O urso Misha é a primeira lembrança
que tenho dos jogos Olímpicos. Incríveis trinta e dois anos passaram desde
aquela noite na qual, meio dormindo por ainda ser uma menina, me encantei com a
abertura das Olimpíadas de Moscou. Aquilo, para mim, foi a coleção de imagens
mais lindas que eu havia visto até então e, seja porque as imagens se misturaram
ao meu sonho ou porque eu era muito pequena ainda, nada me encantou mais até
hoje. Aqueles eram outros tempos. Tempos mais românticos diriam uns, sem tantos
computadores, de um mundo que ainda defendia suas ideologias mais que o dinheiro
e, talvez por isso mesmo, não nos parecia tão pequeno.
Tempos mais tensos diria eu, com
certeza. Vivíamos o terror da guerra-fria, e eu morria de medo de que uma bomba
atômica explodisse a qualquer momento sobre nossas cabeças em meu pânico de
criança, fazendo com que o mundo acabasse numa piscadela de olhos. E, por
aquela guerra de nervos sem bombas, os americanos não foram a estes jogos na
antiga União Soviética. Tempos em que a palavra boicote era usada a cada quatro
anos e, triste e consecutiva, se repetiria numa Los Angeles de
astronauta-de-mentira sem os soviéticos e outros daquele bloco. Vivíamos divididos.
Apesar disso tudo, naquela época,
sentada ao lado de meu pai, nasceu minha paixão e meu vício por esta coisa de
Olimpíadas que vive comigo até hoje; como deve ser para muitos outros. Ou não
há outros que se sentem incomodados pelo fato de não conseguirem assistir a
tudo que ocorre por estes dias? E como não se apaixonar por cenas tão fantásticas
como aquelas? Havia ginastas saltando e girando como se tivessem molas nas
pernas e braços, atletas voando com varas como se a gravidade não existisse em
saltos impossíveis. Havia gente mais forte, mais rápida e mais elástica do que
até então eu já vira. Aqueles eram super-humanos, eles eram heróis.
Claro que com o tempo, e os anos,
a fantasia dos jogos foi desaparecendo para mim. Como deve ser para tudo, ou
quase tudo, nesta vida. Entretanto, ficou aqui uma admiração tremenda pelos
atletas, pessoas que se dedicam e amam ao extremo aquilo que fazem. Amam tanto
e são tão dedicados que dedicam tudo, seus corpos, seu tempo, todos os
esforços, a vida inteira enfim, por um objetivo: ganhar uma medalha e serem, por
algum tempo, os melhores naquilo que fazem. E dá-lhe choro, deles e meu, por ver a
conquista no final de tanto esforço, dor e dedicação. E se o choro for de um
brasileiro, tenho direito a replay com muita emoção porque nestes momentos sou patriota
até o último fio de cabelo.
Então, cá estou eu presa à
televisão, pelo menos no fim de semana, tentando assistir a tudo que passa nos
quatro canais que passam esportes 24 horas por dia. Gostando muito destes jogos
realizados num país que merece, realmente, ser uma sede olímpica. E o merece pela tradição e dedicação aos esportes
desde uma época em que não havia tanto dinheiro envolvido nisso de correr atrás
de uma bola ou acertar uma bolinha amarela com uma raquete nas mãos. Que haja
mais espetáculos como aqueles que já vimos em tantos anos, com pessoas do mundo
inteiro, juntas, a provar que elas são mais do que simples mortais. São geniais.
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