No próximo dia 8 de março celebra-se o Dia Internacional da Mulher e eu, sinceramente, já torço cá o meu nariz para uma celebração que me parece paternalista e fútil à primeira vista. Como todo dia dedicado a uma minoria me parece aliás, e para ser mais sincera ainda. Nesta cesta festiva e desdenhada por mim, inclui-se o dia do Orgulho Gay, o da Consciência Negra, e qualquer outro dia dado como brinde e que se encaixa na categoria: “minoria desprotegida”. Tal má vontade de minha parte para tais celebrações vem muito da impressão que tenho de que tais dias me soam como um prêmio de consolação para aqueles que, naturalmente e pelas leis criadas pelos homens, não têm direito a todos os dias do ano. E isso me irrita demais.
Sei que neste dia “só meu” terei que agüentar os mais piadistas a fazer graça com a tal data, dizendo que este é o dia da mulher por gentileza deles, os homens, já que o resto do ano lhes pertence. Há também os chocolatinhos, as rosas solitárias e qualquer outra porcaria cor de rosa ou vermelha eleita como a brilhante idéia da vez para presentear às mulheres neste dia. Vamos convir: há coisa mais ridícula que essa? Ainda dou com a tal rosa na cabeça de alguém, juro!
Entretanto, e se pararmos para refletir um pouco sobre a importância da questão em si, nós veremos que não há nada de fútil e leviano na data em questão, ou nas outras, a não ser a maneira como estamos a tratá-las ultimamente. Pois, muito para além de ganhar qualquer bobagem do marido, chefe ou namorado, nesta data deveríamos todos nós, mulheres ou não, refletir sobre a triste necessidade de lembramos que ainda há diferenças sérias e terríveis entre as pessoas que habitam esta nossa Terra. E isto jamais será correto.
Por isso, eu que nunca senti na pele a dificuldade de ser mulher, devo admitir: vale lembrar a data, sim. Vale lembrar que ainda há mulheres na África, Ásia e outros países que sofrem mutilações genitais, que muitas mulheres ainda são violentadas durante as guerras étnicas em todo mundo em nome da hegemonia de uma raça, e que mulheres são vendidas e tratadas como objeto em todo o planeta; e isso inclui a cidade onde vivo e muitas outras no meu país. Vale lembrar que ainda há muitos homens, ricos e pobres, que batem em suas mulheres e namoradas apenas porque isso eles conseguem fazer, não? E que há aquelas das quais nem os olhos podemos ver e que, como seus rostos, deixam de ser visíveis e existir para uma sociedade inteira. Vale lembrar que muitas meninas deixam de ser meninas muito antes do que isso deveria ocorrer por motivos terríveis demais para escrever.
Então, nada de chocolates ou rosas neste dia, nada de uma ida feliz a lojas para um novo par de sapatos ou um anel frio que brilhe e tenha mais valor que os dedos que o usam. Este é um dia para refletir, pensar e deixar a consciência agir.
Que todos os dias pertençam a cada um de nós, e um beijo para todos: mulheres e homens que amo!
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