Em branco
João abriu a
porta para um inconcebível corredor branco sem fim; sem janelas, sem portas,
sem ruídos. Apenas o insípido e tão hermético branco.
Ele acordara
zonzo, sem saber bem onde e quando estava. A respiração era pesada com o coração
a bater reticentemente, e João sentia-se confuso enquanto sua mente corria em
todas as possíveis direções tentando entender a realidade.
Segundos longuíssimos...
Que dia era
aquele? Domingo? Estou sozinho aqui? Onde é mesmo aqui? Morri? Não morri,
pensou ele. Não me sinto morto. Como é sentir-se morto? Muito diferente de
estar vivo? Eu estava vivo? Quando? Quanto?
João fechou a
porta azul clara para proteger-se da brancura infinita daquele mundo inócuo e
assustador. No quarto havia alguma cor. Uma cama macia, mesa e cadeira de
madeira, uma jarra d’água quase vazia, uma planta calada; muito seca. A um
canto uma grande estante cheia de livros e discos. Ao lado um toca-discos
antigo. Pela janela de vidro via-se o mar ao longe.
Não moro mais
perto do mar. Lembrou-se o homem enquanto olhava pela janela. Não havia vivalma
pelas ruas pelo que ele percebia. O mundo estava lindo, iluminado, morno e
vazio. O mundo e o corredor não tinham som. Será que estou surdo? Pensou João. Não.
Não pode ser. Por que ele estaria surdo de um repente?
Escolheu um
disco aleatoriamente. Um disco de Cartola... Em alguns segundos “Peito Vazio”
ecoava pelo quarto de João. O mundo estava em silêncio apenas para ouvir ao
Cartola; pensou ele. E um sorriso suave fez-se no rosto dele. Esta realidade
não está tão má assim. Finalmente faz-se jus a um gênio tão pouco compreendido.
Seu Agenor merecia tal reverência.
João passou a
chave na porta sem coragem para abri-la novamente. Escolheu um bom livro e,
como se nada mais importasse, deitou-se confortavelmente na cama para ler
aproveitando a luz do dia que entrava tranquila pela janela.
O mundo deixou
de existir.
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