quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Uma cidade feita de sons




Lisboa não é uma cidade para ser vista como outras grandes cidades europeias o são. Claro que há monumentos, estátuas, castelos e igrejas, contudo, estes não são o melhor da cidade e chegam a decepcionar em alguns casos.  Lisboa não deve ser vista, mas sim ouvida e sentida. E apenas neste momento entende-se o que é esta cidade que parece não dar o devido valor a sítios históricos: a beleza de Lisboa está em sua luz, e mais profundamente em seus sons. Lisboa é feita de música, de conversas e do som do rio a bater manso contra as pedras nas pequenas praias e no cais.

Talvez, pela angústia e a ansiedade dos primeiros dias aqui eu tenha me esquecido que foi assim que a cidade se apresentou para mim no primeiro dia que aqui cheguei, em Lisboa havia música. E muito antes disso, anos atrás, foi também a música, mais especificamente uma voz portuguesa que me fez desejar estar aqui mais do que qualquer coisa. Então, apesar de haver sim coisas a serem vistas aqui, muitas vezes o melhor é fechar os olhos e apenas ouvir e sentir.

O segredo da cidade está em subir uma de suas ladeiras à noite, seja na Alfama ou em outro bairro, e sentar-se à mesa de um lugar pequeno para beber vinho e comer alguma coisa simples e caseira. Nestes lugares joga-se conversa fora, fala-se de Portugal, do Brasil, da vida e de tudo que se há para falar de maneira animada e intimista ao mesmo tempo.

Nestes momentos, não importa a ninguém o nome do vinho ou da comida, tal como não importam tanto assim os grandes monumentos. O importante é o que se ouve e se sente ali. Então, fecha-se a porta e a luz elétrica adormece para dar lugar às velas. Faz-se silêncio para ouvir, e faz-se a música de maneira frugal e quase sagrada. Ouve-se o fado com seus lamentos e duas guitarras.

Por isso, ontem, sentada a uma destas mesas até alta madrugada, não conseguia entender como não ouvimos mais a música que aqui é feita. Pois que não se trata de gosto ou idade, mas apenas de ouvir o que aqui é feito com nossa alma. E agora eu sei que sentirei saudades eternas de Portugal e seus sons.

Um beijo a todos os amigos,
 um beijo com todo o carinho à voz que me trouxe aqui.

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