Ontem percebi de maneira mais
clara, através de um brado sentido e definitivo, que pelos dias que correm os
meninos estão tão preocupados com sua aparência quanto as meninas. Assim,
enquanto conversava com um de meus sobrinhos e seus 13 anos, me incomodou um
pouco esse conceito fixo, fatal e ditatorial que ele leva consigo: “As meninas
só gostam dos meninos bonitos. E ser bonito significa ser loiro de cabelos
lisos, ter olhos verdes ou azuis, ambos bem claros, e ser magro com o abdômen
definido.” Ou seja, não há nenhuma chance de ser um ser interessante se o “desinfeliz”
do rapaz nascer moreno ou negro, se seus olhos não refletirem o céu ou o mar,
ou se ele tiver uns quilinhos a mais. E o pior é que não basta ter uma das tais
características, não senhor! Pois a beleza só se dá com a combinação celestial
de todas elas ao mesmo tempo e num mesmo ser escolhido por Deus para ser,
assim, o reflexo de uma obra divina.
Eu, que tive minha adolescência numa época
muito mais complacente e humana, um tanto distante de padrões absurdos, nunca
senti tal pressão estética mesmo sendo uma menina. E isso me assusta. Assusta-me
ver que os meninos hoje preocupam-se tanto com algo que não tem importância
alguma. Sei que tanta preocupação é, em grande parte, fruto desta fase de tantas
mudanças e poucas certezas pela qual ele passa. Sei disso. Mas fiquei triste
porque sempre senti uma inveja doce dos homens e de sua falta de preocupações
com as coisas mais fúteis desta vida. Para os meninos a vida parecia mais fácil
e livre com seus videogames, discos, bicicletas e a molecada a andar em bando.
Sempre me foi tão mais fácil ouvir as conversas dos meninos, e com eles falar,
porque nelas não havia sapatos, um peso ideal, produtos que tornassem nossos cabelos
tais como os da atriz e besteiras assim. Meninos falavam de futebol, de música
e de política, de como podíamos e devíamos mudar o mundo, e de viagens com
mochilas nas costas para ver este mesmo Mundo antes que ele mudasse demais.
Não percebo como nem quando
chegamos a uma realidade tão estranha como esta que vejo aqui. Quando deixamos
de compreender o que realmente vale a pena e nos entregamos a padrões absurdos.
Bem, quiçá eles sempre tenham estado aqui e apenas eu não os percebi. Pode ser.
Contudo, não há como pensar que a aparência é a única coisa que interessa e que
por conta dela, por nós, alguém irá se apaixonar. Não. Da mesma forma que não
nos encantamos por um livro pela sua capa, não há como se encantar por alguém
por um longo tempo apenas pelos seus dotes físicos. De jeito algum. Pois, hoje
e para todo o sempre, é aquilo que está contido no livro, como nas pessoas, que
nos encanta mais e mais à medida que viramos suas páginas e vamos, feito
viajantes, a descobrir tudo que lá existe com o passar do tempo.
Sei que o meu menino mudará muito
ainda e com ele sua opinião também. Espero apenas que ele perceba logo que não
existe um padrão de beleza e que o gostar caminha muito longe de um trilho
pré-definido. O gostar vaga feito passarinho e, sem querer e sem saber o porquê,
pousa seu olhar no olhar de alguém e daí, a verdade, é que o que vemos mais
ninguém vê. Vemos a beleza que há para além do olhar.
Aos meus amigos, que são todos do
seu jeito e, por isso, igualmente lindos, um beijo.
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