguroso orden.
Ahora
él resucitaba con la esperanza de revivir aquellos momentos en los que quizá un
día leería la carta en la que ella diría:
—“Pronto
estaré allí”.
por Eduardo Galeano
domingo, 7 de novembro de 2021
Em branco
Em branco
João abriu a
porta para um inconcebível corredor branco sem fim; sem janelas, sem portas,
sem ruídos. Apenas o insípido e tão hermético branco.
Ele acordara
zonzo, sem saber bem onde e quando estava. A respiração era pesada com o coração
a bater reticentemente, e João sentia-se confuso enquanto sua mente corria em
todas as possíveis direções tentando entender a realidade.
Segundos longuíssimos...
Que dia era
aquele? Domingo? Estou sozinho aqui? Onde é mesmo aqui? Morri? Não morri,
pensou ele. Não me sinto morto. Como é sentir-se morto? Muito diferente de
estar vivo? Eu estava vivo? Quando? Quanto?
João fechou a
porta azul clara para proteger-se da brancura infinita daquele mundo inócuo e
assustador. No quarto havia alguma cor. Uma cama macia, mesa e cadeira de
madeira, uma jarra d’água quase vazia, uma planta calada; muito seca. A um
canto uma grande estante cheia de livros e discos. Ao lado um toca-discos
antigo. Pela janela de vidro via-se o mar ao longe.
Não moro mais
perto do mar. Lembrou-se o homem enquanto olhava pela janela. Não havia vivalma
pelas ruas pelo que ele percebia. O mundo estava lindo, iluminado, morno e
vazio. O mundo e o corredor não tinham som. Será que estou surdo? Pensou João. Não.
Não pode ser. Por que ele estaria surdo de um repente?
Escolheu um
disco aleatoriamente. Um disco de Cartola... Em alguns segundos “Peito Vazio”
ecoava pelo quarto de João. O mundo estava em silêncio apenas para ouvir ao
Cartola; pensou ele. E um sorriso suave fez-se no rosto dele. Esta realidade
não está tão má assim. Finalmente faz-se jus a um gênio tão pouco compreendido.
Seu Agenor merecia tal reverência.
João passou a
chave na porta sem coragem para abri-la novamente. Escolheu um bom livro e,
como se nada mais importasse, deitou-se confortavelmente na cama para ler
aproveitando a luz do dia que entrava tranquila pela janela.
O mundo deixou
de existir.