quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Os Descarados ( O Filme)



Sei que o nome “Os Descarados” não é nada novo e já foi utilizado de maneira cômica, e não tão cômica assim, em diferentes oportunidades para nomear bandas, quadrinhos e outras tantas manifestações culturais feitas em língua portuguesa. Ou seja, o descaramento não é novidade cá para nós há anos e, talvez, seja algo tão antigo quanto a chegada das caravelas aqui no Brasil. Entretanto, apesar da falta de frescor, podemos seguramente afirmar que nestes últimos tempos nós, os brasileiros, andamos a merecer o Oscar da categoria aqui em nossa república tropical. E isso, não anda a ter graça alguma.
Nesta semana, só para não perdermos o hábito, pudemos ler, ouvir e ver em todas as formas de mídia mais e mais notícias absurdas sobre o comportamento “pouco ortodoxo” dos políticos brasileiros.  Afirmações ridículas pululam na tentativa de provar que o peculato, a extorsão e o lobby criminoso fazem parte do jogo e são algo bem normal na política, o que me leva a pensar: Mudaram a lógica e a razão neste país ou sou eu que não compreendo mais muito bem o português falado aqui?
A situação está tão grave por cá que podemos dar-nos ao luxo de produzir o descaramento  de "Os Descarados" em várias categorias. Podemos optar pelo “bang-bang à baiana” que nos propiciou o Sr. Mário Negromonte, Ministro das Cidades, na tentativa de recuperar o comando de seu partido, o PP. No afã de desmentir o uso da ameaça e do pagamento de propina para cooptar adversários dentro de seu próprio partido, o estimado Ministro saiu com as seguintes pérolas: “em briga de família, irmão mata irmão, e morre todo mundo.” “Isso vai virar sangue.” E justificou que não podemos crer nas palavras dos deputados do próprio PP ao denunciá-lo já que “vários deputados têm folha corrida em seu partido”. Como é que é? Vai ter tiro no Planalto? Onde estão os mocinhos deste filme pelo amor de meu Deus? Ah, não tem não, não é?! Este é um filme onde todos são bandidos.
Podemos também partir para um gênero mais dramático, com direito a mocinha delirante e suas lágrimas de crocodilo do Planalto Central. Oscar de melhor atriz para a Deputada Jaqueline Roriz e suas lamurias descabidas ao culpar a mídia “que destrói a honra de qualquer um” ao mostrar, pornograficamente, o “ato sem cortes” na televisão. Ou seja, aceitar dinheiro sujo para caixa dois de campanha não traz a desonra a ninguém, o problema é ser pego com a mão na cumbuca em rede nacional. Entendeu? Eu não. Mas nossos figurantes de terceira categoria entendem bem este enredo com o qual compactuam. Assim, os 265 deputados que votaram contra a cassação da dita deputada através do voto secreto, cumpriram o seu papel com desenvoltura e bem à surdina como ordena e espera o diretor de todo elenco.
Por último, mas não menos importante (isso não senhor, mesmo!), podemos contar com o regresso de José Dirceu à telona, se é que algum dia ele se foi, sei não? Dirceu volta à grande, cheio de si e com cara de mafioso abusivo, algo entre Vito Corleone e o agente Smith de Matrix, em matéria de capa.  Ressurge das cinzas o “ex-atual-primeiro-ministro-da-república” em fita político-policial a julgar pelas intrigas, conchavos, encontros, armações e planos, para lá de maquiavélicos, que ele coordena disfarçado pelos corredores de um hotel. Algo num tom Watergate às avessas, ou não?
Seja qual for a película, o maior problema não se encontra na má qualidade das histórias ou no fato de termos tantos atores canastrões, mas sim no fato de que nela nós não estamos  a dirigir ou atuar. Somos meros espectadores e, como tais, o máximo que fazemos é torcer o nariz e tecer, como eu, críticas negativas no final da sessão. E outra vez vem-me a pergunta: Quando é que nós diremos: “Ação!”?

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