Tão natural quanto o é para quase
todas nós, as meninas, esta minha menina aqui demonstra seu ciúme e gênio muito
mais amiúde do que todos os meus meninos são capazes de fazer. E por isso
mesmo, diferentemente de todos eles, ela reclama não ter tido ainda as minhas linhas
dedicadas a ela há algum tempo. Como reclama não haver em mim o seu nome
escrito para sempre numa tatuagem que a pequena não entende porque ainda não
foi feita. Pois, Gigi, saiba que nada
disso é devido à falta de amor por ti. Sim?
A verdade é que, na maioria das
vezes, isso de dar vida às palavras, sejam elas escritas numa tela ou na pele
da gente, não se dá porque assim queremos, mas porque elas, as palavras, o
desejam e surgem na cabeça e nos dedos de quem as escreve. Mas, seja lá porque
for, (e eu concordo que um pouco sob a encomenda da geniosa menina), agora
chegou a hora e a vez de falar sobre ela.
E falando nisso, “sob encomenda”
é mesmo um termo muito certo para mote de todo este palavrório, porque a miúda
em questão parece ter sido feita desta maneira: sob encomenda, e com medidas
para lá de específicas. Porque o fato é
que a menina que eu sempre chamei de minha boneca, coisa que nenhum dos meninos
jamais mereceu ou merecerá, jamais será o padrão de menina delicada e quietinha
que as pálidas princesas das estórias infantis podem nos dar. Não senhor.
Dona de uma beleza por natureza
morena e que encerra um quê de rainha do Nilo com seus escuros olhos de cílios
compridos e seu temperamento espirituoso, Giovanna Maria é mesmo uma mistura misteriosa
de Cleópatra com a boneca Emília de Monteiro Lobato. Alguém tão cheio de vida e
personalidade que em muitos momentos, durante esses anos todos, me pareceu não
poder ser apenas uma menina. Tagarela e bonita como só ela, amorosa e difícil
como só as meninas sabem ser, dona de um riso engraçado e de todo o movimento
que conhece este mundo de meu Deus; Gigi quando está conosco parece estar em
todo lugar, e nos toma como se fossemos dela.
Por mais que eu tenha sido uma
menina diferente dela, vejo na minha menina magrela e espevitada muito de mim como
toda mulher deve ver nas suas pequenas. Creio eu. Nelas já vemos todos os
nossos desejos, sonhos e sentimentos. Vemos que todos os sorrisos e as lágrimas
já estão ali guardados; e que todos os segredos, dramas e enredos de uma vida
inteira já nos espiam de soslaio sorrateiros. E vemos que toda a paixão-cega e
a entrega que apenas se vê nas meninas já se vislumbram nelas. Por isso elas, e
apenas elas, podem ser verdadeiramente nossas bonecas. Porque nos vemos nelas.
Eu, por minha parte, fico orgulhosa
ao ver que sobra personalidade na minha boneca e espero, como toda menina
grande espera, que ela seja muito mais esperta do que eu fui capaz de ser. Espero
que ela nunca esqueça a menina que há nela e que seja feliz, antes de tudo e
sem regras.
Um beijo pra ti, minha boneca.
Um beijo para todos.
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