O desconforto e a estranheza dos
primeiros dias se foram completamente e deram lugar a uma inconformidade que
aumenta com o passar dos dias. Pois, se na primeira semana o tempo que ficaria
em Barcelona me parecia mais que suficiente, um exagero até, agora ele já me
parece tão parco que beira à indecência. Sentirei saudade da cidade e das
pessoas desta cidade que, apesar de relativamente pequena, acomoda um mundo de
diversidades em suas ruas.
Mais do que o prazer de caminhar
pelas ruas da cidade e de ver obras e monumentos únicos, conversar com as
pessoas é o que mais me agrada. Conhecendo-as mesmo que por alguns dias num
convício forçoso e forçado, dada à situação, percebe-se o quão fácil é conviver
com gentes de todos os lugares. Japoneses, chineses, coreanos, americanos,
russos, holandeses, búlgaros, alemães, suíços, espanhóis, e quem mais vier; não
importa. Há sempre muito em comum e, ao mesmo tempo, muito a aprender um com o
outro. Basta uma língua em comum, inglês ou espanhol, e pronto, a conversa flui
natural e caudalosa. Talvez por sabermos da brevidade deste momento, talvez porque
a curiosidade de todos por cada um seja enorme. Não sei. O certo é que, não
importa onde o outro nasceu, se conversa muito, sempre.
Por isso, e por muitas outras
coisas, ando pensando no porquê de haver tanta guerra neste mundo já que somos
tão iguais no final das contas. Por que ainda lutamos por governos e seus interesses
que não são, nem nunca serão, os nossos? Por que achamos tão difícil perceber o
Mundo como um só, e ainda teimamos em separar as pessoas em raças distintas? E lá
vem outro “Não sei”. Talvez porque, mesmo nestes dias de tanta informação
disponível, sejamos muito mais inocentes e tolos do cremos ser. Claro que há
diferenças entre cada um; e isso não se discute. Entretanto, essa diferença
existe para todos, inclusive para irmãos que nascem numa mesma casa e são
criados pelas mesmas pessoas, ou não?
Em nossa Babel particular, mais
conhecida como nosso apartamento, há três nacionalidades diferentes: brasileira,
japonesa e americana, contudo, nunca houve problema algum de compreensão ou
entendimento. Às vezes reina o espanhol na casa, língua que não é a nossa, mas
que nos une. Às vezes há uma mistura para a qual não sei que nome dar, com frases
que carregam um tanto de inglês, bocados de português e um acabamento
castelhano. Às vezes reina soberano o inglês ou o português que é mudado,
automaticamente, para que todos nos entendam. Porque aqui, e em situações como
esta, aprendemos logo o valor da gentiliza.
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