Pouco depois de chegar a São Paulo para esperar o fim do
Mundo e passar o Natal em família, ouvi meu pai comentar, meio em tom de
decepção, que achava que eu escreveria algo sobre a conquista do Mundial de
Futebol pelo Corinthians. Ele havia esperado ler algo sobre a nossa mais
importante vitória que foi, muito provavelmente, o momento mais inesquecível para
todo o corintiano ainda vivo. Algo, do meu ponto de vista, mais
bonito que a comoção que tivemos em 77 devido a todo o conjunto da obra. Afinal, para quem faltava se firmar como um time capaz de
disputar e conquistar algo fora do Brasil, o ano de 2012 foi um presente sem
igual.
E, a bem da verdade mais verdadeira, eu também achei que
escreveria algo sobre o fato, já que não houve, para mim, emoções mais fortes
ligadas ao futebol do que as deste ano. Não há conquista de Copa do Mundo que
chegue aos pés do que senti com a vitória na Copa Libertadores da América que
me fez chorar pela primeira vez de alegria por amor ao futebol. E houve o bis
de choro no final do ano. E que orgulho foi ver o meu time campeão de maneira
tão bonita e definitiva; sem senões nem “poréns”. Vencemos, em ambos os
campeonatos, de maneira justa, poética e sofrida como deve ser toda vitória do
Timão.
Porém, tanto antes quanto depois dos feitos, a verdade é que me
incomodou demais todo o bate-boca desnecessário entre torcedores de outros
times e do meu. Pois eu, apesar da paixão pelo meu time de coração e alma, não
consigo entender os porquês de tanta agressividade, das ofensas entre as
torcidas, e de tanta bobagem que ouvimos por aí; e por aqui. E isso me deixou
mesmo sem vontade, acabrunhada, para dizer qualquer coisa sobre nossas
conquistas. Murchei.
Murchei porque não me agradaram nada as ofensas e toda a raiva
que percebi, porque me decepcionou tanto a raiva dos outros torcedores quanto a
soberba exacerbada de alguns dos meus. Como algo que nos traz tanta alegria
como uma conquista inédita de nosso time, e que é sagrado para todo o torcedor,
não é respeitado por todos nós? Haveria alguma conquista que valesse a pena sem
adversários à altura? O que seria do Corinthians sem o Palmeiras, do Santos sem
o São Paulo, do Brasil sem a Argentina? Que graça há em termos um time do
coração se não sabemos respeitar os adversários que se apresentam do outro
lado? Não devemos nos importar mais com as nossas vistorias do que com as
vitórias ou derrotas alheias? Não?
Eu cresci vendo na casa de meus avós paternos duas flâmulas
penduradas na parede da sala: o Corinthians de minha avó Luiza, torcedora
praticante e fanática, e o Palmeiras de meu avô Luiz, verde que só pelo seu
verdão, conviveram durante mais de 60 anos animada e pacificamente numa casa
democrática. Por isso, apesar de saber que perturbar um pouco o outro faz parte
do jogo, aprendi com meus avós e com meu pai e minha mãe (que torce para quase
qualquer time, principalmente se este estiver a perder) que nunca devemos
perder o respeito por quaisquer adversários e suas conquistas, nunca. O que não
quer dizer que torcemos para eles; que fique claro. Mas, quer dizer, sim, que
nos sabemos seres inteligentes o bastante para entender que, paixões pelo
futebol à parte, nós nos queremos muito bem.
Um beijo a todos os meus amigos (torcedores de qualquer time),
e um beijo especial aos meus pais corintianos que me fizeram quem eu sou.
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