Um dia quis ser sereia e atravessar este oceano.
Afoguei-me.
Crente como os tolos e os pios, que creem nos santos
e nas palavras escritas como se
elas fossem o eco d’alma, acreditei.
Acreditei
que teria forças para cruzar o Atlântico (oceanomarlagorioágua)
e que do outro lado...
Que do outro lado veria o que daqui
não carecia d’olhos para ver.
Afoguei-me, pois não percebi que as águas são
naturalmente frias
e que sereias não existem para além de palavras que nunca
deveriam
ter sido ditas, palavras vazias. Uma verdade feita de
mentiras.
Acreditei e, como se espera de todos os crentes,
entrei mar a dentro, a caminhar, sem medos.
Entregue à minha própria crença cega, tola e,
portanto,
a mais bela crença de toda esta vida,
afoguei-me.
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