Juca
O urubu que tem medo de altura.
Primeira parte
Juca nasceu como todo pequeno
urubu. Lindinho, de acordo com o que a mamãe dele dizia para todo mundo. E
dividindo seu ninho, no alto de um edifício de 25 andares, com mais dois
irmãos; Joaquim e Gabriela.
A família estava muito alegre com
o nascimento dos trigêmeos e papai e mamãe urubu trabalhavam muito para cuidar
bem dos três filhotinhos. Joaquim era grande e esfomeado, comia mais do que o
papai! Gabriela era muito esperta, sempre a primeira a perceber que papai e
mamãe estavam retornando ao ninho. Juca... bom, o Juca era falante e o menor
dos três. Foi o último a sair do ovo, desconfiado e cheio de dúvidas.
Juca achava o seu ovo tão
confortável e quentinho que não queria sair dele não. Por que ele tinha que
sair?
Eu tinha mesmo que nascer?
Pensava o Juca estranhando um pouco a confusão do seu ninho.
Segunda parte
Juca cresceu rapidamente como
cresce todo pássaro e um pouco mais de três meses depois o momento de deixar o
ninho chegou.
Ele não via a hora de sair do
ninho. Corajoso, Juca queria conhecer a cidade de São Paulo e todas as suas
ruas e avenidas sozinho. Juca queria fazer amigos, queria aventurar-se pelos
céus, queria levar uma vida de urubu diferente.
Seus irmão e pais eram aves fortes
e inteligentes, e isso era muito bom. Porém, Juca gostava era de conversar.
Coisa que não era natural para sua espécie. Os urubus não são bons de papo,
contou-lhe o pombo Arthur. O único amigo de Juca até o momento.
Realmente, a família do Juca era
um tanto calada. Falavam apenas o necessário e, por isso, Juca deixou seu ninho
assim que suas penas cresceram um pouco mais. Ele queria ver se havia alguém por
ali, no seu telhado, com quem pudesse trocar umas palavrinhas.
Foi assim que Juca conheceu o pombo
Arthur que gostava de descansar sentado sobre o parapeito do lado oeste do edifício
onde ficava a casa da família de urubus. Arthur, que voava pela cidade inteira
e era tagarela, contara tudo que sabia sobre a gigante cidade para o pequeno
urubu curioso.
Então, naquela manhã, na qual toda
a família urubu deixou seu ninho no canto leste do telhado para os primeiros
ensaios aéreos dos filhotes, todos bateram suas asas com alegria. E Juca estava
certo de que aquilo seria muito bom. Enfim ele seria livre para ver o mundo!
Toda a família postou-se no
parapeito do prédio e com um salto e batendo as asas deixou sua antiga casa. Papai
e mamãe foram primeiro para mostrar como se fazia. Logo decolaram Joaquim e Gabriela
a imitar seus pais.
Feliz, Juca abriu suas asas. Olhou
para as ruas lá embaixo... Meu Deus! Lá embaixo era longe demais. Coisa que
Juca, que nunca havia subido no parapeito, não sabia.
O mundo começou a girar diante
dos olhos do pobre Juca. E ele achou que morreria tamanho era o medo que
congelara as asas do pequeno urubu. As vistas escureceram e Juca conseguiu
apenas dar um passo atrás e descer do parapeito antes de desmaiar.