Lisboa não é uma cidade para ser
vista como outras grandes cidades europeias o são. Claro que há monumentos,
estátuas, castelos e igrejas, contudo, estes não são o melhor da cidade e
chegam a decepcionar em alguns casos. Lisboa
não deve ser vista, mas sim ouvida e sentida. E apenas neste momento entende-se
o que é esta cidade que parece não dar o devido valor a sítios históricos: a
beleza de Lisboa está em sua luz, e mais profundamente em seus sons. Lisboa é
feita de música, de conversas e do som do rio a bater manso contra as pedras
nas pequenas praias e no cais.
Talvez, pela angústia e a
ansiedade dos primeiros dias aqui eu tenha me esquecido que foi assim que a
cidade se apresentou para mim no primeiro dia que aqui cheguei, em Lisboa havia
música. E muito antes disso, anos atrás, foi também a música, mais especificamente
uma voz portuguesa que me fez desejar estar aqui mais do que qualquer coisa. Então,
apesar de haver sim coisas a serem vistas aqui, muitas vezes o melhor é fechar
os olhos e apenas ouvir e sentir.
O segredo da cidade está em subir
uma de suas ladeiras à noite, seja na Alfama ou em outro bairro, e sentar-se à
mesa de um lugar pequeno para beber vinho e comer alguma coisa simples e
caseira. Nestes lugares joga-se conversa fora, fala-se de Portugal, do Brasil,
da vida e de tudo que se há para falar de maneira animada e intimista ao mesmo
tempo.
Nestes momentos, não importa a
ninguém o nome do vinho ou da comida, tal como não importam tanto assim os
grandes monumentos. O importante é o que se ouve e se sente ali. Então,
fecha-se a porta e a luz elétrica adormece para dar lugar às velas. Faz-se
silêncio para ouvir, e faz-se a música de maneira frugal e quase sagrada. Ouve-se
o fado com seus lamentos e duas guitarras.
Por isso, ontem, sentada a uma
destas mesas até alta madrugada, não conseguia entender como não ouvimos mais a
música que aqui é feita. Pois que não se trata de gosto ou idade, mas apenas de
ouvir o que aqui é feito com nossa alma. E agora eu sei que sentirei saudades
eternas de Portugal e seus sons.
Um beijo a todos os
amigos,
um beijo com todo o carinho à voz que me
trouxe aqui.
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