(Texto feito pelo jornalista Rica Perrone)
Quando garoto, sãopaulino como todos sabem, eu odiava o Corinthians. Naturalmente, pois todo tricolor é assim, e vice-versa. O tempo passou, eu me tornei jornalista, passei a conhecer torcedores, dirigentes e jogadores de todos os clubes, e assim meu “ódio” sumiu.
No lugar dele veio o respeito, pois quando se enxerga mais do que um só clube sua visão muda completamente. Ali, no meio da torcida no Pacaembu, aprendi e entendi porque eu odiava o Corinthians.
E hoje, quando o Timão faz 101 anos, faço questão de prestar uma homenagem a uma das mais belas torcidas que conheço, assim como um dos maiores clubes do mundo.
Eu nunca entendi, quando garoto, porque aquele time que não tinha estádio, não tinha nem Brasileirão ainda, acabara de sair de uma fila gigante e sem estrutura poderia se comparar ao meu.
Afinal, como esse time pode ter mais torcida que outros que vivem bom momento? Como é possível tanta gente gostar e idolatrar um clube que mais decepciona do que dá alegrias?
Porque a mídia falava tanto do Corinthians? Porque o clássico era, pra imprensa, “Corinthians e São Paulo”, e não o contrário? Porque eles vendiam na crise, porque eles tinham destaque na TV todo dia mais que os outros?
Que diabos de bonito havia em jogar num estádio pequeno e alugado? Porque era tão “importante” pra eles serem “fieis” na alegria e na dor? Porque exaltar a dor?
Nunca entendi, pois meu time não deixava. Ele é muito diferente do Corinthians, quase o extremo oposto.
Até que passei a estudar, conhecer, respeitar, amadurecer. E assim, junto com a paixão pelo futebol em geral, veio o respeito e o entendimento de tudo que jamais consegui entender.
Ele é o que é porque sua história representa mais do que um clube. Representa o operário vencendo a elite. Representa o povão encarando os ricos, saindo da várzea para ser protagonista entre a elite. E sua origem é essa, belíssima.
Representa mais do que futebol. Representa, em seu começo, uma classe. E assim como Gremio e Inter, envolve muito mais do que 11 caras e uma bola. Tem politica, lado social, cultural, etc.
Mal estruturado, mal administrado, como quase todos os clubes brasileiros já foram um dia, ou são até hoje.
Mas conquistou algo que raros conseguiram, que é uma torcida gigante e “fiel”. E fiel é aquele que está ali na alegria e na dor, como nota-se o crescimento da massa alvi-negra nos extremos momentos de dor.
E foi ali, no Pacaembu, que é sim o “estádio do Corinthians”, como Maracanã é o do Flu e do Fla, como o San Siro é do Milan e da Inter, que notei porque eles são tão unidos, tão fortes e tão relevantes.
Na porta do estádio pouco se ouve os argumentos para estarem lá atrelados ao jogo. “É clássico”, “é final”. Que nada, “é o Corinthians!”.
Eles se acham a mais forte torcida de São Paulo, e são.
Eles confundem um pouco a paixão com a cegueira, como todo torcedor.
Eles vão fazer a cidade de São Paulo assistir a uma festa jamais vista quando ganharem a Libertadores, e isso está perto de acontecer.
Eles nunca foram coadjuvantes. Eles conseguem ser protagonistas na crise, na boa, na liderança ou na lanterna. Todo santo dia só se fala no Corinthians. Você liga a TV e discutem a fase do Corinthians. Liga o rádio e há sempre uma reportagem sobre o Corinthians.
Isso não é “comprado”, não é “sorte”, é apenas mérito místico de quem conseguiu se transformar num gigante saindo da lama. E é essa a história.
História que faz do Corinthians alvo de piadinhas, de rótulos não tão atuais, mas eternos. “Maloqueiro, sofredor, favelado”, etc.
Mas que também faz do Corinthians um clube diferenciado, gigante pela propria natureza, merecedor da nação que o segue.
Já o odiei, já o invejei, já debochei. Quando torcedor, tudo isso cabe e faz parte. Hipocrita do jornalista que disser que nasceu imparcial. Não existe, quando garotos somos todos torcedores e só.
Hoje, com 101 anos, o Corinthians está fazendo seu estádio tão sonhado, tem uma das maiores rendas do país, é lider do campeonato, briga pelo título brasileiro e vai muito bem, obrigado.
Se as administrações anteriores deixaram o Corinthians atrás da maioria na estrutura, também deixaram maior na euforia pelas conquistas. Hoje eles vibram, vislumbram um futuro brilhante, até mais do que seu passado.
Hoje, como sempre, o Corinthians é o protagonista.
E não me espanta, porque é assim há 101 anos, seja pela crise, seja pela glória.
Aquele bando de loucos que tanto incomoda aos rivais continuará crescendo. Independente de títulos, crises, rebaixamentos ou problemas administrativos. Simplesmente porque o Corinthians assim se fez, assim cresceu e assim se tornou o que é hoje.
Grandeza, quando não se explica, é porque é maior do que pode ser explicado. E assim é o Corinthians.
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